Captura à Bandeira - I

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LENA

Cara, eu quase consegui uma cicatriz nova hoje.

Lena estava certa de que detestava estar tão exposta assim, mas diante o plano compartilhado não lhe restara tanta escolha quando todos concordaram em pôr o chalé de Hefesto para cuidar da primeira linha de ataque. Ela era mais… técnica. Gostava de cuidar das coisas fornecendo meios de luta, não estando diretamente na briga. Mas fazer o quê, já que não conseguira contrariar as vontades de suas amigas.

Agora, com a espada de bronze celestial desembainhada, se defendia das investidas de Veronica Sawyer, do chalé de Ares, a equipe inimiga naquela noite. Era fato que ela sempre ganhava as capturas à bandeira apenas causando terror psicológico e brandindo sua espada enorme com o cabo mais grosso que já forjara, mas Lena sabia como lutar contra ela, afinal conhecia a espada e a dona dela muito bem.

— Cansada, Sawyer? — implica, ouvindo o tilintar do metal e os gritos de guerra ao seu redor. A captura à bandeira parecia mil vezes mais agitada aquela noite. Apenas esperava que o plano estivesse correndo como planejado.

— De ver você pagando a estúpida defensora, perneta? Estou, sim — e realizou o golpe baixo de sempre: acertar a perna de metal da filha de Hefesto. Lena praguejou céus e terras quando a prótese falhou por alguns momentos, a deixando aberta para a investida que fosse da filha de Ares.

— Ei Roni! — Gritara Heather, vindo em seu socorro e chamando a atenção da filha de Ares - particularmente, Heather Chandler era a única pessoa no mundo que conseguia fazer Veronica perder o foco no meio de uma captura à bandeira. – Sabe algo melhor para você pegar do que a bandeira? A minha calcinha!

E Veronica estava desconcertada. Seu cérebro poderia estar pifando naquele momento. Lena sempre preferiu lidar com máquinas, portanto imaginava o cérebro humano funcionar a base de engrenagens, e as de Sawyer sempre estravam em combustão perto de Chandler. Foi a abertura necessária para a filha de Hefesto regular sua prótese e voltar ao combate contra a filha de Ares.

Veja bem, aquela era mais uma noite típica no Acampamento Meio-Sangue. Era sexta-feira, e depois do jantar tinha a captura à bandeira, o evento mais aguardado em todas as semanas. Naquela vez em especial, era verão, o que significava que o acampamento estava lotado de semideuses loucos para descontar frustrações escolares e sociais nas brigas de espada, foices, arco e flechas ou algumas labaredas de fogo que acidentalmente apareciam entre os elmos azuis e vermelhos.

Ah, claro, também tinha aquele detalhe. Lena é do time vermelho desde que se lembrava. Aos dezessete anos, já tinha participado de tantas capturas à bandeira que não conseguia contar, mas sempre usara o elmo vermelho, o chalé de Hefesto unido ao de Hermes, Afrodite, Apolo e tantos outros, contra o chalé de Ares, Démeter, Atena e sabe-se-lá mais quem. Naquela noite, Lena apenas estava seguindo ordens, não as dando. Pois tinham confiado a liderança daquela captura a bandeira à outra campista. Uma do chalé de Apolo. Uma que Lena conhecia desde que chegara ao Acampamento, mas há um ano e meio atrás começou a considerá-la sua melhor amiga. Mas aquilo não importava tanto no momento, porque Lena estava ocupada demais tentando não perder a outra perna enquanto lutava contra Veronica como lhe havia sido dito para fazer mais cedo.

Deixe a líder do chalé de Ares fora de alcance da proteção da bandeira, eles disseram. Vai ser legal, eles disseram. Mas Lena estava começando a crer que aquela era a pior empreitada que já tinha aceitado por uma amiga.

Você deve ter se perguntado sobre a perna. Lena queria ter uma história de estourar periquitos para contar, mas nascera sem a perna direita, simples assim. Uma PCD com TDAH e dislexia, isso que ela chamava de pacote completo. Mas não se queixava, porque se amava como era. Ter uma perna de metal — que ela mesma construira — não era um empecilho na sua vida. Cara, ela era literalmente um semideus. Filha de Hefesto, o deus das forjas, do fogo e blá-blá-blá, você deve conhecer o pai da Lena. Ela também era filha de uma mortal, mas não gostava tanto assim de lembrar da família que a largara. Encontrara uma nova família, ali, no Acampamento Meio-Sangue, com campistas que a entendiam e ótimos amigos. Claro, também tinha Veronica, com a espada enorme perigosamente próxima do seu pescoço, mas era apenas mais uma sexta-feira normal.

Lena apenas queria que Kara estivesse cumprindo com sua parte do plano, ou todo o seu suor teria sido em vão.

Não que se importasse de suar um pouco, estava sempre coberta de suor e graxa, com roubas amarrotadas e parcialmente queimadas. Ela amava estar nas forjas, lugares quentes sequer a incomodavam, era como um lar, na verdade. Estava sempre com as mãos ocupadas, pois, cá entre nós, amava estar ativa. Criar a cada dia mais engenhocas a faziam se orgulhar. Era a campista com mais missões bem-sucedidas, apesar de ter chegado no Acampamento apenas aos onze anos. Não era assim tão antiga lá, não como Veronica ou Kara, que passaram a vida quase toda no Acampamento.

Mas enfim, Lena não podia pensar tanto assim no quão brilhante era naquele momento. Ainda tinha uma espada enorme ameaçando quebrar a sua em duas, na melhor das hipóteses. Seu maior medo mesmo era que Veronica teimasse em destruir mais uma de suas próteses, aquela já era a terceira que construia naquele ano.

Portanto, se focou mais na defensiva e no ataque e menos nos pensamentos melancólicos.

A Demigod MissionOnde histórias criam vida. Descubra agora