Capítulo 3

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Luci sangrava muito. A mão que foi atingida pela bala do policial estava em péssima situação. Sentada na grama alta perto do trilho do trem, rasgou um pedaço da barra de seu vestido e acabou aumentando a fenda que a permitia andar sem dificuldade. Amarrou o pano na mão que doía horrores e se levantou.

Teria que dar um jeito nesse ferimento.

O problema era que a saúde não era barata e talvez o saque que Luci tinha feito no trem acabaria indo inteiro para pagar o conserto da mão. Teria que recorrer à cidade subterrânea, que era também onde morava.

Tentar um hospital na cidade alta era loucura, nem se ela tivesse roubado cinco trens ela teria dinheiro suficiente para conseguir pagar um tratamento.

Se pôs a andar até uma das entradas do esgoto que davam para a cidade subterrânea, passando pelos dutos de mais de cinco metros de altura e largura, era comum ela cruzar com outros habitantes que circulavam entre a cidade alta e a cidade subterrânea. Eles vestiam óculos de proteção, ternos surrupiados, vestidos rasgados, mas mesmo assim pareciam bem apresentados comparados à Luci, que estava com os cabelos desgrenhados e a cartola toda amassada de ter rolado na grama quando pulou do trem. Teria que dar um jeito em sua aparência, pensou ela. Luci era vaidosa.

Penteando os cabelos com os dedos da mão que ainda lhe restava operacional, ela conseguiu amansar um pouco as mechas loiras que caiam lisas para pequenos cachos em sua ponta.

Terminado o túnel do duto, uma imensa cidade se apresentava debaixo da cidade alta. Casas, bares, lojas e até prédios nunca viam a luz do dia. O céu daquele lugar era concreto, separando as ruas e calçadas lá de cima com o teto da cidade subterrânea.

Luci entrou por uma viela, e acabou dentro de uma rua que abrigava uma feira livre. Lotada de pessoas, os vendedores das barracas vendiam, aos berros, suas mercadorias. Em uma das tendas um robô, com suas engrenagens expostas, anunciava por seu megafone embutido no lugar na boca:

—Compre. Aqui. Suas. Maçãs. Elas. Estão. Cruas — falava com sua voz metalizada.

Um homem ao lado do robô bateu forte em sua cabeça com um soco, e ele que logo se corrigiu.

—Estão. Maduras.

Luci continuou andando entre a multidão. Agora sua mão começava a pingar sangue que escorria por entre o curativo improvisado. Logo no final da rua reconheceu a fachada que estava procurando.

O bar dos Destrambelhados.

Com suas janelas foscas que davam para rua, o lugar com paredes de metal sustentava uma placa grande com o nome para que todos soubessem de sua localização.

Alguns bêbados estavam na calçada sentados ou já estirados, provavelmente expulsos pelo dono do lugar já que não se aguentavam mais em pé. E uma série de motos alteradas mecanicamente estavam estacionadas na frente do estabelecimento.

Luci contornou os embriagados e entrou no bar. Se sentou em uma mesa vazia no meio do salão. Não conseguiu sentar no balcão, como gostava, pois o lugar já estava tomado por uma gangue de motoqueiros, que falavam alto e bebiam grosseiramente.

E Luci não estava com paciência, estava com dor e querendo ir para casa logo.

Sara, a garçonete do lugar, veio logo em direção à Luci para atendê-la. Com seus cabelos ruivos presos em um coque, vários fios ficavam à solta dos lados de seu rosto. Sara era muito bonita, e destoava das caras carrancudas que frequentavam o local.

—Luci — Sara reconheceu a ladra —O que vai querer hoje?

Ela abaixou a cabeça e reparou na mão de Luci que estava pousada em cima da mesa.

Luci: O AssaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora