Wiped Out! - Bingqiu

daddy issues

[when you told me the whole story i felt like throwing up.]

Completara dois dias desde que Shen Qingqiu precisou sair com urgência do hospital, já que recebera a notícia de que sua mãe havia falecido repentinamente. Binghe tinha a sensação de que se passara dois anos.

Teve que responder diversas perguntas sobre o paradeiro do doutor, porém respondeu vagamente a tudo o que questionavam. Receberam mais tarde um telefonema que confirmava o bem estar do médico, e os olhares alheios pararam de se dirigir de maneira indiscreta a Binghe.

Em contra partida, com a desculpa de continuar o tratamento temporariamente, alguns enfermeiros injetavam nele diariamente durante esses poucos dias, uma ou duas doses de calmantes, calmantes fortes. Claro que ele estava se comportando bem, fazia questão de estar, não queria ter que ver darem queixas suas ao seu doutor, mas para os outros médicos, Binghe era um perigo, uma pessoa completamente instável e que precisava de vigilância vinte e quatro horas por dia.

E dormiu praticamente os dois dias inteiros, sempre acordando em um diferente horário, o deixando completamente confuso, mas também com um pouco de esperança. Esperança de que acordaria e não estaria mais sozinho no quarto gelado, não com outra agulha prestes a furar-lhe novamente, mas sim sentado na grama verde, recebendo o calor do sol em seu rosto, com o doutor Shen ao seu lado, falando sobre como uma pequena semente se tornava uma bela flor.

Do outro lado estava Shen Qingqiu. Havia enterrado sua mãe no dia anterior e resolveu passar um tempo com a família, que consistia apenas de seu padrasto. Shen estava atordoado, não entendia e não lhe entrava na cabeça o modo como sua mãe morreu. Afirmou seu padrasto que foi ataque cardíaco, ela estava velha e precisava descansar, foram essas as suas frias palavras.

Entretanto não fazia o menor sentido. Sua mãe nunca apresentou problemas cardíacos. Nunca se queixou, como usualmente fazia sobre qualquer dor que sentia, tendo seu filho como um médico, mesmo que não especializado em cardiologia.

A dor do luto não o deixou ir muito longe em seus pensamentos, deve ser coisa da minha cabeça, ele ponderou.

Seu semblante era triste, mas ninguém o tinha visto chorar sequer uma vez. Isso porque chorou na noite anterior, como nunca pudera chorar em muito tempo. Talvez não apenas pela morte de sua mãe, mas pela sensação de saber, de fato, que não teria mais o carinho incondicionalmente materno e inigualável, que somente uma mãe poderia oferece-lhe.

Pensou, com isso, em Binghe.

Ele não possuia irmãos, não possuia tios e nem tias próximas, mas tinha seu amigo de longa data, Qingge. Pelo menos ele. Binghe não tem ninguém, ponderou.

Não era próximo de seu padrasto, havia uma forte desavença, mas escondia ao máximo pelo bem de sua mãe. Tinha a sensação de que ele estava sempre presente mas não realmente presente, observando como um abutre observa um animal morto na estrada, era indiferente e frio até mesmo com a esposa.

De vez em quando, gostava de se envolver praticamente 100% na vida de qualquer um, não se sabe por culpa de não ser participativo na vida familiar ou pelo simples e puro desejo de perturbar o sossego dos outros.

"Acho que eu devo ir agora", resmungou Shen Qingqiu, um pouco mais alto do que esperava. A sala de estar era fria e mal iluminada, a pessoa ali estava mergulhada no silêncio e o clima era pesado.

"Sua mãe morreu."

Ele ficou atônito por um segundo. Sabia que sua mãe havia morrido, não precisava que ninguém o lembrasse, e aquilo o deixou irritado. Falava num tom como se fosse um pecado absurdo ir embora.