Capítulo 34

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"Não penses mal dos que procedem mal; pensa somente que estão equivocados."

Sócrates.

— Eu senti falta de fazermos isso, quase me sinto uma adolescente de novo. — Kyra disse colocando uma pipoca na boca, enquanto enchia a outra mão com uma quantidade razoável do snack amanteigado.

Kyra parecia feliz, e isso era bom já que nas últimas semanas ela parecia desagradavelmente chateada. Phillip sabia bem o motivo, mas, preferia não tocar no assunto. Era uma situação complicada já que Derick havia se tornado um amigo querido, mas, era inegável que invejava o que o homem mais velho havia vivido com Kyra. Derick havia se apaixonado, e no fundo Phillip sabia que Kyra também nutria sentimentos pelo bilionário, mas, preferia se apegar a ideia de que ela não se apaixonava, iludindo a si mesmo em esperanças tolas de que quem sabe ela desse ao loiro alguma chance novamente, mesmo que livre de sentimentos românticos.

Phillip provavelmente não era mais apaixonado por Kyra, mas, ainda se sentia atraído por ela. Ou talvez ele se atraísse pela dificuldade, pelo desafio que ela representava. Alcança-la em dimensões mais profundas era difícil, e era isso que ele invejava em Derick e em Dominik. Eles haviam conseguido conhecer Kyra de uma maneira diferente, se aprofundando em um lado que ela definitivamente não mostrava a quase ninguém. O desejo que nutria por ela havia virado um pouco de ego ferido, já que ela foi uma das poucas mulheres na vida que o dispensara de maneira tão objetiva que chegava a doer.

Ainda assim, ele era um bom amigo para ela. Havia tentando animá-la durante os últimos dias, recebendo nãos dolorosos para quase todos os seus convites para sair e se distrair, até que a própria Kyra sugeria uma noite de cinema, apenas os dois para relembrar os bons tempos da adolescência.

Era obvio que não havia nenhuma segunda intenção em seu convite, e Phillip não só sabia disso como também respeitava essa perspectiva. Mas, não deixaria uma chance escapar caso ela surgisse, afinal, ele não queria nada sério no momento, assim como a própria Kyra.

— Admito que também senti falta. Especialmente porque você andou afastada de todo mundo nas últimas semanas. — O loiro justificou pegando também algumas pipocas no balde que estava em seu colo para colocar na boca. Um sorrisinho de canto era direcionado a amiga, antes que ele se recostasse no sofá macio, estendendo um dos braços sobre a parte de cima do sofá para que Kyra pudesse se aninhar a ele.

— Lembra quando meu pai faleceu? — Kyra dizia, aproximando-se do amigo, para se ajeitar junto dele. — E nós dois ficávamos no meu quarto assistindo todos esses filmes velhos, até que eu pegasse no sono?

— Claro que lembro. — Phillip confirmava movendo o braço para abraçar a oriental pelo ombro, enquanto pegava o controle logo ao lado para dar play na TV. — Era a única forma de te fazer dormir sem ser com remédios.

— Aqueles momentos que passávamos juntos foram essenciais pra que eu conseguisse passar por tudo aquilo — A voz da jovem tatuada carregava certa nostalgia, e agora ela finalmente encostava a cabeça no ombro de Phillip, enquanto pegava mais uma porção de pipoca com uma das mãos.

— Está tentando superar alguma coisa de novo, Kyra? — O loiro perguntou, num claro tom de deboche e insinuação. Isso acabou fazendo Kyra levantar a cabeça brevemente, virando-se para encará-lo.

— Coloca o filme, Fernandes. — Kyra disse em meio a uma tentativa falha de parecer brava, acabando por dar uma risada gostosa e satisfeita quando encarava a expressão faceira no rosto do amigo.

— Nossa, que exigente. — Ele moveu ambas as mãos, erguendo-as como se estivesse se rendendo. — Às vezes me esqueço do quanto você é mandona.  — Ele ria se ajeitando novamente no sofá antes de finalmente dar início ao filme escolhido por Kyra: "City of Angel". Um clássico romance de 1997, onde um anjo encarregado de auxiliar a alma dos mortos a fazer sua passagem para o plano espiritual, acaba se apaixonando perdidamente por uma humana, dispondo-se a abrir mão da vida imortal de anjo para viver uma vida terrena com sua amada. Um belo romance diria-se de passagem, se não fosse marcado por um final de teor amargo e absurdamente realista.

Obscure IntentionsOnde histórias criam vida. Descubra agora