Acordo esparramada na minha cama com o sol cobrindo todo meu rosto. O alarme não para de tocar, me obrigando a cair na consciência de que mais um dia estava começando.
Levanto da cama aos tropeços, já estou atrasada. Faço minhas higienes, penteio o cabelo e coloco a primeira roupa que encontro no armário.
Minha aparência hoje não será a melhor, não posso me dar o luxo de um tempo que não tenho pra me arrumar. Pego a mala que já deixei arrumada e separada com todos meus pertences pessoais, hoje é o dia que irá começar minha faculdade.
Depois de pensar muito, decidi que o melhor pra mim seria usar os dormitórios de Brinston e morar lá pelos próximos anos da minha vida. A princípio, é a única escolha que tenho pra sair de casa e começar minha vida longe daqui. Se bem que, não da pra chamar de minha casa um lugar em que não sou bem vinda.
Saio do meu quarto e desço as escadas correndo para a cozinha. Coloco uma boa quantidade de café no copo térmico e arrasto minha mala pela casa, está muito pesada. Acho que coloquei coisas a mais do que ela aguenta, mas tive que dar um jeito pra tudo o que precisava entrar.
Antes de sair de casa, paro no espelho da sala e dou uma conferida no meu estado. Meu cabelo está um pouco mais desalinhado que o normal. Não uso diariamente maquiagem, mas hoje seria um dia necessário de usar para cobrir minhas olheiras.
Olho no meu reflexo o colar prata que uso desde que minha mãe faleceu, era dela e agora já é parte de mim. Dou uma última visualizada na casa em que passei minha infância, tempos felizes. Aprendi a reconhecer quando algo não me pertence, e esse lugar não é mais meu assim como era quando criança. Agora preciso seguir a minha vida colocando a minha felicidade em primeiro lugar, depois de tantos anos lutando sem resultados para que os outros fossem felizes.
A morte da minha mãe foi repentina, a parada cardíaca aconteceu e não deu tempo pra ninguém. Eu era só uma adolescente quando perdi ela, e tive que aprender a lidar com o luto desde nova. Quando ela se foi, uma parte de mim foi junto.
A única coisa que serviu de âncora no meio daquele mar turbulento foi meu pai. Apesar de quem se tornou, naqueles meses iniciais ele tentou suprir a minha perca com sua presença constante, um ombro que esteve sempre a minha disposição. Infelizmente, o pai que eu conhecia se perdeu em algum momento do caminho.
Não sei exatamente em que trecho da minha adolescência que ele passou a me odiar. Odiar. Palavra muito forte, mas é o que mais posso assemelhar com o que ele demonstra por mim.
Ele e minha mãe eram um casal apaixonado e feliz. Essa felicidade aumentou quando tiveram uma filha, eu. Nossa família de três era como daquelas de comercial, e os momentos ruins eram quase inexistentes.
Tudo mudou depois que mamãe morreu. Meu pai, Luke, era presente nos primeiros meses. Depois de um ano ele não estava mais por perto, era só um homem cujo foi tomado pela depressão. Eu tive que lidar com a solidão contra a minha vontade e passar meus dias sem minha mãe, e sem meu pai.
Depois de dois anos ele encontrou uma mulher, Clarice, que trouxe sua filha de mesma idade que eu e tomaram conta da minha casa, a casa da minha mãe. Depois disso, a distância entre Luke e eu apenas aumentou, e aquele sentimento parecido com ódio se inaugurou nele toda vez que me via. Então, comecei a evita-lo. Evitar todos.
Antes de sair daquela casa de uma vez por todas, penso duas, até quatro vezes, pra deixar um bilhete de despedida já que todos estão dormindo. Não quero fazer isso, mas ainda tenho um resquício de amor por Luke, e esperança que um dia ele irá me amar de novo.
Pego a caneta mais próxima e escrevo em um post-it. Saí nesta manhã. Qualquer coisa, vocês tem meu número. Ass: Katherine. Ok, é o suficiente. Ninguém pareceu dar a mínima quando dei a notícia que iria mudar pra cidade vizinha pra morar na faculdade em que passei. Não pareceram felizes pela minha conquista, muito menos tristes pela minha futura mudança. Se nenhum deles se importa, eu também não vou me importar com ninguém.
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Touchdown No Seu Coração
RomanceA mãe de Katherine morreu quando ela ainda era uma adolescente, e depois disso, as coisas com seu pai ficaram negativamente diferentes. Depois de alguns anos, o pai de Katherine arrumou uma nova mulher, e junto, veio sua filha. As duas nunca foram...