capítulo 5

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Depois de comer, de ler e de ver uns seriados atrasados, dormi, ou melhor, desmaiei de cansaço na cama. Quando acordo, olho no despertador, são onze e dezessete. Pego o celular, sete chamadas de Sophi e doze mensagens, nem me dou ao trabalho de ler. Levanto devagar e vou tomar uma ducha, como umas torradas com café, há um bom tempo não desfrutava de um café tradicional, andava bem ocupada, eu estou com tanta vontade daquele ovo mexido com bacon de manhã... Como as torradas em silêncio, quando ouço a campainha. Vou até a porta e a abro, deparando-me com Sophi, ali, de cara amarrada.
— O que aconteceu com o seu celular? – pergunta e entra sem pedir licença. – Não acredito que não está pronta – fala, olhando-me de cima a baixo. – Temos tanta coisa para fazer e você me ignorando. – Emburrada, cruza os braços com raiva.
— Bom dia para você também, e eu não estava te ignorando, estava dormindo – explico, revirando os olhos. – E outra, por que esse desespero todo?
— Acho que você se esqueceu da feira que terá hoje – ela disse, sentando-se no sofá.
— Acho difícil, já que você e Rhyss vivem me lembrando – digo irritada e vou para a cozinha arrumá-la.
— Vamos logo.Temos salão, que marquei unha e cabelo, e também temos que comprar o vestido.
— Ah, mas nem pensar Sophi! Eu vou trabalhar, e não a um desfile.
— Nem por isso você precisa ir destrambelhada, você tem um namorado a zelar.
— Ele não é meu namorado. – Ela bufa.
— Que seja! Vamos logo, combinamos isso ontem – fala mandona. – Você tem dez minutos para ficar pronta, começando agora – Sophi fala, cronometrando no relógio, e começa a bater palmas.
Logo estamos no shopping, e Sophi começa a me arrastar para as lojas.
Passamos em muitas lojas, nenhum vestido satisfazia Sophi, eu pegava o primeiro que via, experimentava e pronto, era aquele, o problema era que ela não me deixava levar nenhum se a mesma também não levasse. Em todas as lojas, Sophi conhecia as atendentes, que a tratavam bem. Os preços dos vestidos também eram um absurdo, levando em conta que eu teria que tirar um pouco do meu dinheiro guardado para comprar um vestido. Por isso estou tão desanimada com essas compras. Paramos para almoçar no shopping mesmo, isso já está acabando com a minha paciência, fora que às três da tarde temos salão marcado, então, como diz Sophi, estamos correndo contra o tempo.
— Sophi, eu estou com dor nos pés de tanto andar com você para todo lugar – digo, Sophi me olha e pede para ficar quieta, quando uma atendente vem até ela.
— Olá, Sophi! – A atendente abraça Sophi, que sorri e a abraça de volta. – Então, o que vai ser hoje? – pergunta, o que me fez perceber que Sophi vem frequentemente aqui.
— Oi, Sara! Bom, preciso de sua ajuda... Precisamos – Aponta para mim e para ela –, de dois vestidos de gala. – Sara, a atendente, concorda.
— Entendo – diz, sorrindo. – Vou ver o que posso fazer por vocês – completa, e se vira. Sophi a segura pelo braço.
— Por favor, não me decepcione, não sabe em quantas lojas já fui e não tinha um único vestido que ficasse legal, e essa aqui – apontou para mim –, não ajuda. – A mulher sorriu amigavelmente para mim.
— Eu sei muito bem o que é fazer compras com Sophi, não se preocupe, eu te entendo – fala, sorrindo para mim. Sophi nos olha indignada, ignoramos. – Levante-se, quero te analisar. – Faço o que ela pede, ela sorri em concordância, enquanto inspeciona meu corpo. – Qual sua altura?
— Um e sessenta e cinco – respondo, super baixinha, mas...
— Cintura fina, seios médios, pernas torneadas e bumbum proporcional – Sara diz em voz alta, parecendo querer guardar tudo. – Mulher, está em forma, hein?!
– fala, sorrindo, e Sophi concorda.
— Santa academia – digo, fazendo-as rir.
— Me diga o que gosta em um vestido.
— Eu gosto de coisas simples, mas elegantes, nenhuma cor vibrante e nada muito “cheguei”. Gosto de coisas que emoldurem minhas curvas, decotes também são legais, porém, nada exagerado – termino.
— Tudo bem, já sei qual o vestido certo para você. – Ela se vira, indo para algum lugar.
— Gostei dela – digo, sentando-me, e ficamos em silêncio, esperando Sara.
Depois de um tempo, ela chega com três vestidos em uma mão, e um em outra. Ela entrega os três para Sophi e o outro para mim. Sorrindo, o pego, estou gostando muito mais de Sara agora.
— Por que Beck tem só um, e eu, três? – pergunta Sophi.
— Porque eu tenho certeza de que ela vai gostar dele. Agora, você sempre fica em dúvida com um, então, trouxe mais dois – explica. Sophi dá de ombros. – Podem ir experimentar, Sophi vai te mostrar um vestiário – diz para mim, concordo e acompanho Sophi, que segue para um canto da loja onde tem uma porta. Vou com Sophi ate lá, ela a abre e vejo vários vestiários ali dentro. A sala toda espelhada, no chão, um tapete vermelho, e no meio, um enorme sofá redondo creme.
— Pode ir primeiro, o meu e só um – digo, sentando-me rápido no sofá e tiro os sapatos, massageando os pés. – Preciso de um descanso de cinco minutos – aviso, Sophi revira o olhos e entra no vestiário.
Passa um tempo e ela não tinha dito nada, estou ficando preocupada.
— Não! – ouço-a dizer. Depois, silêncio... Depois de um longo tempo: – Não mesmo! - Silêncio... Mais um tempo... – Isso! Esse ficou perfeito. – E, então, ela sai do provador com um vestido lindo, vermelho, tomara que caia, com um bojo realçando os seios. Descendo, ela tem brilhantes em toda a parte de cima, e os brilhantes vão diminuindo ate chegar à metade da sua coxa, onde a parte apertada do vestido vai. Daí por diante, o vestido é solto, de seda, deixando-o com um aspecto lindo e sexy. Sorrio para ela.
— Ficou maravilhoso – falo empolgada.
— Pela sua reação, ficou realmente bom, pois não ficou tão empolgada assim com os outros que experimentei – ela diz. Sorrio, concordando.
— Ficou realmente bom – falo, ela se olha no espelho, morde o lábio inferior, analisando-se, e depois de um tempo, sorri.
— É meu! – Bato palmas, feliz. Ela vai para dentro do provador de novo. Uns minutos depois, sai com os vestidos na mão e senta-se no pufe. – Agora, é a sua vez, vá logo – pede.
Pego o vestido e entro, ele estava dentro de um saco com zíper. Abro o zíper, tiro o vestido preto de dentro do saco e o analiso. À primeira vista, ele não parece ser tão espalhafatoso, espero que não seja quando o vestir, experimentei cada pesadelo hoje.
Coloco o vestido e me olho no espelho do provador, sorrindo logo em seguida. Lindo! Ele é todo preto, é um pouco solto até a cintura e apertado o resto, um decote pequeno na frete. Na cintura, um pequeno cinto preto com enfeite prata, um decote em V atrás, indo até o final das minhas costas, onde começa um zíper que vai até a bainha, zíper este que fica estrategicamente aberto até a dobra de meu joelho, para que eu possa me locomover, e ele emoldura as minhas curvas. Amei, elegante e sexy.
Sorrio e saio, Sophi fica boquiaberta na mesma hora.
— Você esta maravilhosa, Beck – elogia, suspiro de alívio. – Nem precisa pensar, é seu! – Me olho no espelho.
— Pela sua reação, realmente ficou bom, pois não ficou tão empolgada assim com os outros que experimentei – imito-a, ela revira os olhos. – Vou ficar com ele – digo, sorrindo, ela se levanta gritando e me abraça, balanço a cabeça e volto para o vestiário para tirar o vestido.
Logo, a atendente nos ajuda com todo o lance de pagamento e coisas do tipo.
Entrego o cartão à caixa e nem procuro saber o preço do vestido, uma coisa de cada vez.
Saímos da loja agradecendo a Sara e comemos um rápido sanduiche, para, então, ir ao salão que, milagrosamente, estamos no tempo.
Chegamos e ficamos esperando o nosso horário e, depois de um temo, uma moça simpática, descolada e de cabelos rosa chiclete vem nos atender.
— E aí, Sophi – cumprimenta sorridente, abraçando-a. Depois, acena para mim, sorrio. – Vamos, as manicures estão esperando – chama e entra em uma sala, Sophi e eu a seguimos.
Entramos em um cômodo com várias cadeiras e mulheres fazendo a unha e conversando, sento-me na cadeira indicada, e Sophi, ao meu lado, e as moças começam a trabalhar. Depois de arrumar as unhas, mão e pé, e de ajeitar o cabelo, já eram seis e quarenta e cinco. Sophi se despede de mim quando a deixo em sua casa e volto para a minha, apressada, e começo a arrumar os acessórios que vou precisar e todo o resto.
Quando são sete, tomo uma ducha rápida com cuidado por causa do cabelo, onde tinha colocado uma touca. Sete e quinze, coloco uma lingerie preta e, depois, o vestido. Tiro do armário o meu salto que tinha comprado há um tempo e não tinha usado, um meia pata preto com solado vermelho. Brinco, colar, anéis, pulseira e maquiagem, nada muito leve, igual ao que uso no trabalho, mas nada exagerado, ficou bom.
Meu cabelo, em um coque com a franja solta e alguns fios fora do lugar, bem sofisticado. Uma bolsa preta de mão para colocar o celular e o batom vermelho escuro que estou usando, e finalmente desço para a portaria, onde um táxi me espera.
— Está linda, Becker – Luiz elogia, o porteiro do meu prédio, quando me vê.
Sorri, dou uma voltinha.
— Gostou? – pergunto, sorrindo. – É para o trabalho – explico, ele franze a testa. – A feira petrolífera. – Todos conhecem essa feira.
— Ah sim, ótimo! Então, boa sorte – ele diz, sorrio e levanto um pouco o meu vestido para descer os degraus.
— Obrigada, eu vou precisar – agradeço, despeço-me e entro no táxi. – Hotel Plaza, por favor. – O taxista fica me olhando, mas, depois de um tempo, dá a partida.
Quando chego ao hotel, são três para as oito. Um tapete vermelho na entrada e vários fotógrafos sendo barrados pelos seguranças. Entro rápido, tentando não ser fotografada, e vou para o elevador.
Chego à cobertura e, vejo o segurança pegando os convites de algumas pessoas. Cumprimentei-o e entrei, tinha avisado ao mesmo sobre Sophi, então, estava tudo bem. Quando entro, Sophi já me esperava, está linda, com os cabelos loiros caindo em cascata pelas costas, com cachos nas pontas, a maquiagem à la Sophi e acessórios. Os seus saltos não davam para ser vistos, porque estavam tampados pelo vestido. Ela sorri e vem até mim.
— Está uma gata – elogia, sorrindo, e logo uns fotógrafos vêm até nós e começa a tirar fotos. Tiro algumas, mas logo me esquivo e puxo Sophi.
— Você também está linda – a elogio, depois de sair da boca dos lobos, ela agradece. – Rhyss chegou? – pergunto, ela faz que não. – Ótimo! Vamos, temos que conferir algumas coisas, vou conferir o bufê, os fotógrafos e a orquestra – digo, enumerando nos dedos –, e você confere os garçons, o leilão e os seguranças. – Sophi concorda. – Daqui a pouco, eu te encontro.
— Ok – responde e sai.
Vou para o bufê, conferir os quitutes que tinham sido recomendados pela dona, tinha canapés e outras coisas que não conhecia. Depois, caminho até os fotógrafos, que já faziam seu trabalho com os primeiros convidados, muitas mulheres siliconadas ou magras demais com homens gordos e velhos, ou carecas e barbudos, e asiáticos, coreanos baixinhos de meia idade. Depois de conferir tudo, os garçons já passavam com as bebidas, pego uma taça de champanhe e acho Sophi, que caminha até mim, também com uma taça na mão.
— Já viu as modelos que chegaram? - Sophi pergunta, apontando para uma mulher linda, morena, com um vestido perfeito, verde. – Aquele vestido deve custar a minha vida! – comenta, apreciando o vestido.
— Deve mesmo – concordo, pegando o meu celular na bolsa. Nove e cinco, Rhyss está atrasado.
— Sim ele deve sido ter feito especialmente para ela – comenta, reviro os olhos, Sophi ama moda. Eu gosto, mas não tanto quanto ela.
— Tudo bem, depois você vai lá conversar com ela. Agora, vamos trabalhar – aviso, pegando em seu braço e arrastando-a dali.
Começo a circular com Sophi pelo local, a orquestra já está tocando uma música clássica e antiga, já tem algumas pessoas dançando, o local já está bem cheio, alguns homens sorriem para nós e nos chamavam para dançar, recusei todos, mas Sophi não teve tanta sorte, teve que dançar com um gordinho careca.
Depois que a música acabou, ela voltou bufando de raiva.
— Aquele nojento, juro que não vou dançar com mais ninguém! Da próxima vez, vou ser mal educada, ele estava todo suado, que nojo! Poderia ter manchado o meu vestido. – Tento disfarçar uma gargalhada. – Não tem a menor graça! – Cruza os braços, fazendo bico. – Francamente, estou decepcionada com essa feira, pensei que teria caras bonitões por aqui, mas estava totalmente engana... – Ela para a frase e foca em um ponto atrás de mim. – Meu Deus do céu, retiro tudo o que eu disse. Quem é aquele moreno tentação ali? – pergunta, viro-me para ver quem é o cara da vez e vejo um homem, alto, moreno, forte, maxilar quadrado, olhos negros profundos e lábios moldados, corpo másculo e esguio, ele está com um terno preto e calça social combinando, um sapato social, uma blusa branca de botões embaixo e uma gravata preta, tradicional, mas elegante, ele era realmente muito bonito.
— Não conheço - digo para Sophi, que estava sorrindo abobada, olhando para o tal cara.
— Eu tenho que conhecê-lo – ela diz determinada. – Vem, vamos dar uma circulada – fala, ajeitando a roupa. Um garçom passa por nós, eu coloco a minha taça na bandeja e acompanho Sophi.
Passamos por várias pessoas, mais algumas supermodelos tinham chegado, e uns caras bonitos as acompanhavam. Sophi nem olhou para os lados, apenas seguiu até o homem que estava conversando acaloradamente com uns asiáticos, ele tem um sorriso fácil, lindo, chegamos bem perto dele e paramos.
— Como você vai fazer para falar com ele? – pergunto interessada, ela me dá uma piscadela.
— Veja e aprenda! – Andando mais um pouco perto dele, ela finge tropeçar e se segura nele, que a segura pela cintura. – Me desculpa, eu... Eu sou tão desastrada – fala, ainda se segurando nele. Algumas pessoas que estavam por perto os observavam, o homem a olhou dos pés à cabeça e, depois, abriu um enorme sorriso. "Pronto, foi fácil", penso, sorrindo e balançando a cabeça.
— Não tem problema. Você se machucou? – pergunta, ele tem uma voz suave e levemente empolgada.
— Acho que torci o tornozelo – diz Sophi, fingindo cara de dor. Sorrio, essa daria uma ótima atriz.
— Vem, vou ajudar você – ele diz, segurando na cintura dela e a ajudando a andar, enquanto essa fingia mancar. Eles vieram na minha direção. Logo, trato de ajudar Sophi.
— Ah, eu vi o que aconteceu, Sophi. Você está bem? – pergunto, entrando no jogo, ela sorri e pisca.
— Ela virou o pé e torceu o tornozelo – o homem responde. – Você sabe quem está comandando a festa? Podemos pedir gelo – ele fala com Sophi, estendo a minha mão para ele.
— Becker Norren, prazer, eu sou a organizadora – digo, ele abre um sorriso e aperta a minha mão. – Vem, eu arrumo gelo para vocês.
— Sou Blaise Dewes – ele se apresenta, troco um olhar com Sophi, peço licença e vou até o pessoal do bufê pegar gelo e o coloco em um pano. Volto e entrego o pano.
Vamos com Sophi para as cadeiras do leilão, ele a senta e se acomoda ao lado dela, ajudando-a com o gelo. Agradece-me e começa a conversar com ela. Pisco para ela e saio, sabia que teria que tomar conta de tudo sozinha.
Por falta de algo para fazer, vou para a entrada, onde está tendo um pequeno estardalhaço entre os fotógrafos. Quando chego, vejo Jonas e Rhyss juntos, fico ali, observando-os, ou melhor, observando-o.
"A quem estou querendo enganar?" – penso, olhando Rhyss, que é o primeiro a sair de perto das câmeras.
Vejo-o aproximando-se e viro-me, indo embora, entrando no meio das pessoas.
— Senhorita Norren - o ouço me chamar em voz baixa, atrás de mim, foi automático sentir um arrepio descer pela minha espinha e meu estômago começar a revirar.
Respiro e, como não tem um jeito de sair correndo, viro-me para ele, perdendo totalmente as palavras.
"Deus, não acho que seja capaz de uma pessoa ficar tão bonita de terno" – penso, estática, vendo o seu conjunto de terno e calça social preta, a camisa de botões, também preta, assim como a gravata. Ele está lindo.
Pisco algumas vezes, tentando me estabilizar, e vejo seus olhos azuis, destacados pelas cores escuras da roupa, escanear minimamente cada parte de meu corpo e tudo o que eu penso é: "Que se dane Jonas, que se dane o passado, eu quero beijá-lo, e quero agora!"...
— Você está deslumbrante – ele elogia. Meu coração... Não sei dizer se parou ou se está acelerado demais para perceber que ele está batendo.
— Eu... Obrigada... Você também está... muito bonito – elogio, conseguindo formular uma frase entre gaguejos.
Logo, a vontade de me aproximar se faz presente, e sinto alguém enlaçar a minha cintura. Olho para o lado e Jonas parece estar deslumbrado.
— Você está maravilhosa, minha linda – elogia e beija-me rápido, deixando-me sem reação.
Olho para Rhyss, constrangida, depois do beijo e, então, olho para o chão, incomodada com o olhar frio dele.
— Obrigada – agradeço baixo a Jonas e me solto de seu aperto. – Se me dão licença, cavalheiros, tenho que trabalhar – aviso, sorrindo mecanicamente.
— Tudo bem, na hora do leilão, a gente se encontra – fala Jonas e se aproxima. Concordo e, antes que ele me roubasse um beijo, eu lhe beijo a bochecha e sorrio para Rhyss, sem olhar diretamente em seus olhos, e saio.
Só consigo respirar melhor quando estou longe. "Céus, vai ser difícil encarar essa festa com os dois".
Volto ao meu trabalho com a imagem de Rhyss na cabeça, e tento evitar os dois, evitar Rhyss, por querer pular em seu pescoço na primeira oportunidade de nós dois sozinhos, e evitar Jonas, por me sentir culpada de querer isso.
A festa já está com todos os convidados, as arrecadações já tinham começado e as pessoas já estavam se soltando mais, a pista bem cheia. Passando pela mesa do bufê, Jonas vem até mim.
— Estava te procurando – diz, sorrio, procurando por Rhyss perto dele, nada.
— Desculpa, estava ocupada - "te evitando", completo no pensamento.
— Tudo bem, você estará desculpada, se me conceder uma dança – pede, e eu sorrio.
"Jonas é compreensivo, gentil e bonito, não é mulherengo. Então, por que a dúvida?" – questiono-me mentalmente, acompanhando-o até a pista de dança. Ele coloca a mão em minha cintura e segura a outra mão, enquanto me guia pela pista.
— Já te disse que está linda? – pergunta, gargalho baixinho.
— Já – digo, admirando seu sorriso que nunca sai do rosto.
— Pois bem, repito que está linda.
Sorrio e lhe beijo devagar. "Ele é o certo, é dele que preciso" – minha mente diz para mim mesma, e fico repetindo isso como um mantra em minha cabeça, até a música acabar. Jonas pede mais uma dança, mas alguns acionistas o chamam para conversar sobre negócios, ele me pede desculpas com o olhar e me dá um último beijo, afastando-se.
Volto a andar sorrindo e vou conferir o leilão, que logo irá começar. No caminho, um homem asiático me para e pede uma dança, tentei recusar, mas não deu certo, então, vamos para a pista.
Começamos a dançar, ele solta alguns elogios, que agradeço sem graça. Ele é até simpático, de boa aparência, mas não estou gostando nada de sua mão tão perto da minha bunda. Pego a mão do tal e a arrasto para o meio das minhas costas, mas logo ele a arrasta para o lugar de volta. "Abusado! Calma, Beck, nada de escândalos, não vá perder o emprego" – falo mentalmente, não farei uma cena, pois ele pode negar tudo, mas tenho que arrumar um jeito de sair daqui.
Olho por cima do ombro do homem, procurando alguém conhecido, Sophi, Jonas, até mesmo Rhyss. Ninguém... Então, olho por cima do meu ombro, e lá está ele, observando-me, a sua feição não era uma das melhores, ele está parado, com uma taça de champanhe na mão. Sinto a mão do homem se mover para o começo da curva da minha bunda, corto o contato com Rhyss e olho um pouco surpresa para o abusado que levará um belo tapa, se a música não acabar logo. Ele sorri.
— Você é muito bonita – diz, juntando mais nossos corpos.
— Você já disse isso – respondo secamente, tentando fazer um espaço entre nós.
— Estava falando com os meus amigos sobre o quanto você é bonita. – Sorrio sem graça, querendo sair dali, mas tinha que tratar bem os clientes. – Queria saber se você não quer ir para um canto mais reservado. – Faço que não e tento me soltar, ele me segurou mais forte.
Olho por cima do ombro novamente e procuro por Rhyss, encontro-o ainda observando-me, lanço a ele um olhar de socorro, e tão logo a música acaba, mas o homem não me solta.
— Me solte – mando baixo, já estressada, ele sorri. Nunca mais venho a festas de gala com velhos aproveitadores.
— Por quê, linda? – ele pergunta, sorrindo. – É uma festa, vamos nos divertir um pouco.
— Me solte! – insisto, tentando empurrá-lo.
As pessoas a nossa volta nem perceberam o que estava acontecendo, e logo começaram a dançar com a nova música. Viro-me para procurar por Rhyss de novo, deparando-me com ele ao meu lado.
— Boa noite, senhor Kwan – Rhyss deseja e lhe estende a mão, o tal homem me solta e aperta a mão dele.
Vejo uma careta da parte do tal Kwan ao apertar a mão de Rhyss. Depois do aperto, Rhyss segura em minha cintura de forma possessiva e me puxa junto ao seu corpo, fazendo-me ficar em sua frente, arrepio sobre o contato dele atrás de mim, eu quero pular no pescoço dele e agradecê-lo eternamente por me salvar.
— Espero que esteja aproveitando bem a sua noite – ele fala, o outro concorda e sorri. – Ótimo! Se me der licença – pede, mas não ri para o homem, começa a andar, levando-me para o outro lado da pista.
Então, para, vira e segura em minha cintura de forma gentil. Depois, na minha mão, começando a me guiar em uma dança. "Oh, Deus, vou acabar perdendo a cabeça" – penso, encarando as suas íris azuis, lindas.
— Obrigada – agradeço sem jeito, encarando sua gravata, meu estômago está lutando com o meu lanche da tarde, só pode! Ele apenas concorda com a cabeça.
— Tive a sensação de que você esteve fugido de mim a festa toda – ele fala, depois de um tempo de silêncio. Encaro-o.
— Se teve essa sensação, é porque esteve me procurando então – concluo sem gaguejar. Tenho certeza de que as pessoas mais próximas de nós conseguem ouvir meu coração.
Ele desvia o olhar do meu e tão logo me encara, agora, segurando a minha cintura com as duas mãos, deslizo as minhas pelo seu terno.
— Talvez estivesse, senhorita Norren – admite –, é difícil não procurar por você, e hoje está mais que nunca – anuncia e olha para a minha boca.
"O infarto vem agora" – penso, olhando em seus olhos, que estão focados em minha boca. Mordo o lábio. Rapidamente, ele olha em meus olhos como se pedisse para eu não fazer isso. Rhyss, sem ação, apenas fica me olhando, enquanto seguro a gola de seu terno com uma mão e, com a outra, começo a deslizar para o seu pescoço.
Passo a mão por cima do seu peito, onde fica o coração, e consigo senti-lo descompassado, assim como o meu, embora ele não demonstre isso por fora, embora ele não demonstre nada em sua feição.
Levanto os pés para alcançar sua boca, já que ele não se move. Ele me segura na cintura com mais força, dando-me resistência. Aproximo-me mais de sua boca e, então, consigo ver Jonas nos observando por cima do ombro de Rhyss. Rapidamente, fico normal e, com um suspiro culpado, encosto minha cabeça em seu peito, fechando os olhos.
— Oh, céus... O que estou fazendo? – pergunto um pouco alto, e tenho certeza de que Rhyss ouviu.
Respiro um pouco, ainda deste modo, ele segurando em minha cintura e eu com a cabeça em seu peito, escondendo meu rosto, sentindo seu perfume... "Tenho que sair daqui", penso.
— Eu... – começo, levanto minha cabeça para encarar seus olhos, mas gaguejo. – Obrigada pela dança – agradeço, como se nada tivesse acontecido, e afasto-me, deixando-o na pista. Logo, vejo Jonas se aproximando.
Prendo a respiração, esperando pelo pior. Então, ele sorri e me beija de forma rápida. "Ele não viu nada" – penso, aliviada e culpada. – "Você tem que se decidir, Beck" – repreendo-me e olho para Jonas, que sorri tão sincero e inocente para mim.
— Vamos, linda, o leilão vai começar – chama, olho para trás e procuro por Rhyss, que já não está mais na pista. Então, culpada pelos dois, deixo-me ser arrastada para as cadeiras do leilão.
Quero ir embora, mas a feira parece estar bem longe de acabar.

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