Capítulo 51

588 77 54
                                    


"Todo meu ódio não pode ser contido
Eu não serei afogado pelos seus atos impensados
Então você pode tentar me derrubar, me jogar no chão
Mas, eu verei você gritando."

Korn - Thoughtless


Certamente aquela era a primeira vez em anos que Kyra não fazia a mínima questão de tentar se controlar. Todos os limites de seu auto controle haviam se rompido, a racionalidade havia acabado. O poço profundo de emoções guardados em um canto qualquer da mente da oriental simplesmente emergiu, explodindo como uma bomba que tinha poder de destroçar completamente incontáveis quarteirões.

Todo o senso de Kyra havia desaparecido, e apenas emoções absurdamente intensas agora tomavam conta dela. Havia sido tempo demais guardando sua revolta, sua raiva, sua tristeza e especialmente, todo o amor que ela havia cansado de negar que sentia.

De certa forma, a própria Kyra não saberia explicar muito bem como dirigiu até a mansão da família Heyes. O que ela sabia, enquanto dirigia, era que não mais fingiria, negaria ou esconderia as coisas que sentia, as coisas que estavam entaladas em sua garganta. Ela não parecia se importar muito com as consequências disso, desde que aliviasse um pouco de tudo aquilo que fazia sua mente ferver, junto com o sangue que corria em suas veias.

Quando finalmente chegava à mansão em Manhasset, a jovem tatuada deixou o próprio carro estacionado em uma das vagas do terreno, para em seguida seguir rumo a bela casa com passos firmes e determinados.

Planos? Ela não tinha nenhum! Naquele momento Kyra estava sendo movida total e simplesmente pelo seu instinto humano mais primitivo: a emoção.

Assim, que adentrara no imóvel, Kyra dava de cara com uma das empregadas, tirando o pó de alguns dos quadros valiosos que decoravam a parede do hall de entrada. O sorriso cortês da jovem mulher fez a oriental retribuir a gentileza, tanto em sua expressão, quanto em sua voz.

— Boa tarde, Senhorita Kurosawa. — A empregada que já a conhecia das visitas regulares a mansão a cumprimentava. — A Senhorita Colby saiu com o Senhor Heyes. Foram levar o jovem Andrew Blyte ao aeroporto. — Ela explicava, supondo que Kyra havia vindo visitar a prima.

— Que ótimo, Katalina. Pode chama sua patroa para mim? — O sorriso no rosto de Kyra soava claramente estranho, já que todos sabiam que ela e a tia não se davam muito bem, e mal interagiam entre si. — Eu estou aqui para falar com ela.

— Ah... — A jovem empregada pareceu pensar em perguntar algo, mas, se conteve, assentindo antes de descer da escadinha que a deixava a altura das obras de arte que ela estava limpando. — Eu vou chamá-la para a senhorita, só um instante. — Ela disse antes de deixar o espanador de penas no chão, ao lado da escadinha, e seguir rumo ao 2º andar.

Não demorou mais do que alguns minutos, para que a jovem ressurgisse no topo da escada, Alicia vinha logo atrás. Linda, elegante e muito bem vestida com um conjunto impecável de blazer e calça brancos, exibindo a barriguinha esbelta sob a cropped de tom acinzentado, enquanto usava um par de sandálias douradas de um salto consideravelmente alto, ornamentando bem toda a combinação de sua vestimenta. Os olhos verdes miravam Kyra com o desdém de sempre, e mesmo estando hipoteticamente sob uma situação de risco, onde Cecily poderia acordar a qualquer momento e assim acusar e expor a modelo, ela não parecia nem um pouco preocupada. Sua frieza em lidar com as coisas eram literalmente assustadoras.

— O que minha querida sobrinha quer de mim? — A voz debochada soava tão desagradável quanto o sorriso que adornava a boca bem desenhada da loira. Ela era tão bela, quanto era ordinária. E talvez naquele momento, a única coisa que parecia fazer sentido na cabeça de Kyra era a ideia de que o rosto dela deveria combinar com seu caráter: deveria ser inexistente, ou pelo menos deveria estar completamente destruído.

Obscure IntentionsOnde histórias criam vida. Descubra agora