Maya acordou com uma felicidade que não cabia em seu peito. Hoje era o dia da convenção de Hedy. Estava ansiosa e acordada antes mesmo do despertador tocar. Tinha preparado na noite anterior qual roupa usaria e também deixou sua invenção e todas as folhas do projeto prontas em cima da mesa.
A invenção que garantiu a Maya sua vaga na convenção foi um desintegrador de lixo à pressão. O projeto escolhido foi anunciado no segundo envelope que ela recebeu junto com a devolução das plantas, na carta foi avisada qual era a invenção e o porquê da escolha dela.
O projeto caia como uma luva em todos os quesitos. Tinha uma finalidade para a sociedade, solucionava um problema e era original.
Quando a inventora soube qual se suas máquinas tinha ganhado um lugar na convenção, ela se lembrou que era uma das quais ela ainda não tinha patenteado. Afinal tinha inventado muitos projetos e não tinha dinheiro para garantir a posse de todos eles. Porém ela relevou, "a convenção era um lugar que seria seguro com certeza", pensou ela, e nada aconteceria.
Já vestia uma camisa de manga curta, um colete marrom e calças pretas. Ela prendeu o relógio de bolso que ganhou de seu pai no colete e desejou que o item lhe desse boa sorte. Na convenção grandes empresas e empresários, além de colecionadores, passavam por entre os estandes em busca de novas invenções que pudessem agregar em seus negócios. Muitas vezes os inventores sortudos saiam de lá com uma vaga de emprego garantida juntamente com a venda de sua invenção.
Maya esperava ser um desses sortudos, assim teria uma boa quantidade de dinheiro para financiar mais invenções suas e ainda continuaria trabalhando com o que amava e se garantiria um pouco mais na cidade alta.
Seu pai mandava dinheiro para ela todos os meses, porém não morava perto. Ele morava na cidade subterrânea e Maya mal ia visitá-lo. Ela amava o pai e conversava com ele através de cartas, porém ir para a cidade subterrânea causava um misto muito triste de emoções na inventora. Sua mãe havia morrido lá, e Maya nunca superou. E nunca entendeu porque o pai não acompanhou ela para a cidade alta quando Maya decidiu ir embora.
Ela havia enviado para seu pai uma carta contando sobre a seleção na convenção de Hedy, o que o deixou imensamente feliz. Sua menininha seguiu seus passos e agora era reconhecida. Ele também era inventor, porém fazia tudo o que Maya desaprovava, como armas e equipamentos para malfeitores.
Ela despertou seus devaneios quando ouviu uma batida forte na porta.
—Maya? Está pronta?
Era Dario. Ele tinha se oferecido para levar Maya para a convenção em seu carro a vapor. Ela não tinha condução e aceitar a carona do taberneiro o deixou muito feliz, e ajudou ela, já que teria espaço para levar sua máquina em segurança.
—Sim, pode entrar — disse ela.
O pequeno cômodo em cima da taberna servia de quarto e oficina para Maya. Sua cama e cômoda, herança de sua mãe, ficavam na parede ao fundo junto com a janela e sua mesa de trabalho e algumas estantes com suas peças, plantas e invenções povoavam o restante do lugar.
—Vamos? — perguntou ele.
—Sim — Maya carregava em suas mãos a máquina de desintegrar lixo, apelidada de MADELI, e as plantas do projeto em grandes papéis azuis enrolados.
Os dois desceram para a taberna e Dario deu instruções a Henri, que estava atrás do balcão, que tomasse conta do lugar até que voltasse. O adolescente vestido com avental que organizava as garrafas de bebidas nas prateleiras afirmou com um aceno de cabeça. O lugar estava vazio naquela hora da manhã e provavelmente não teria muito movimento durante o dia. A taberna era mais movimentada à noite, mas provavelmente Maya e Dario já estariam de volta à essa hora, para alívio de Henri que era aprendiz cervejeiro de Dario.
Acomodados no carro, Maya segurava com todo carinho do mundo sua máquina MADELI.
—Acho que nunca te vi tão feliz assim, Maya — comentou Dario, depois de ter dado partida no carro.
O veículo tinha espaço para quatro pessoas, duas na frente e duas atrás, e estava com a capota abaixada.
—Acho que nunca estive tão feliz assim — respondeu ela com um sorriso no rosto.
Foram pelas ruas da cidade alta até o edifício onde seria a convenção de inventores. Muitas pessoas já estavam ali na escadaria que levava ao interior do lugar. Repórteres, convidados e curiosos formavam a multidão.
—Vou achar um lugar para estacionar — disse Dario — Te encontro lá dentro, pode ser?
—Pode sim — Maya falou, e depois que Dario encostou o carro na calçada, ela desceu.
Maya sentiu as borboletas no estômago começarem a voar. Estava finalmente ali na convenção de Hedy. Mas antes teria que enfrentar aquela multidão na escadaria para poder entrar no prédio.
Aquilo era mais do que ela nunca foi. Todas as suas invenções passaram pela sua cabeça. Se ela tivesse mais um desejo para se realizar seria sair dali com um emprego. Amém!
Deu seu primeiro passo, tentou subir as escadas o mais rápido que pode. As pessoas esbarravam por ela, e os repórteres a olhavam fixamente tentando lembrar se aquele rosto era conhecido e pará-la para uma entrevista. Vários flashes disparavam ao seu redor captando o momento com fotos. Finalmente ela chegou na porta do prédio. Era gigante e estava totalmente aberta a convidando para entrar. Somente uma pequena cordinha vermelha presa em dois pequenos mastros a impediam.
Um homem vestido com terno e gravata com uma prancheta a parou na porta.
—Convidada ou inventora? — perguntou ele. Ele mal a olhava, estava com a atenção fixa nas folhas presas na prancheta.
—Inventora — respondeu ela, abraçando mais forte sua querida MADELI.
—Nome?
—Maya Milicent.
O homem localizou seu nome e assentiu com a cabeça.
—Aqui está seu crachá, você está no estande 42. Coloque sua invenção na plataforma e fique o tempo todo do lado dela! Alguma dúvida?
—N-não — Maya se sentiu um pouco intimidada, mas afastou o pensamento da mente, afinal aquele era somente o trabalho dele.
Com um pequeno movimento, o homem tirou a cordinha vermelha e deu passagem para que Maya entrasse no grande salão.
A convenção de Hedy era sediada no museu da invenção, um encontro das novas com as antigas criações. O salão do museu era enorme e sustentava a grande quantidade de integrantes que passeavam pelo lugar. O ambiente estava dividido por estandes que por sua vez eram divididos por cortinas cor de vinho e plataformas de metal que abrigavam cada um invento e ao lado ficava posicionado seu criador, geralmente com um ar imenso de orgulho.
Maya foi andando pelos corredores de estandes e passando pelos inventores que se arrumavam em seus lugares. Demorou um pouco para chegar em seu estande, mas quando localizou o número 42, abriu um sorriso que alguns diriam até que reluziu. Posicionou sua máquina na plataforma e pendurou as plantas do projeto no cavalete ao lado.
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Luci: O Assalto
AdventureEm um mundo Steampunk, Luci é uma ladra que perdeu seu parceiro do crime há pouco tempo em uma briga de bêbados. Tendo que voltar à ativa para se sustentar, ela recomeça sua vida com o que sabe fazer: roubar. Enquanto isso Maya, uma inventora, tem s...