I confuse the rain whit my memories.

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Now Playing: Right Here - Chase Atlantic

Com treze anos, eu tive minha primeira paixão, e foi um desastre. Eu queria passar o resto da minha vida com aquele garoto, mesmo que não tivesse a menor noção de quanto tempo era o resto de uma vida. — Ou que eu tivesse um gosto muito questionável naquela época e hoje me arrependesse amargamente.

Ele era um ano mais velho, era alguns centímetros mais alto e como todo garoto daquela idade, tinha cabelo castanho, algumas espinhas começando a se formar também, mas na minha cabeça apaixonada, ele era a pessoa mais linda do mundo. Naquela época ainda era algo muito menos normal ser gay do que hoje em dia, por isso, quando conseguiu me enrolar até me beijar por algumas semanas no fundo da quadra, quando ninguém mais estava olhando, ele simplesmente me bloqueou em todas as redes sociais e parou de falar comigo.

Eu sabia que ele tinha um problema com beijar outro garoto, eu também tinha, acho que todos tínhamos, eu tinha treze anos, afinal e, além de ser minha primeira paixão (aparentemente) correspondida, ele também foi meu primeiro beijo e a real constatação de que eu também gostava à beça de garotos. Mas, para mim nós ficaríamos juntos e enfrentaríamos o mundo, porque, modéstia a parte, eu era um romântico meloso e incorrigível.

Alguns dias depois ele tinha espalhado para a escola inteira que tinha me visto beijando um garoto em um dos intervalos e meu próximo ano foi um inferno.

Ele se safou porque estava no último ano e nos envolvemos faltando menos de dois meses para o fim do ano letivo. Eu nunca disse para ninguém que era ele quem eu estava beijando porque soaria patético, até para mim, que na época tinha dois amigos que sabiam, tanto da minha sexualidade quanto do casinho com ele, mas quando o boato se espalhou pararam de falar comigo. Também, porque ele era filho de uma funcionária, a qual se eu dissesse algo só refutaria com a desculpa de que eu queria me safar e espalhar calúnias sobre o filho dela.

Tudo desencadeou problemas familiares, castigos, conversas difíceis, muitos gritos e choro, alguns tapas, crises existenciais e de ansiedade, bullying e piadas ridículas envolvendo pintos e um Sunghoon que mal comia. Tudo até Jay ter coragem de se assumir também e nossos pais decidirem que nós éramos um caso perdido.

Quando eu tinha catorze e ele quinze, nós dois nos tornamos oficialmente a vergonha da casa e nossos pais nos mandaram morar com os nossos tios, depois de minha tia quase ter brigado feio com eles por fazerem o que estavam fazendo, e nos mudamos de cidade, o que em partes, tornou minha vida normal de novo.

Não sei exatamente porque pensava nisso enquanto dedilhava, tediosamente, meu violão velho e surrado. Fazia uma semana desde que Heeseung tinha "terminado" comigo e eu ainda me sentia meio deslocado, por que dividimos algumas aulas e isso com certeza devia ser algum tipo de tortura.

Há dois dias, depois de contar para todos no apartamento os mínimos detalhes da nossa conversa curta e triste, admiti para eles e para mim mesmo que, talvez eu estivesse sim apaixonado por ele, e isso podia ser o fruto da melodia melancólica provindo das cordas do instrumento em minhas mãos.

— Sai dessa fossa, Hoonie — Hyunjin pediu da parte de cima do beliche, pondo a cabeça para baixo.

Eu soltei uma risadinha, mesmo continuando a tocar.

— Não 'to na fossa — dei de ombros.

— Alguém já te disse que você não sabe mentir?

Ele desceu, de um jeito nada convencional e me perguntei como ele tinha dado aquela cambalhota, ou como ele tinha uma coluna tão boa e flexibilidade para aquilo. Sua cabeça quase bateu na madeira de sustentação de sua cama e eu ri.

Game Boy | jakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora