Prólogo: I will survive.

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Now Playing: I Will Survive - Gloria Gaynor

Eu odeio segundas-feiras.

— Eu gosto de outra pessoa.

Travei e senti aquelas palavras como um baque, mesmo tendo imaginado aquela cena na minha cabeça milhões de vezes e repassado como uma possibilidade muito concreta. Park Sunghoon e o multiverso da ansiedade.

Ainda assim, aquilo doeu e tive que me esforçar para segurar o choro se formando em minha garganta. Eu não sou chorão.

Diferente do rapaz a minha frente que desabava em lágrimas, o que me pareceu contraditório, pois quem tinha acabado de ter as expectativas completamente destruídas fui eu.

Lee Heeseung era um dos caras mais legais que eu já conheci, com um físico quase perfeito em seus 1,80 de altura, cabelos bem cortados e pintados em preto, olhos um pouco grandes e nariz arrebitado. Ter sido o primeiro a fazer amizade com ele no meio do segundo período de biomedicina foi minha realização pessoal daquele semestre, trocar uns beijos aqui e ali quando o laboratório estava vazio também, mas talvez meu maior erro tenha sido levar ele para a minha cama.

— É, eu imaginei — respondi, sem conseguir expressar verdadeiramente o que estava sentindo.

Ele estava chorando bastante, o que acabou chamando a atenção do resto dos clientes da lanchonete. Por isso, num fio de solidariedade e pena, me movi para a cadeira ao lado dele, estando antes de frente para ele, e passei gentilmente uma das mãos por suas costas, para confortar.

Estávamos naquele rolo há uns três meses e eu resolvi ser sincero sobre querer algo mais do que só encontros casuais e sexo sem compromisso. Heeseung demorou uma semana para me dizer o que queria de fato, disse que precisava pensar e eu o dei o espaço para pensar, já sabendo que era muito provável que eu não fosse correspondido.

Dizer que eu estava completamente apaixonado por ele era um baita de um exagero, mas ele ainda era quem tomava boa parte dos meus pensamentos e o motivo dos meus sorrisos mais idiotas. Eu queria arriscar, e acabei quebrando a cara de novo.

— Me desculpa, Sunghoon — ele parecia realmente chateado.

Um dos traços de Lee Heeseung era ser extremamente sensível e provavelmente essa era uma das coisas que tinha me conquistado nele, talvez por esse motivo seu choro não me incomodasse, mas ainda fazia eu sentir que ele era meio idiota.

— Não precisa se desculpar — continuei acariciando suas costas — Está tudo bem.

— Não — ele soluçou e mais olhares se voltaram para nós — Eu não quero te magoar, eu só não consigo.

Dizer que sim, ele já tinha me magoado não ia resolver nada, por isso suspirei e permaneci em silêncio, fazendo o possível para que ele parasse com aquilo.

Embora me preocupasse, pois soubesse que para ele a ideia de machucar outra pessoa fosse praticamente o fim do mundo – já que ele era daquele tipo que acreditava poder se dar bem como todo o mundo e evitava conflitos ao máximo –, eu também precisava ficar um pouco sozinho e pensar no que tinha acabado de acontecer.

Não era nenhuma comoção levar um fora, já tinha tomado alguns, contudo, eu precisava do meu espaço e ficar ali o consolando me pareceu tão patético que estava começando a me incomodar.

— Heeseung — o chamei, vendo ele virar os olhos inchados para mim. Ele tem olhos tão fofos — Está tudo bem, de verdade — eu forcei um sorriso — Eu preciso ir agora.

— Eu sei que é hipócrita da minha parte — ele fungou — Mas espero que sejamos amigos.

Também odeio essa frase. Todo termino vem acompanhado dela e no final nunca dá para "sermos amigos". Mesmo assim, sorri o mais sincero que consegui, o que não deve ter sido muito, já que sou péssimo em disfarçar minhas emoções, e reprimi o impulso de dizer que era mesmo hipócrita, me levantando.

Game Boy | jakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora