ꨄ︎𝓒𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 1 " 𝓐 𝓼𝓸𝓶𝓫𝓻𝓪"ꨄ︎

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✞︎Indicação Musical:Voices- Motionless in white✞︎

Eu não gosto muito deste lugar, aqui é frio e solitário, mas sou obrigada a permanecer aqui graças ao meu querido pai .

Bem vamos voltar ao começo de tudo , para uma garota perdida em seus pensamentos , em minha frente estava um grande bolo de aniversário, duas velas com glitter perfuravam o gracioso e apetitoso bolo ,mas não o queria , o número 15 cintilava enquanto a cera escorria, meu pai sorria falsamente ao meu lado e minha mãe cantava parabéns animada , eu sabia que dentro de uma semana seria enviada para aquele lugar, onde fui prometida ao senhor desde meu nascimento , não tinha escolha , nunca tive .

Quatro anos já se passaram e eu continuo tendo arrepios só de lembrar desse dia , o vento frio da manhã bate em minha face fazendo-me lembrar o motivo de estar acordada está hora da madrugada , meu hábito já estava em meu corpo enquanto alisava-o para certificar que a Abadessa não puxasse minha orelha à está hora, aproveitando rapidamente minha animação subita caminho pelo extenso corredor e abro a porta dupla de madeira maciça , as vozes e sussurros se fazem presentes como sempre e sei que nunca estou sozinha neste lugar.

Ajoelhando-me no chão frio e triste, certifico de parecer realmente estar orando, minhas mãos juntas e meus lábios pronunciando palavras inaudíveis para a farsa perfeita :

....: "Está atrasada senhorita Maria, creio que seu amado sono tenha excedido está manhã, talvez seja pelo fato de seu passeio noturno ter durado mais que o normal!"

Meus pelos se arrepiam e me viro devagar já sabendo quem era a temida dona da voz cansada e mandona , Narcisa , a idosa senhora que deveria estar no cargo de Abadessa muito antes do meu nascimento estava agora me encarando com sua feição cansada,brava e enrugada.

A senhora em minha frente não era de origem romena e sim italiana, mandada pelo próprio vaticano para este lugar velho e esquecido ao tempo, bom acho que neste quesito ela combina com o local por assim dizer:

Maria: "Desculpe-me pelo atraso senhora Narcisa, creio que acabei por pensar demais nesta manhã fria e escura, isto não acontecerá novamente senhora!"

Seu rosto continua na carranca habitual apesar de toda educação que acrescentei nas minhas palavras, a verdade é que acabei por ver um vulto branco passando por entre os túmulos no cemitério da abadia enquanto praticava minha caminhada noturna após a janta e por pura curiosidade resolvi seguir a visão.

Para ser exata eu nunca sei se o diagnóstico do médico realmente estava correto ou se eu simplesmente vejo espíritos, mas ao decorrer de toda minha vida acabei por me acostumar as vozes que sussurram em minhas orelhas, nas frequentes visões e vultos, nos pesadelos que acontecem todas as noites e principalmente nele, a grande sombra negra que vejo me seguindo praticamente o dia inteiro, desde o amanhecer até o anoitecer, ele sempre está lá, diferentes das outras visões, ele nunca sai de perto, nunca corre, nunca conversa e não consigo de jeito algum ver sua face, ele é sempre um grande borrão preto em minha visão, apenas isto, então resolvi deixar pra lá, afinal nunca me fez mal algum.

Voltando para Narcisa e sua linda cara de cu, ela simplesmente não me responde e vira as costas me deixando ali mesmo, acho que ela já desistiu de mim para ser exata, eu não sou lá uma noviça muito obediente e tenho certeza que darei uma freira horrível, não é como se me importasse de qualquer maneira, afinal estou neste lugar obrigatoriamente.

Terminando aquele pequeno fingimento pela manhã me encontro correndo até a grande cozinha de pedra daquele local, afinal uma das minhas tarefas é preparar o almoço, infelizmente Narcisa tinha descoberto meus dons culinários e desde então eu faço o almoço.

Logo estava seguindo o grande corredor onde se interligava a maioria dos cômodos do mórbido local, como sempre o silêncio deste lugar me arrepiava a espinha, toda a falta de barulho fazia as vozes ficarem mais altas e frequentes, mas eu precisava ignorar, então sigo rapidamente para a última porta daquele andar do convento, neste caso me encontrando na cozinha assim que abro a pesada porta maciça de carvalho.

O ambiente era igual aos outros, extremamente silencioso e cinza, parecendo estar morto e então olho para o lado vendo que a sombra já estava dentro do local e  sigo para pegar alguns tomates e cebolas para iniciar a preparação do almoço, logo eu começo a conversar com a mesma sombra que sempre me segue, eu sei que não terei êxito em uma conversa, mas pelo menos enquanto eu me distrair as vozes são mais fáceis de suportar.

Pegando uma grande faca de cozinha para cortar as cebolas, acabo me distraindo com um lindo passarinho que havia pousado na janela e corto um pouco meu dedo, não estava tão feio, só pingava um pouco de sangue, mas pelo jeito alguém não concordava com a minha observação .

A grande sombra negra que como sempre estava me seguindo se aproximou pela primeira vez desde que estou aqui , um cheiro muito forte de rosas e cera derretida penetrou meu nariz, me fazendo rapidamente lembrar do cemitério da minha cidade natal, já que o cemitério da abadia era eu quem cuidava e quase não recebia visitas de ninguém, assim só possuindo o cheiro de terra molhada, mas então minha distração com aquele cheiro é rapidamente dicipada quando uma mão extremamente fria segurou meu pescoço e me fez ficar paralisada, não conseguia de forma alguma virar para trás por conta da imobilização do meu pescoço e então enquanto permanecia sem ao menos respirar alto demais, aconteceu algo que nunca havia pensado.

A outra mão daquela coisa, seja lá o que for, estava sobre minha mão esquerda, a que possuía o corte e seus dedos frios relaram na ferida curando o pequeno machucado instantaneamente, a mão que está estava segurando a minha possuía um grande anel vermelho no dedo indicador, uma tatuagem escrita em latim estava presente no centro da mão , onde se podia ver escrito "immundus", que possuía o significado de impuro, sujo ou imundo em latim, em um rápido movimento consigo virar, mas sou recebida por um grande nada.

A grande sombra agora estava afastada e nada havia mudado em sua forma, mesmo eu tendo ficado encarando-a por um certo tempo, assim que me encontrava virada para o ser, aquele cheiro de cemitério tinha sumido rapidamente, me deixando apenas com um frio sobrenatural e um grande peso na alma, mas pelo menos os sussuros em meus tímpanos haviam sumido.

O que exatamente estava acontecendo aqui? O ser não era realmente uma sombra, era outra coisa?

Angelus LapsusOnde histórias criam vida. Descubra agora