Game Boy | jakehoon

The ones that you can't tell anyone.

Now Playing: Can't Tell Anyone - Crimson Apple 

Estávamos todos sentados, divididos nos sofás da sala, afundados em um silêncio maçante, encarando uns aos outros e sendo acompanhados apenas pelo som das fungadas baixas de Yeji, que não tinha parado de chorar desde as seis da manhã.

Bahiyyih tinha acordado um tempo depois de eu ter passado mais de meia hora compilando a Hwang, que ficava se xingando sem parar, repetindo o quanto era burra e molhando o ombro da blusa que eu sem-querer-querendo roubei do Jake, enquanto isso eu afagava seu cabelo. A Huening queria esvaziar a bexiga, mas perdeu a vontade de fazer xixi assim que nos viu e soube da situação por Yeji, entre mais muitos soluços.

Eu liguei para a farmácia mais próxima pedindo um remédio para enjôo, o que demorou um pouco para ser atendido porque o comércio só começou a funcionar depois das oito da manhã no domingo. Quando todos chegaram, Yeji já tinha se medicado, tomado banho, e Bahiyyih tinha feito questão de incentivá-la a comer nem que fosse só para não ficar com o estômago completamente vazio. 

— Quem é o pai? — foi a única coisa que Hyunjin disse desde que todos se sentaram.

— Meu namorado — ela negou com a cabeça. Sua voz estava ainda fanhosa e um tanto embargada. — É o único com quem eu me relacionei no último ano, mas…

— Nada de mas. Ele tem que saber e assumir — Hyunjin bufou.

— Ou… — o olhar de Chaeryeong vagava em algum ponto não específico do chão, o que percebi ser um costume mais comum do que eu pensava. — Você pode-

— Não — Yeji direcionou os olhos avermelhados a ela, negando outra vez. — Isso nem passou pela minha cabeça.

— Mas saiba que se quisesse, ou quiser, eu te apoio. 

— Eu só me pergunto como você pode ser tão descuidada — Kai soltou uma respiração incrédula e recebeu os olhares feios de todos nós por seu tom inapropriado.

De todos ali provavelmente era de quem eu era menos próximo. Ele ter um quarto só para ele e passar tanto tempo trancado lá contribui um pouco para isso, e uma das coisas que eu evitava nele era seu jeito revoltadinho de lidar com as coisas quando elas não saíam do seu jeito. Era irritante e exatamente o que ele estava fazendo, além de ser errado.

— Essa é a realmente a questão agora? — Yeji estreitou os olhos na direção dele, erguendo as sobrancelhas. — Eu não fiz nada sozinha.

— E por que a gente simplesmente nunca soube quem esse cara era? — Rebateu. 

E embora eu não entendesse ou concordasse com o tom repreensivo, era uma questão válida e até então sem uma boa resposta. 

Todos os nossos "casos" ou quase relacionamentos eram de conhecimento geral ali dentro. Mesmo que nunca nos tivesse sido apresentado formalmente – só a mim, talvez – todos nós já tínhamos visto Lee Felix e Shin Ryujin pelo campus da universidade, e até mesmo trocado alguns cumprimentos com ambos. Todos tinham plena consciência de Heeseung enquanto estávamos juntos, todos souberam de Jake quando ele estava com Chaeryeong – mesmo que lembrar disso me dê ânsia de vômito – e se Bahiyyih e Kai nunca nos apresentaram alguém, provavelmente era por serem casos muito rápidos.

Mas o namoro da Yeji era um mistério. Talvez ela tenha se aproveitado da nossa falta de interesse quanto ao cidadão, porque estávamos todos muito ocupados com a nossa própria bagunça e ela também não tinha tanto tempo para ficar em casa e termos esse tipo de conversa.

O que, é claro, muda completamente o cenário, é uma gravidez. Principalmente uma indesejada.

— Por que ele não quis — ela passou as mãos pelos fios ainda úmidos. — No começo eu quis respeitar, mas sei que agora ele só está me enrolando por alguma besteira.