Caos

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Vucan apertou o pequeno deus em seus braços, ele não conseguia voltar a dormir, a respiração sonolenta de Gael em seus braços era extremamente viciante, o pequeno se mexeu levemente, se aconchegando  no peito do maior, o calor que emanava de Vucan era agradável, já que os ventos eram fortes e gelados aquela hora da manhã.
Olhando levemente para a pequena marca no pulso de seu prometido Vucan estremeceu, o tempo, um dos poderes mais difíceis, dado a um nascido humano, sabia que algo estava escondido por trás daquilo, porém suas preocupações se perderam quando Gael abriu os olhos serenamente.
Gael esprequiçou o corpo dolorido, ser um deus tinha suas vantagens, não estar morto depois da noite de ontem, certamente era uma delas... Os olhos do menor encontram os de seu amado e o mundo parecia parar, ou melhor, realmente parou, os sons, cheiros e até os ventos, tudo sumiu, Gael com medo olhou para Vulcan que admirava surpreso a imensidão dos poderes de seu amado.
- Eu...
- Sim meu amor, isso é seu poder - respondeu Vucan - seu dom...
- Eu não queria... Eu só pensei em...
- Parar esse momento pra sempre? - perguntou Vucan sorrindo, Gael concordou timidamente - Seus pensamentos e desejos são muito mais fortes agora que é um deus - explicou Vucan acariciando o rosto do menor - Embora eu adoraria eternizar cada momento com você... Lembre, teremos a nossa existência inteira para criar memórias, lembranças e são esses momentos que daqui a 500 anos vão verdadeiramente importar...
Gael sorriu surpreso e apertou o maior em um abraço, Vucan tinha razão, eles tinha todo o tempo do mundo para serem felizes juntos, o tempo, para nenhum dos dois, era um problema, agora as coisas finalmente dariam certo...

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Nemessis já não sabia mais o que fazer, a todo momento o humano seguia sua mãe, discreto e observador, porém ela já não estava suportando, depois de tanto tempo entre mulheres, ter um homem desconhecido tão empenhado em olhar Nakimmin era no mínimo desconcertante.
Por outro lado Nakimmin sorria muito, o que deixava a filha ainda mais interessada em porque a presença do filho do sol não perturbava, nem incomodava a mulher que lhe deu a vida...
Lhuikke pensava estar sendo muito discreto, até sem encurralado pela pequena deusa, os olhos negros dela brilhavam, como carvão em brasa.
- Se eu sonhar, filho do sol, que tem algum pensamento impróprio com minha mãe, eu mesma darei fim a sua existência!
O homem olhou perplexo para a deusa sem entender.
- Sua mãe? - perguntou ele confuso
- Nakimmin, e não diga que não sabe do que estou falando, porque eu mesma testemunhei você olhando pra ela.
Lhuikke olhou para a jovem a sua frente, num misto de surpresa e incredulidade.
- Admito, estava sim olhando para Nakimmin, porém nenhuma vez em todos os anos que passei preso imaginei que ela tivesse uma filha... - o guerreiro parecia desconcertado - até agora eu não sei nem quanto tempo fiquei preso, nem para onde irei, Nakimmin, pra mim, é a única coisa que nunca quis perder e ela está aqui...
Nemessis acalmou sua irá, se lembrando do qual perdidos no tempo os filhos do sol estavam, muitos ali, não tinham mais família, amigos, esposa ou filhos para quem voltar...
-Tem 150 invernos que vocês partiram...
Lhuikke olhou surpreso para a jovem a sua frente
-

Mais Nakimmin... Está tão linda quanto no momento que a deixei...
- Vucan aceitou minha mãe como sacrifício, fez dela uma guardiã do templo, uma filha do fogo...
Lhuikke analisou o rosto da deusa perplexo, a filha de Nakimmin, porém ela pouco lembrava a mãe.
- Acho que minha mãe e você tem muita coisa pra conversar... - Constatou a deusa pensativa - Existem coisas que não cabem a mim te contar...
Com medo, Lhuikke foi em direção à sua amada, os olhos do humano imploravam por respostas...
Em um canto do jardim, Millael olhava de solaio, ainda em sua forma lupina as loucas interações entre os filhos do sol e os deuses, porém sua atenção foi totalmente roubada pelo olhar de angústia e apreensão de Nemessis, algo estava errado, a cor lentamente sumiu do corpo da deusa, e então, ela desapareceu.

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Soller ainda não tivera tempo de conversar com sua precisa filha, ou será que Thesteree estava fugindo dele? Tayer e Tuila tentaram em vão acalmar o pai, porém a mais nova das trigêmeas continuava o evitando. Lunnea entendia o motivo da filha, porém, o mundo já estava turbulento demais, era hora de resolver os conflitos...
Para ajudar os deuses, o mundo humano entrou em um verdadeiro caos, era hora de colocar as coisas em seu lugar, punir os desordeiros, apoiar os que mantiveram a paz e fazer justiça onde o caos reinou.
Um concelho emergencial foi pedido, todos os deuses, maiores e menores estariam presentes, o destino das tribos da terra seriam postos na mesa...

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Gael olhou para o pergaminho frustrado, achou que teria mais tempo com seu amado antes do dever lhe chamar, porém compreendia, agora tinha deveres no concelho, querendo ou não, era seu dever, ir, participar e votar, em qualquer que seja a confusão que a terra tinha se metido no pouco tempo que estiveram fora.
A sala dos deuses nunca estivera tão cheia, os filhos do sol ainda estavam no Palácio, os deuses chegavam um a um, pela primeira vez em muito tempo, as trigêmeas do sol e da lua, estavam presentes, sentadas em seus tronos, o tempo finalmente estava completo, Lunnea pairava como uma sombra, magistral e serena, Soller por outro lado, parecia distante, todos estavam presentes, ou melhor, quase todos, Nemessis não se encontrava no salão, Vucan olhou atentamente em busca da filha, porém não a encontrou, Millael também procurava a jovem deusa, sem saber mais onde iria encontrá-la.
O desespero começou a tomar conta de Nakimmin, que tão distraída com Lhuikke, não notou onde sua filha estava.
P

orém mesmo sem ela, Lunnea iniciou a reunião.
- Caros deuses e mortais aqui presentes, embora este seja um momento feliz para os deuses, não devemos deixar de lado nossos deveres na terra - iniciou ela altiva - o caos se instaurou na terra, poucos dias foram o suficiente para desregular o frágil equilíbrio entre as tribos, estamos aqui para julgar, condenar e gratificar, conforme as leis e costumes.
Gael ouvia atentamente, porém sentia a tenção nos presentes.
- Algumas tribos serão mais difíceis que outras para lidar - Constatou Tayer, a mais velha das trigêmeas - teremos de ser duros dessa vez...
Porém, antes mesmo dela terminar, uma sombra avermelhada tomou o salão, no meio daquele caos, Nemessis, ferida se encontrava, o sangue dela cobriu parte do chão e ainda segurando a flecha que feria sua pele ela disse.
- Eles querem a queda dos deuses...
A cabeça da jovem deusa tombou para o lado, Vucan, tão rápido como um raio, segurou sua preciosa filha.
- É uma Fecha de Arket - declarou ele perplexo
Espantados os deuses se olharam, uma das poucas coisas capazes de ferir um imortal, Arket, a árvore da morte, uma madeira tão rara e misteriosa quanto o próprio caos.
- É uma declaração de guerra... - Gael sussurrou assustado - as tribos estão em guerra com os deuses...

Vucan - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora