Capítulo 1 - A cordialidade natural da solidão.

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A solidão nunca foi um problema para mim, mesmo antes da Quinta Guerra Mundial acontecer, eu já á preferia. Eu sempre penso que as pessoas de antes deviam acreditar que as coisas melhorariam logo, ninguém nunca imagina que a humanidade vai andar para trás, parece até um ciclo. Mas depois da Quinta Guerra Mundial, morreu metade de toda a vida na terra. Agora vivemos em espécies de bolhas gigantes, vivem na verdade, com o aquecimento global e mudanças na atmosfera, ficar ao ar livre se tornou extremamente mortal para seres humanos. Bom, nem todos. Quando percebi que a atmosfera terrestre não era tóxica para mim, achei que seria melhor morar sozinha na floresta. Uma mata tão densa e tão maravilhosa, e parece até que fala comigo, as vezes penso ouvir respostas e uma de muitas das minhas conversas com os vegetais, plantas e árvores.

Aqui aonde vivo, é de uma paz e calmaria infinita, é incrível. Eu montei uma casa na árvore, que fica bem perto de uma nascente. Tenho água, tenho uma casa e tenho materiais que uso nas minhas pesquisas científicas, mas também faço parte de um grupo de cientistas que cultua a magia. A princípio parece besteira, se você for muito cético, mas a magia também é ciência, uma ciência que ainda não foi explicada ou traduzida. Afinal tudo que foi comprovado cientificamente, antes era tido como loucura, irreal "a terra é plana" as pessoas diziam, ou "a terra está no centro do universo", dizer que magia não existe é o mesmo que dizer essas coisas. Só não encontramos a explicação ainda, mas nem sabemos se estamos do lado de dentro ou do lado de fora do Universo, então apenas aceite, minha obsessão pela ciência é tão forte quanto minha obsessão por aquilo que ela não sabe explicar.

Mas também não é nada lógico que animais começassem a racionalizar sua irracional existência.
Vivendo aqui na minha casa na árvore tem sido bastante progressivo para mim, evoluí muito na manipulação energética, a natureza parece um imã natural do progresso nessa área. Tenho meditado tanto que consigo sentir vibrações e sons espaciais.
Ninguém que eu conhecia sabe que estou viva, cientistas sempre veem do lado de fora para realizar pesquisas e se atualizar sobre a atmosfera terrestre, mas o que eu esperava era que alguma coisa tivesse mudado, o capitalismo ainda domina tudo, depois da Quinta Guerra Mundial achei que tudo mudaria, mas os donos do mundo não querem abrir mão de domina-lo.
Por isso também não pude mais viver lá, isso e o fato de que tentei me matar me expondo a atmosfera tóxica e por isso descobrir que sou de alguma forma imune, mas talvez a atmosfera não queira me matar, ou talvez só não seja tóxica para mim. Não vou saber e não tenho como saber. . .ou talvez eu não queira saber porque é mais fácil viver na solidão. Estou só aqui, e é de uma paz enriquecedora, tamanho é o bem que a natureza traz. As vezes tenho a sensação de que as árvores dançam, dançam de alegria por não ter humanos por perto, eu me sinto igual. . . é incrível a intolerância que até mesmo nós seres humanos conseguimos causar em nós mesmos. Por isso a solitude é tão aprazível.

Eu sou astrofísica e deveria estar fazendo algum projeto sobre isso, principalmente porque em uma situação tão emergêncial para os seres humanos eu deveria tentar ajudar a sairmos daqui, gostaria de ter mais amor pela minha própria espécie, no entanto tirar-nos daqui talvez condene outro planeta habitável e a população de seres vivos de lá, o que me tornaria mais humana? Eu devo ajudar a minha espécie e condenar outras milhares ou devo salvar milhares e condenar a minha própria?

Essas perguntas eu me faço, porém nunca respondo. Por eu tô lendo um Grimório, eu disse lendo mas na verdade quis dizer traduzindo, uma língua que eu nunca vi e nem nunca soube que existia, com imagens desenhadas a mão é o que estou usando como uma tentativa de entende-lo, mas é mais como se eu pudesse entende-lo mesmo sem lê-lo, as imagens são abundantes, e parecem ser a tradução do que se está escrito. É como se estivesse no meu inconsciente tudo que está nele e por isso inconscientemente sinto que entendo, isso me faz querer tornar consciente o inconsciente, e por isso estou tão obcecada por ele, também tenho uma teoria particular de que todo o conhecimento do universo está trancado em nossas mentes, no que eu chamaria de "o lado oculto da mente", mais profundamente nesse contexto costumo ter o que as pessoas chamariam de epifania quando você vê toda a resposta para algo em alguns segundos, são milissegundos de puro êxtase de pura elucidação. A mais recente foi uma loucura, estava eu parada passava da 23:30, eu caminhava até o banheiro, e de repente olho para cima e me vejo naquele mesmo lugar aonde estava agora, sob o mesmo céu de uma noite estrelada no meio da floresta só que milhares de anos atrás, foi como acessar o DNA evolutivo, foi incrível, mas com a mesma força e bruscalidade que uma epifania te alcança, ela também te abandona, e leva junto todo o esclarecimento com ela. Só fica o vazio de ter experimentado a abundância de respostas.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora