Capítulo Dez

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As pessoas poderiam me dar mil conselhos sobre enfrentar o problema ao invés de fugir dele, mas sabe de uma coisa? Eu não me importava com nada daquilo e que alívio eu sentia de não ter que encarar coisa alguma

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As pessoas poderiam me dar mil conselhos sobre enfrentar o problema ao invés de fugir dele, mas sabe de uma coisa? Eu não me importava com nada daquilo e que alívio eu sentia de não ter que encarar coisa alguma. Aquela transferência de meu pai tinha vindo na minha melhor hora e eu não me importava se teria que conhecer pessoas novas, finalmente estava feliz por ter sido salva pelo gongo.

Nós já estávamos chegando à casa da minha vó depois de umas horas no carro, estava prestes a estar na minha nova cidade, que era gigante. Sim, agora eu iria morar num lugar maior, onde existiam mais pessoas e onde os automóveis estariam sempre em movimento.

Será como é morar com avó? Eu nunca tinha tido essa experiência antes. Estava descobrindo também como era viver sem morar com minha mãe.

Eram várias novidades para mim e para meu pai, e o novo trato com mamãe de que teríamos mais cuidado com as obrigações de casa estava prestes a se desfazer, quando vovó mal chegou ao porta-malas e já perguntou se havia roupas sujas dentro da mala, que no caso deveriam ser lavadas por nós mesmos.

— Oi, vó! Como a senhora está? — A abracei num aperto de saudade.

— Oi, Ceci! — O afago que ela me deu me lembrou do momento na infância quando ela me colocava em seu colo para fazer carinho. — Estou tão feliz que você tenha vindo morar aqui! Depois que seu avô se foi, eu sempre fico aqui fora sentada sozinha e eu já até pensei em nem ter mais todas aquelas xícaras de café. — Ela pareceu relembrar o momento com meu avô, me deixando de coração partido.

— Pelo visto a senhora estava com saudades só da Cecília, né, mãe?! — Meu pai, com uma leve crise de ciúmes, tentou cortar aquele clima que estava tristonho.

— Não seja bobo, meu filho. — Ela o abraçou também e depois apertou suas bochechas, o que fez papai revirar seus olhos feito uma criança. — Também estava com saudades de você.

Entrei na casa rindo feito uma boba do jeito como minha avó havia tratado meu pai, eu sabia que no fundo ele tinha gostado. Eu também me sentia mais aliviada por ter chegado rápido aquele momento, em que eu estava numa cidade grande onde ninguém sabia da minha história.

O fato de estarmos com todas aquelas bagagens e coisas para organizar não descartou um grande café da minha avó. Ela estava contente em dividir aquelas xícaras com alguém e nada tiraria a felicidade dela, nem um bocado a mais de louça para lavar. Isso é que eu chamo de verdadeiro amor.

O sol ainda estava prestes a nascer e já estávamos começando a preparar nosso agitado dia, então coloquei umas coisas na minha cômoda, que daquela vez era dividida com meu pai, que, aliás, me parecia estranho e desconfortável de princípio.

— Está cansada, Cecília? — Papai perguntou enquanto pegava seu uniforme do trabalho e ao mesmo tempo conversava com mamãe ao telefone.

— Um pouco, mas o senhor deve estar mais, veio dirigindo a viagem toda e ainda está indo trabalhar.

— Não me importo tanto com isso, filha, queria tanto ser promovido e não posso reclamar agora. — Ele se dividia ao conversar comigo e com ela. — E você vai à escola?

— Estou tentando procurar minha escova de cabelo para ir, mas está difícil achar nessa bagunça.

— Sua mãe está mandando um beijão pra você. — Ele falou, não se importando com o sumiço da minha escova.

— Mande um bem grande pra ela também. — Respondi, à medida que ainda procurava loucamente. — E diga a ela que mais tarde conversamos.

Fui diretamente em uma das malas que estavam esparramadas pela sala e procurei ferozmente, deixando mamãe e papai isolados para sei lá o que quisessem conversar.

— Fique calma, querida. — Minha vó se aproximou vendo meu nervosismo após não ter tido êxito na procura pela escova.

— Estamos bagunçando sua casa né, vó!?

— Tudo vai se ajeitando devagar. — Ela se sentou no sofá ao meu lado, abrindo uma das malas pra me ajudar a procurar. — As coisas são assim mesmo.

— Mas eu não consigo achar no meio de toda essa bagunça!

Eu já tinha revirado muitas roupas que estavam dobradas na mala e vovó também tentava fazer o mesmo, porém com um pouco mais de delicadeza.

— Vá tomando seu banho enquanto eu procuro pra você. — Ela disse com uma voz mansa, sorrindo gentilmente para mim.

Minha consciência pesou um pouco por estar deixando-a fazer aquilo por mim, mas eu já estava começando a ficar atrasada para ir para a nova escola, o que era bem ruim para o primeiro dia de aula, então deixei que a água caísse no meu corpo para que começasse a dar certo o dia, fazendo a água relaxar minha consciência.

— A senhora achou? — Perguntei ao sair do banheiro.

— Não consegui achar. — Ela parecia insatisfeita. — Mas tenho uma que talvez possa te servir. — Ela sugeriu graciosa e satisfeita por tentar outra solução. — Tome!

— Obrigada, vó. — Dei um beijo na sua bochecha, agradecendo verdadeiramente sua força de vontade.

Porém, quando tentei pentear com a escova de cabelo da vovó, simplesmente não desembaraçou meus fios, deixando-os cada vez mais quebradiços quando eu tentava com esforços.

— Infelizmente não vai ter como. — Pensei alto. — Como vou fazer agora para arrumar esse cabelo?

Fiquei aborrecida e dei um mini ataque interno, mas desisti dele quando percebi que não tinha tempo para aquilo, então passei uma mão molhada no cabelo e tentei um creme, que não ficou nada bom, o que me fez fazer um coque bem disfarçado rapidamente. Depois, para completar o atraso, eu também não consegui achar meu tênis que eu sempre costumava usar para ir à escola, e tudo o que eu via por perto era somente uma sandália com um enorme salto de quinze centímetros e um chinelinho amarelo com enormes borboletas extravagantes que uma tia havia me dado e que até hoje não havia surgido a coragem de usá-lo.

Letícia é uma vadia mimadaOnde histórias criam vida. Descubra agora