Capitulo 1 Maldição

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Era a décima segunda carta que meu pai recebia nessa semana, um recorde na verdade, eu ficava pensando em quem estaria enviando-as. A carta era assim: não tinha remetente nem nada do tipo, elas apareciam embaixo da nossa porta toda noite, nelas havia apenas selos fechando-as. Meu pai ia com minha mãe para o quarto deles e começavam a lê-las, às vezes meus tios também liam, mas nós, minhas duas irmãs uma de onze e outra de quinze e meus dois primos um de dezessete e outro de nove nem ao menos tocávamos nelas.
Vou explicar como vivemos, sou a mais velha dos menores, tenho dezoito anos completos, eu e minha família, pais, irmãs, primos e tios, moramos no Reino da França, porém não na cidade, somos camponeses, ou seja, vivemos no mato pra ser mais exata, nossas vidas são normais, às vezes as garotas ajudam no campo, mas os homens que fazem mais esse trabalho.

No ano passado minha irmã mais nova ficou muito doente, nosso médico da vila chegou a desistir de cuidados, pois só um tipo de remédio poderia curá-la, sabíamos onde tinha esse remédio, mas tinha um problema, nem em três anos de trabalhos completos minha família iria conseguir o dinheiro pra comprá-lo de tão caro que era. Minha irmã ficou dois meses na cama, sem nem se mover, minha família não falava nada, mas sabíamos que não havia esperança alguma, então veio a ultima visita do médico, ele disse que a Irís não passaria daquele mês senão tomasse o remédio. Pois bem, magicamente, extraordinariamente, milagrosamente e super estranhamente, meu pai apareceu na porta da nossa casa após quatro dias de viagem, com um frasco na mão, ele dizia que era o tão esperado remédio, enfim, preparamos o remédio, demos a minha irmã e em questão de dias ela se curou.
Por incrível que pareça a minha maior emoção no momento não era felicidade, mas sim, dúvida, como meu pai apareceu com o remédio assim do nada, e quem o deu? E a pergunta principal, em troca de que?
Então, atualmente, um ano depois do fato ocorrido, continuamos nossa vida, porém as cartas começaram a chegar, e aumentando a cada mês, até que em três meses de cartas recebidas, meu pai proibiu Irís de sair de casa desacompanhada, e com o tempo, mais cartas e mais cartas, toques na porta misteriosos, até que uma coisa me fez ligar todos os pontos, meu pai arranjou um arcabuz, só ele, meus tios e minha mãe que sabem, porém em uma noite eu percebi ele ir até a porta com a arma depois de uma das batidas anônimas. Depois disso, liguei tudo e descobri que meu pai arranjou o remédio com alguém sujo, alguém que cobrou um custo caro que meu pai ainda não havia pagado e nem poderia, e agora o cobrador estava vindo atrás do meu pai, mandando cartas e nos perseguindo, ou seja, minha família corria perigo.
Em uma tarde ensolarada minhas irmãs, eu e meus primos estávamos brincando em uma clareira perto de casa a vista de meus pais, em meio à correria acabei derrubando minha irmã menor, imagine, eu uma garota de 18 anos empurrando uma menina de onze, tudo bem que foi sem querer, mas ela acabou se ralando, então fui socorrê-la.
- Garota burra! Não sabe brincar direito não? - minha mãe gritava enquanto puxava meus cabelos castanhos, cacheados e longos.
A é! Esqueci de mencionar o quanto a minha família tinha ódio de mim, todos eles me tratavam mal, menos minha irmãzinha, por mais que eles me odiassem, eu amava a todos sem exceção.
- Calma mãe, foi sem querer eu juro - e ela me arrastou até dentro de casa, o resto da família veio junto.
- Nem parece uma mulher, qual seu problema? - essa era minha tia Serena.
- Foi sem querer eu juro, pergunte a Irís! - meus olhos enchiam de água.
O resto da sala me olhava com desaprovação, menos minha irmãzinha que tentava como sempre achar as palavras pra me defender, então uma pessoa veio a minha frente, meu pai... Era o pior de todos...
- Nessas horas que sei que a bruxa que fez suas profecias estava certa, nasceu pra ser uma praga na família - então ele me levantou pelos braços e me olhou bem -, tenha certeza garota que se fosse você no lugar da sua irmã no ano passado eu não correria atrás de nada! Nada!
Então pronto, eu já estava chorando, aquelas palavras da minha família doíam dez mil vezes mais do que uma faca apunhalada nas costas.
- Me perdoe por ser uma decepção pai... - então corri para cama e deitei.
E as vozes continuavam, falando sobre minha profecia e coisas do tipo, não sabia se devia acreditar no que uma bruxa qualquer falou sobre mim. Então após meu choro na cama, acabei caindo no sono por umas duas horas, após um tempo acordei com uma barulheira na porta.
- Hoje era o trato Julian! Onde está meu dinheiro?
- Eu disse para esperar e também mandei você não pisar na minha porta!
Fui até a sala e vi toda a minha família observando meu pai e o suposto homem discutirem, obvio que foi ele que vendeu o remédio que salvou minha irmã pro meu pai. Após eu chegar os dois começaram a falar mais baixo e meu tio se intrometeu indo até eles.
- Louis - cochichei pro meu primo mais velho.
- O que ta acontecendo Ems?
Meu primo mais velho e eu éramos os mais espertos dos menores, por mais que eu sabia que ele também não gostava muito de mim, ele tentava deixar isso invisível.
Em meio à conversa dos mais velhos, nós os menores nos juntamos separadamente pra conversar.
- Louis, sabe de algo que não sabemos? - esse era meu primo menor, Oliver.
- Sei o mesmo que vocês - ele me encara -, não é Emma?
Era melhor eu contar a eles o que sei, porém nem todos deviam saber.
- Michele leve a nossa irmã menor pro quarto agora.
- Não! Ela tem direito de saber, e desde quando você manda em mim garota?
Minha irmã do meio era meio temperamental, brava e revoltada, então pra que brigar?
- Certo, vou falar assim mesmo - olhei em volta da sala e percebi que dessa vez todos os adultos estavam juntos -, acho que esse homem vendeu o remédio que curou a Irís pro papai e ele não pode pagar, agora ele está nos ameaçando.
- Você perdeu a cabeça irmã?
- Não Michele, acho que sua irmã tem razão, pense bem - enfim Louis me deu fé -, nossos pais andaram muito mais protetores e ressentidos nos últimos meses.
- Então corremos perigo irmã?
- Não sei Irís... - certamente corríamos, mas não iria preocupar minha irmãzinha não é?
Então fomos interrompidos por um grito da porta.
- Chega Julian! - todos olham para o suposto vendedor histérico - Eu já esperei tempo demais! Você e sua família têm até amanha pra me pagar, ou vão sofrer as consequências.
O homem deu uma olhada ameaçadora pra Irís e depois foi embora, os próximos minutos foram dos mais velhos discutindo o que fazer e como fazer, até meu pai nos explicar tudo o que aconteceu, não ficamos nem um pouco surpresos já que eu tinha descoberto tudo.
- Tio Julian, não tem mesmo como pagar?
- Se desse pra pagar seu tio já tinha pagado né garoto burro! - no fundo no fundo eu tinha vontade de bater no meu tio Alexander.
Depois de uns minutos de meu pai ter pensado e falado com os mais velhos, eles vieram até nós e pareciam decididos.
- Vamos embora imediatamente!
- Não pai! Deve haver algum jeito! - tola eu de tentar mudar o pensamento de meu pai.
Ele virou a cabeça pra mim devagar e então fez um breve sorriso sarcástico, a sala se aquietou totalmente.
- Sim querida Emma, há um jeito - ele veio andando até mim -, o jeito é você calar a sua maldita boca agora.
Quando percebi, eu já estava no chão com o meu rosto marcado com um tapa.
- Papai não bate nela...
- Você não entende Irís querida - meu pai deu um beijo nela -, ela é uma maldição ambulante não lembra?

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