"Nada mais é como antesBem fácil o bastante pra ver
Difícil entender
Que o Sol de hoje
Não é mesmo de ontem"
(Amor e Fé - HUNGRIA)
ALEXANDRA ROMANI
― Cadê o Alan, porra! Nós não vamos sair daqui enquanto ele não aparecer. ― Um dos bandidos grita, apontando a arma para a vovó. Um homem negro, com a testa coberta de suor, vestido inteiro de preto a não ser pelo boné de tricô azul e rosa ― Fala logo, velha, cadê o Alan?
Meu corpo amolece cada vez mais e tudo parece girar à minha volta.
― Eu... eu... não sei! ― Vovó gagueja aos prantos.
― Canivete, desce você e o Presunto no andar de baixo procurar o safado do Alan ― O líder gira a arma apontada para avovó e aponta para mim ― O chefe falou que ninguém podia encostar na novinha, por que a cadela tá assim?
― Deve tá fingindo...
O fedorento que me segurava aperta minhas mãos mais firmes não deixando meu corpo ceder para frente.
― Me deixa... me deixa sentar... um.. um pouco, por favor ― Imploro para o fedorento que antes de me soltar brutalmente pede para seu chefe.
Do jeito que caio, eu fico no chão, não conseguindo movimentar meu corpo dolorido e ensanguentado.
Estelinha chora mais alto, berrando no colo da minha mãe, fazendo o outro bandido colocar a mão no ouvido e virar em direção da mamãe.
― Cala a boca dessa menina se não eu vou calar, madame. Não aguento mais ouvir esse berro!
― Eu preciso ficar de pé e balançá-la. Sentada ela não vai parar, senhor. Está assustada, não tá vendo?
Mamãe continua tentando, mas é praticamente impossível. Os gritos de Estelinha são tão altos que é capaz de conseguir atrair atenção da vizinhança.
― Faça o que for necessário, madame, mas cala a boca dessa menina se não vou dar o meu jeito.
Mesmo com o corpo dolorido, viro a cabeça procurando alguma saída, alguma ajuda, mas estava tudo cercado e fechado. Meu desespero aumenta ao ver Bene no sofá, sozinho, completamente em pânico com o barulho, segurando os ouvidos e os olhinhos fortemente fechados.
― Bê.. ― Sussurro, tentando chamar atenção dele ― Ol.. olha para a Lexy ― Forço meus olhos a ficarem abertos, por ele. ― Be...ne.
Meu irmão abre os olhinhos cheios de lágrimas, virando o rosto afundado na almofada do sofá, e meu coração parece sangrar com seu olhar de desespero.
― Vó... vó o Be...ne... ― Estelinha berra alto mais uma vez. ― A-ajuda...
― CALA A BOCA DESSA MENINA CARALHO! ― O líder, o tal de Trovão, dá dois tiros para cima, atingindo o teto, fazendo mais barulho ainda. Porque ninguém aparecia para ajudar? ― Não aguento mais esse choro!
Ele se aproxima da minha mãe e tenta pegar Estelinha, mas mamãe não deixa e eles começam uma luta de braço e gritos.
― Ma...ma...mãe...Não!... ma...
― Rosa, não!
Passos barulhentos sobem do andar de baixo.
― Trovão, olha só quem estava lá embaixo escondido enquanto a família sofria na nossa mão? ― O tal do Canivete fala, arrastando Alan pelos cabelos.
― Só um covarde para se esconder embaixo da saia de um bando de mulher sabendo que tava em perigo, né Alan?
Eles jogam meu irmão, todo ensanguentado do meu lado.
Nossos olhos se cruzam e lágrimas jorram pelo meu rosto.
Alan, que merda que você foi fazer!
― Des..culpa... ― Estico minha mão para pegar a dele, trêmula, mas não consigo alcançá-lo. Os bandidos levantam Alan, apontando a arma em sua cabeça ― Quer morrer aqui na frente da família inteira ou longe de todos? ― Gargalha ― Como se isso fosse sua escolha né podrão. Ai Alan, você é um podrão mesmo! Depois de tudo que fez...
Eles seguram Alan pelos cabelos e o arrastam até a porta, deixando rastro de sangue por todo o chão.
― Espera um pouco, quero me divertir mais um pouco. O que vocês acham, cambada? ― Trovão rosna. ― Pedreira, pega a vadia.
Sou arrastada até a porta de casa pelo fedorento que não saiu de perto de mim, quando minha mãe corre e entra na frente impedindo. Seu corpo está gelado, mas ela se coloca em minha frente, como um escudo.
― Não! Você não vai levá-la!
Canivete aponta a arma para a cabeça da minha mãe.
― Sai da frente, mulher, ou não vou ter piedade. Você já nos tirou do sério com os berros e a criança.
― Não saio! Largue a minha filha, filho da puta!
A confusão é extremamente grande e piora em questão de segundos.
Alan grita para minha mãe sair da frente, o bandido grita com a mamãe, ela grita de volta que "não" sem parar e me segura atrás de seu corpo, nos virando rapidamente em direção da escada, piorando a minha tontura. O barulho é ensurdecedor e minha visão volta a se tornar turva.
― NÃO! ― Alan grita ― VOCÊ A MATOU! VOCÊ A MATOU FILHO DA PUTA!
― FODEU, Fodeu! Vamos vazar daqui. FORA! FORA! FORA!
― Alexandra! ― Vovó grita ― Ajuda! Alguém ajuda! AJUDA!
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Coração de Aço
RomanceO que o tempo é capaz de fazer com um coração quebrado? Alexandra Romani é uma estudante de direito, que desde muito nova luta para ajudar a sua família a mudar a sua situação difícil de vida. Ela nunca soube o que era viver realmente, saindo de ca...