❦︎𝓒𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 2 "𝓥𝓸𝔃𝓮𝓼 𝓮 𝓣𝓾𝓶𝓫𝓪𝓼"❦︎

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✞︎Indicação musical:
Summertime-Mareux✞︎

Apesar do estranho acontecido ainda estar fresco em minha mente eu tinha algumas coisas a fazer e não tive tempo de investigar nada nos últimos 3 dias que se passaram do ocorrido, neste momento as vozes se encontravam piores que o normal graças a barulheira anormal que estava acontecendo durante o almoço, pelo que entendi a igreja havia mandado alguém importante para cá que chegaria amanhã, mas não estava me importando, eu precisava sair dali, caso contrário eu teria uma crise.

Me levanto da mesa em estado catatônico e ultrapasso correndo as grandes portas de madeira escura que levavam direto ao pátio da Abadia, podia escutar sussuros assustados atrás de mim e até alguém me chamando, mas eu não ligava para nada neste exato momento.

Depois de alguns minutos de corrida me encontrava respirando com dificuldade escorada em uma das lápides do pequeno cemitério que eu cuidava, o lugar era quase todo tampado da vista de pessoas, assim podendo permanecer em paz pelo tempo que fosse, assim como de costume começo a tirar ervas daninhas, folhas e limpar algumas lápides do lugar, a calma alí era sempre bem vinda e como sempre a sombra estava ali, nada fora do normal até agora:

....: "Sinceramente você me preocupa as vezes!"

Rapidamente me levanto assustada da onde me encontrava sentada e encaro a minha volta, a voz claramente é masculina, com uma entonação extremamente grossa, mas mesmo assim calma, o único problema era que na abadia não se residia nenhum homem, a não ser alguns padres e nenhum deles tem está voz, eu claramente me lembraria, a única opção que me resta é o ser em minha frente, a sombra:

Maria: "Você falou?"

Novamente aquela coisa permanece em silêncio e eu desisto de tentar tomar alguma informação dele, assim vou para onde deveria ter ido algum tempo atrás, a biblioteca.

Subindo as escadas escuras em caracol finalmente chego até o último andar, onde se encontrava a grande biblioteca e começo a caminhar em direção a uma mesa vazia pegando alguns livros sobre aparições, fantasmas e tudo o que poderia servir para minha pesquisa, o local possui cheiro de lavanda, mas mesmo assim não deixava um ar bem vindo no ambiente, existiam certos cantos ou frestas que pareciam ter uma escuridão sem fim e aparentavam sussurrar coisas, além de claro um cheiro podre vindo destes lugares, por isso escolho um canto bem iluminado do ambiente para começar minha leitura.

𝐀𝐥𝐠𝐮𝐦𝐚𝐬 𝐡𝐨𝐫𝐚𝐬 𝐝𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬...

Era inútil, tudo que eu havia lido não se encaixava com o acontecido ou com a entidade que agora estava em meu lado esquerdo me observando, meus olhos ardiam por ter lido tanto e o cheiro de lavanda foi logo substituído por um cheiro podre insuportável e o ambiente pareceu escurecer mais e mais, logo não se encontrava ninguém na biblioteca, a não ser uma garotinha vestida de branco que estava saltitando no final do extenso corredor bem onde se encontrava a entrada para o que chamávamos de ala sombria, tinha sido apelidada com este nome muito antes da minha chegada, se tratava das estantes aonde os livros sobre entidades demoníacas e cultos de origem satânica estavam, dizem que quando foi instalado a luz elétrica na abadia, nenhuma luz conseguia resistir naquela ala, todas acabavam por quebrar do nada, sem nenhuma explicação lógica, até Narcisa tentou recolocar luzes lá, das mais atuais possíveis, sendo até de led, mas elas simplesmente queimaram mesmo estando na garantia, o que piorava ainda mais o ambiente era a falta de janelas, que também dizem ter sido colocadas no começo da construção da abadia a séculos atrás, mas assim que a construção foi finalizada, as janelas dali simplesmente desapareceram.

Eu sabia a merda que estava fazendo ao seguir aquela garotinha para aquele lado da biblioteca e sabia ainda mais que ela realmente não era uma garotinha, mas minha sede por respostas acabava por ser maior que meu inútil senso de perigo que eu raramente ouvia, sinceramente ainda não sei como não acabei morta, pelo menos fui esperta o bastante para levar uma única vela acesa para lá.

Assim que desço o pequeno lance de escadas tudo vira um breu e o cheiro de podridão me faz quase espirrar, eu entendo que esse lugar não é limpo faz anos, mas eu juro que isso não é cheiro de sujeira, parece que alguém morreu aqui, a pequena garotinha ainda estava saltitando em minha frente sorrindo, eu juro que podia ouvir suas risadinhas e gargalhadas e o barulho dos seus pulinhos constantes, ela possuía olhos arregalados e um sorriso com um misto de alegria e desespero, mas então simplesmente sumiu da minha visão correndo para trás de uma estante com uma madeira tão escura que parecia preta, me aproximando com certa cautela, tanto pelo medo quanto para não me queimar com a vela, por ser um pouco desastrada demais.

Assim que me aproximo noto uma poça de líquido preto no chão, aparentando muito ser piche, mas obviamente não era, olhando novamente para a estante percebo que o líquido vem dela, escorrendo pela madeira e pingando no chão, assim devagar pego um pouco em meus dedos e levo ao meu nariz, aquele líquido viscoso possuía um cheiro fortíssimo de enxofre e isso não era um sinal bom, afinal enxofre era ligado a possessões demoníacas e entidades malignas de acordo com a igreja.

Enquanto eu ainda tentava juntar as peças, aquele líquido simplesmente começa a transbordar da estante e cair no chão respingando em minha roupa e então um livro de capa dura extremamente pesado parece escorrer junto da estante caindo no chão bem encima da poça e fazendo praticamente voar líquido na minha cara e me sujar inteira, comigo xingando o mais baixo que posso.

Me ajoelhando para olhar melhor o livro em meus pés, noto que por incrível que pareça ele está limpo, sem nenhuma mancha do tempo ou outra coisa e ainda seco, mesmo tendo caído sobre a poça, ele não possuía título, só sendo uma simples capa preta que aparentava ser de couro, mesmo tentando levantar o livro com uma mão só, isto era impossível devido ao seu peso, mas assim que levanto do chão para pensar o que fazer a respeito, a garota sai de trás da mesma estante com uma cara deformada gritando e berrando enquanto podia escutar diferentes tipos de risada em minha volta.

Ela pula sobre mim, agarrando meu pescoço e tentando me enforcar, a vela acaba caindo no chão e se apaga enquanto tento desesperadamente soltar suas mãos do meu pescoço, mesmo aparentando ter menos de 10 anos, a garota tinha uma força descomunal e me empurrou na estante me fazendo bater a cabeça e cair no chão agonizando,  podia sentir suas pequenas mãos puxando meus cabelos longos e pretos, mas então um barulho alto se fez presente, parecendo que algo havia colidido em uma das prateleiras próximas e o cheiro terrível de cadáver foi substituído pelo de rosas e velas, não sentia mais as pequenas mãos em meus cabelos e nem o desespero e terror de antes.

Eu sabia muito bem quem havia tirado aquela garota de cima de mim e não precisava de luz alguma para saber, aquela maldita sombra me ajudando novamente:

....: "Sshiiuuu, vai ficar tudo bem, eu vou te tirar daqui!"

Grandes e fortes braços rapidamente me envolvem e sou colocada no colo daquele ser, ao contrário de suas mãos , seu corpo era bem quente e parecia grande, apesar de não enxergar eu chutaria facilmente que ele teria quase dois metros de altura e então me sentindo uma criança sou levada para o que aparenta ser a saída e finalmente poderei descobrir quem é este ser, mas como se soubesse o que eu estava pensando posso escutar uma risada vinda dele e rapidamente sou tomada por um sono quase imediato enquanto ainda posso ver uma fraca luz no final do corredor e um forte peso depositado em meu estômago, além da sensação de um beijo em minha testa e um sussurro de boa noite em uma orelha direita.

Angelus LapsusOnde histórias criam vida. Descubra agora