capítulo 3

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Mais um dia de trabalho, já estou na empresa. O elevador vazio, um bom sinal. Olho-me no espelho, arrumando o cabelo desalinhado do rabo de cavalo, e passo a mão pelo meu vestido vinho, esse é um pouco solto, tem um decote simples na frente e, para completar, um salto preto fechado, parecendo uma botinha.
O elevador se abre, olho para a sala de Rhyss, onde não tem ninguém, outro bom sinal. Vou para a minha sala. Hoje será um longo dia... Olho em minha agenda para conferir o que tenho para fazer, hoje começa a organização da feira e Rhyss também tem algumas reuniões. Dia lotado, porque sei que serei eu a ficar com a parte pesada do trabalho.
Sento-me e começo a dar telefonemas e a confirmar com os decoradores, já que hoje tem uma reunião com eles. Hoje faz calor, mas nada insuportável.
Começo a mexer nos papéis para a reunião, distraída.
— O que tenho hoje? – perguntou Rhyss, fazendo-me sobressaltar, coloquei a mão no coração e respirei fundo.
— Está louco? Quer me matar de susto? – pergunto, sem conseguir esconder a irritação em minha voz, e olho para o mesmo, prendendo a respiração. O seu terno e calça sociais, a camisa branca, social, de botões, a gravata preta, realçando seus olhos azuis e seu cabelo loiro despenteado... "Meu Deus, que homem", penso, olhando-o de cima a baixo e sentindo-me excitada. "Atração física é uma merda", torno a pensar e, corada, olho para os papéis em minha mesa, tentando me recompor.
— A agenda, Srta. Norren – Rhyss fala e estala os dedos, concordo com a cabeça, sem conseguir formular qualquer frase, e começo a procurar a agenda em minha mesa.
— Aqui – digo vitoriosa, devido à busca quase sem fim, ergo a agenda e olho para Rhyss, ficando sem graça logo em seguida. Ele está me observando meticulosamente e pareço ver um vislumbre de sorriso, mas só um vislumbre, frustrante. – Bom, você terá outra reunião com os Franceses, será às dez; a reunião com os investidores à uma da tarde; às quatro com os contadores; os chineses desmarcaram, então, ficou uma brecha no seu horário de duas às três. Aí vai depender do horário que acabará a sua reunião com os investidores. Quer que eu marque algo ou não precisa? – pergunto, pegando a caneta.
— Não – fala, desabotoando o terno. Assim, consigo ver o seu peitoral moldado pela camisa. Avalio-o para, logo em seguida, desviar o olhar. "Parece que nunca viu um homem de terno, Becker", penso irritada, e começo a morder a tampa da caneta nervosa. – Como tem ido os preparativos da feira? – pergunta e se senta na cadeira em minha frente, olho para o outro lado da sala, menos para ele, para não haver perigo algum de perder a fala ou gaguejar.
— Bem, falando nisso, tenho uma reunião com os decoradores hoje, escolher as coisas para a feira.
— Ótimo, que horas será? – ele quer saber.
— Às duas. – Rhyss levanta, abotoando o terno novamente, e vira para ir embora. De repente, do mesmo jeito que veio.
— Marque em minha agenda este horário, irei nesta reunião com você – fala, saindo, e vai para a sua sala.
"Merda, eu a minha boca grande" – penso irritada, anotando em sua agenda, com tantas pessoas para me sentir assim, tinha que ser logo com o homem mais cretino do prédio.
Paro de pensar e foco nos papéis a minha frente, arrumar essa papelada antes de começar as reuniões, melhor que ficar pensando em besteira. Já quase dando o tempo da reunião, eu paro, começo a organizar tudo e a guardar cada coisa em sua devida pasta, meu celular começa a tocar, pego e olho no visor, Sophi.
— Alô – atendo no segundo toque.
— Oi, Beck – Sophi fala, calorosamente, meu apelido.
— Oi – digo, deixando os papéis de lado e me descansando na cadeira.
— E essa voz de derrotada?
— Muito trabalho, estou sobrecarregada – digo, massageando a têmpora.
— E como estão as coisas por aí? – pergunta Sophi, com a voz esperançosa.
— O mesmo que te disse ontem – respondo, girando a minha cadeira e olhando o movimento da Times.
— Quero saber detalhes, amiga, detalhes – ela pede e eu bufo.
— Você se lembra daquela história que te contei no dia da entrevista de emprego, daquele homem que me entornou café...? – Eu ainda não contei para a Sophi que eu já o conhecia.
— Sim, e que você mandou ele se ferrar – ela completou, rindo. – Mas o que isso tem a ver com o...? ... Oh, não venha me dizer que o homem era ele? – ela perguntou logo em seguida, com tom de surpresa na voz.
— Era – digo pesarosa. – Ele me chamou de mal educada indiscretamente.
— Mas você tem que admitir que ele também é lindo - fala Sophi, reviro os olhos.
— Tá, tudo bem, Rhyss é lindo, satisfeita? – pergunto irritada, ouso a sua risada. – Mas também é um grosso filho de uma...
— Rum... – ouço alguém pigarrear e me viro rapidamente.
Rhyss está parado no batente da porta, com as mãos no bolso e feição seria, olho para o mesmo com os olhos se alargando a cada segundo, minha mão afrouxa e o celular cai.
"Merda" – xingo mentalmente. – "Merda, merda, merda, merda" – penso novamente e me abaixo para pegar meu celular, que rolou para debaixo da mesa, fazendo mil preces para que ele não tenha ouvido nada, e tento voltar para a minha cadeira, mas bato a cabeça com tudo na mesa de metal.
— Ai! – digo, tonta, massageando a cabeça.
— Você está bem? – pergunta Rhyss, faço que sim, com os olhos lacrimejados. Então, sinto duas mãos em meu quadril. Congelo, sentindo meu estômago revirar, ele me coloca sentada na cadeira e sai da minha sala.
— Au – digo, ainda com a mão na cabeça, tentando fazer meu estômago se acalmar, e logo Rhyss retorna com um copo de água na mão.
— Você é um desastre. – Ele me entrega o copo.
— Eu estou tonta, não surda, Sr. Rhyss – digo irritada, e posso jurar que ele sorriu. Pego a água de sua mão, bebendo-a, descanso o copo sobre a mesa e fecho os olhos para ver se as coisas param de girar.
Quando os abro novamente, Rhyss está perigosamente perto, ele pisca algumas vezes e se afasta. Infelizmente, pular no pescoço dele e beijá-lo não é uma opção.
— Você está bem? – ele pergunta, colocando as mãos no bolso novamente.
Olho surpresa para ele.
— Estou melhor – digo, dando de ombros. – Então, quer algo de mim, Sr.
Rhyss? – pergunto, recompondo-me.
— Com certeza, não vim aqui para ouvir você fofocar sobre mim – ele diz sério, e cerro os dentes, ele ouviu.
— Me desculpa, eu... – não sei o que dizer, só não posso perder o meu emprego. – Não...
— Arrume suas coisas, Srta. Norren. – Deus, estou demitida. Fico parada, estática, no lugar. Rhyss estala os dedos em minha frente. – Logo, Srta. Norren, temos uma reunião e não estou com tempo. – Entendo tudo com um suspiro de alívio e começo a arrumar as coisas rapidamente, enquanto Rhyss se encaminha para o elevador.
Chego ao corredor e ele já me espera no elevador, entro e fico ao seu lado, sentindo o seu magnetismo sobre mim. E, para desviar a minha atenção, começo a mexer no celular, onde tem uma mensagem de Sophi.
*** Me liga, por favor. Espero não te ter colocado em enrascadas.
Sophi.
***  Está tudo bem, depois conversamos.
Becker.
***  Escrevo e envio.
O pequeno passeio até a recepção foi horrível, o cheiro de Rhyss está invadindo todo o lugar, isso só piora a situação, fico batendo o salto no chão de metal, fazendo um barulho irritante, até ele segura a minha perna, como se pedisse para eu parar. Congelei no lugar, olho para a mão dele e quero que ela suba, consigo imaginá-la subindo, mas isso não acontece. Rhyss olha onde ele está com a mão, depois, para mim. As portas do elevador se abrem e ele sai.
"Que porra de imaginação foi essa?" – penso e bufo frustrada, saindo do elevador.
Vou atrás de Rhyss, que desfila pelo térreo sem ter nenhuma intenção disso, não cumprimenta uma única pessoa. Saímos pela porta de vidro e ele entra em um carro preto, Fiat Freemont, que estava estacionado em frente ao prédio, o motorista segurava a porta para que eu entrasse e, quando o faço, ele a fecha.
— Aonde vamos? – pergunto, ajeitando-me no banco. O carro é lindo, já o tinha visto em catálogos e até na rua, mas nunca tinha entrado em um. Tem dois lugares atrás, e um vidro fumê no meio, separando-nos do motorista. Os bancos de couro negros, assim como os vidros. Cruzo as pernas e posso jurar que os olhos de Rhyss acompanharam esse movimento.
— Em um restaurante, a nossa primeira reunião será lá – ele explica, fitando-me profundamente, fico desconfortável com isso e começo olhar a janela onde os prédios passavam devagar. "Ficarei sem almoço, ótimo", penso, sentindo a minha barriga pedir, gritar por comida.
Saio dos meus pensamentos quando o motorista abre a porta para mim, Rhyss está na calçada, esperando-me com aquele ar autoritário, frio e imponente, como se nada pudesse atingi-lo, e eu tinha quase certeza que não podia mesmo. Três dias que eu estou com ele e já não sei o que pensar, esses últimos dias serão cheios.
Rhyss me espera passar em sua frente e vem logo atrás, entro no restaurante sofisticado e logo vem um homem até mim.
— Você tem reserva? – ele me perguntou, e eu fico quieta.
— Tenho – Rhyss responde atrás de mim, fazendo o homem focar nele, este se sobressaltou e foi de encontro a ele.
— Me desculpe, Sr. Rhyss – ele pede –, não o tinha visto aí. Acompanhe-me, a sua mesa está pronta. – O homem parece conhecer Rhyss muito bem.
Olho para Rhyss, que fica esperando eu ir atrás do homem, e assim o faço, dando uma pequena olhada pelo restaurante, um ambiente agradável e sofisticado, as poucas pessoas do local focadas em seus acompanhantes ou no que estão fazendo.
Sinto meu estômago revirar de fome. Estou sem café, e este está protestando pela minha falta de consideração por ele.
O homem para e nos mostra uma mesa onde ficávamos fora do alcance dos olhares, com quatro cadeiras ao seu redor. De vidro, a mesa era coberta com panos de seda vermelho escuro, pratos branco e talheres de prata colocados em frente às cadeiras. Rhyss puxou uma cadeira e olhou para mim, fico espantada com este gesto, enquanto ele espera eu me sentar.
— Sente-se logo, Srta. Norren – pede. – Não me olhe como se nunca me imaginasse fazendo esse gesto. – Me sento ainda espantada.
— Bom, é porque é um pouco difícil imaginar você... – paro de falar antes que acabe falando besteira.
— Posso ser cavalheiro, quando quero – fala, sentando-se em minha frente, ele deve ter o dom de ouvir o que estou pensando.
— Eu não disse...
— Mas muitas pessoas não merecem isso – continua. – Posso ser muitas coisas quando quero, Srta. Norren – ele insinua. Agora, ele está sendo mais falante que de costume.
Fico em silêncio, não sei o que falar. Rhyss pega o cardápio e o olha meticulosamente.
— Escolha algo para comer, Srta. Norren, vamos almoçar antes da reunião – Rhyss avisa, sem tirar os olhos do cardápio.
— Mas eu...
— Escolha rápido, já chamarei o garçom.
— Tudo bem – falo irritada, vencida pelo cansaço. Passo os olhos pelo cardápio, mas já sei o que quero. Fecho o cardápio e o descanso na mesa, Rhyss faz um gesto, chamando o garçom.
— Já sabem o que vai pedir? – pergunta um garçom sorridente, olhando para mim, sorrio de volta.
— Sim, eu vou querer frango grelhado. – Entrego-lhe o cardápio, este o pega e anota meu pedido.
— Vou querer um salmão defumado e um vinho seco – ele diz, fechando o cardápio e entregando-o ao garçom, que anota rapidamente. Pega o cardápio e se vira para ir embora, volta logo depois com um vinho. Servindo nós dois, deixa a garrafa e sai.
Rhyss pega a sua taça e experimenta o vinho, já eu fico receosa, pois tenho baixa tolerância a álcool, mas o beberico, sentindo seu gosto bom. Rhyss fica observando cada gesto e cada movimento meu, estou ficando constrangida.
— Pode, por favor, para de me olhar assim – peço, olhando para tudo, menos os olhos dele.
— Estou te olhando como? – pergunta. Agora, eu o encaro. Grande erro, este passa o polegar no canto do lábio superior, meu estômago revira.
— Assim, como se me... se... me inspecionasse – gaguejo, repreendendo-me por isso, espero que ele fique em silêncio, mas ele não o faz.
— É que é inevitável não fazê-lo – responde, novamente, estou sem graça e sem fala, não sei por que reajo assim perto dele.
Não respondo nada e permaneço em silêncio até a comida chegar. Com o olhar de Rhyss sobre mim, começamos a comer, em silêncio. Quero falar algo, mas não sei o que dizer, resolvo ficar quieta, mas Rhyss parece que não.
— Qual é a sua cor preferida? – ele pergunta. Olho-o incrédula. Cor? É sobre isso mesmo que ele está perguntando? – Apenas responda – ele pede, fazendo-me arquear a sobrancelha, ainda assombrada, concordo. Que diabo de pergunta é essa?
— Verde – respondo pesarosa e ele maneia a cabeça. Ficamos em silêncio, não sei o que falar, mas não quero que o silêncio constrangedor volte. – E a sua? – pergunto sem pensar, e ele parece estar surpreso, espero o mesmo terminar de mastigar, na expectativa. Cores não é lá a conversa que eu esperava. "Afinal, o que eu esperava?"...
— Ainda estou decidindo – ele reponde sério. – Era preto até três dias atrás, agora, eu tenho as minhas dúvidas – termina, desviando o seu olhar do meu.
Concordo com a cabeça, sem saber exatamente o que ele dizia. – Comida preferida? – continua, isso está ficando bizarro. Para quem não falava nada, agora está falando até demais, ou melhor, perguntando até demais, nem Jonas tinha me feito essas perguntas.
"Sério que eu estava comparando os dois? Mas que droga"...
— Na verdade, é frango grelhado – respondo.
— Sobremesa? – Ergo a sobrancelha.
— Sr. Rhyss, eu não estou...
— Sobremesa – insiste. Vencida, respondo:
— Torta de morango.
— Fruta? – continua, isso está esquisito.
— Morango. – Rhyss se silencia e me espera falar. Para quê ele quer saber tudo isso?
— Isso responde muita coisa – ele diz, comendo a comida, arqueio a sobrancelha. - Livro?
— Ah, essa é fácil. – Sorrio involuntariamente. – O diário de Anne Frank.
— Filme?
— Guerra mundial Z. – Agora, é a vez dele arquear a sobrancelha.
— Essa me surpreendeu – ele diz, sem expressão. – Perfume? – coro, muito!
Como eu digo que é o dele?
— Não tenho – minto.
— Flor?
— Não gosto de flores – minto novamente, gosto que as pessoas descubram essa, mesmo que eu saiba que ele não vá tentar descobrir.
— Toda mulher gosta de flores – ele insiste.
— Eu não – respondo sem rodeios, e ele maneia a cabeça. Então, ele se cala.
Tudo bem, vou fingir que isso não foi estranho, vou fingir que Aaron Rhyss não me fez perguntas que muitos não fizeram, vou fingir que meu estômago não está agitado e que parece que as borboletas nele, antes mortas, agora estão vivas e não querem mais se aquietar.
— Comida preferida? – pergunto involuntária. O garçom vem, recolhe nossos pratos e pergunta das sobremesas, Rhyss pede um café, e eu peço uma torta de morango.
Ele parece achar meu pedido engraçado, tão engraçado que, pela primeira, vez o vejo sorrir mínima e rapidamente de canto, fazendo que não com a cabeça, estou ferrada. "Só espero que ele não sorria mais... Ou quero que ele sorria toda hora? Droga, esse homem me confunde" – penso e suspiro forte, afastando meus pensamentos. Rhyss me olha avaliativo quando o garçom sai, estou esperando uma resposta sua.
— Não tenho – respondeu, cruzando os braços. Apoio os cotovelos na mesa.
— Sobremesa? – Ele fez que não. – Fruta? – Não outra vez. – Livro? – Se ele fizer que não, eu bato!
— Drácula – responde. Sorrio.
— Um clássico! – O olhar dele se prende em meu sorriso, logo fico corada e séria. - Filme? – Ele fez que não. – Não é possível que não goste de nada – digo, um pouco irritada – Perfume? – Ele, então, fica sério e não me olha, parece cogitar a possibilidade de me responder ou não. Olha-me nos olhos, parece que se decidiu.
— O seu. – Coro. Meu Deus, acho que não ouvi direito.
— Eu falo sério, Sr. Rhyss – contorno a situação, dando uma risada fraca e sem graça. O garçom se aproxima e coloca nossos pedidos sobre a mesa, parto um pedaço da torta e a levo até a boca. Rhyss ainda me olha.
— E pareço estar brincando, Srta. Norren? – pergunta mais sério que antes e com a voz rouca, mastigo a torta e engulo com dificuldade. Céus, se não houvesse mais ninguém aqui, eu o agarraria! "Esse olhar sério o deixa muito sexy", pensar assim faz com que me sinta culpada por causa de Jonas. Concordo com a cabeça, escolhendo quais serão as minhas próximas palavras.
— Certo... – falo, olhando para a torta. – E que cheiro tem o meu perfume? – consigo dizer, eu não uso perfume, tenho alergia a eles, sentir o dos outros não é problema nenhum, mas ele em contato com a minha pele a deixa vermelha e empolada.
— Morango – responde, olhando para a minha torta. Depois, para o meu pescoço. Fico em silêncio, sem saber mais o que falar. Ou melhor, sem querer falar mais nada, não posso desejar Rhyss, mesmo que por atração, não posso fazer isso comigo, ele não é o homem certo.
Depois do silêncio, pior que os anteriores, os investidores finalmente chegam e a reunião começa.
Saímos do restaurante. Eu estou desconcertada. Nos três dias que fiquei com Rhyss, percebi que ele era realmente direto e sem rodeios.
— Vamos? – Rhyss pergunta, abrindo a porta do carro para mim, concordo, odeio quando ele de repente fica cavaleiro. Ou será que gosto? Estou ficando louca.
O trajeto foi feito no mais profundo silêncio, fico repassando a nossa conversa na cabeça, e nada parece fazer sentido.
O carro para, despertando-me do meu transe. Abro a porta antes que Rhyss e o motorista o façam, não quero que ele seja legal comigo, não quero mais um motivo para me sentir atraída por ele.
Arrumo minha bolsa sobre o ombro e me encaminho para dentro do hotel sem esperar meu chefe.
— Oi, sou Becker Norren e aluguei a cobertura do hotel – explico, a atendente abre um sorriso enorme, concordando rapidamente com a cabeça, e me leva até o elevador. Entro e tão logo vejo Rhyss entrando também. "Merda, o elevador podia ter fechado na cara dele", penso e olho para a atendente, que está toda risonha para ele. Pigarreio, revirando os olhos. "Ridículo", ela fica sem graça e, com um último sorriso, se vira e sai rebolando. Estreito os olhos para as costas da biscate, desejando que ela caia, infelizmente, não acontece.
Olho para Rhyss, ele não está olhando para ela, e sim para mim. Corada, olho para frente e aperto o botão do terraço. O elevador sobe rápido, para a minha alegria.
No terraço, já tem pessoa esperando, parece que todos já estão ali. Apresento-me e logo apresento Rhyss, todos ficam meio intimidados com ele, afinal, todos o conhecem.
A reunião começou, conversei com os decoradores tudo o que seria necessário e tudo o que queria, como queria. Rhyss não opinou em nada, deixou tudo por minha conta, parecia que ele não estava ali, mas eu conseguia senti-lo me acompanhar com olhar para cada canto daquele terraço.
A reunião acabou, a decoração foi marcada para começar amanhã. Já são quase quatro horas, despeço-me de todos e vou para o elevador com Rhyss. Se não nos apressarmos, chegaremos atrasados.
Chegamos à empresa e Rhyss me dispensa, indo para a sua última reunião do dia. Aliviada, encaminho-me para a minha sala. Depois do longo percurso até ela, sento-me em minha cadeira e, frustrada, só consigo pensar em Rhyss.
— Merda – falo alto, pego o meu celular e disco o número de Sophi, preciso desabafar. – Alô – digo quando ela atende.
— Beck, graças a Deus! Pensei que tivesse te colocado em algum problema – fala aliviada.
— Está tudo bem, mas ele ouviu o que eu disse. – Ela parece prender a respiração.
— E...? – incentiva.
— E nada, ele me mandou ir atrás dele para irmos a uma reunião.
— Menos mal. – Concordo com a cabeça, ciente de que ela não pode olhar, preciso desabafar.
— Nós fomos a uma reunião em um restaurante e almoçamos por lá, estranhei quando ele começou a fazer perguntas... – disparo a falar.
— Perguntas? – Sophi me interrompeu interessada. – Que tipo de perguntas?
— Perguntas tipo: minha cor favorita, meu filme favorito – respondo.
— Espera... Aaron Rhyss te perguntou qual sua cor preferida? – pergunta surpresa. – Deus do céu, alguma coisa ele quer de você, nenhum homem faz esses tipos de perguntas sem interesse.
– Bufo. "Até essa conclusão eu cheguei sozinha", penso.
— Sophi, quando acabar o trabalho, encontre-me no térreo – peço, ela concorda e eu desligo.
***  — Tudo bem, deixa eu processar essa história direito – Sophi fala, estamos em minha casa, já acomodadas e comendo pizza. – Rhyss simplesmente respondeu que o perfume preferido dele era o seu – fala para si mesma –, e falou que não estava brincando. – Concordo quando ela olha para mim. – A pergunta que não quer calar é:
Por que você ainda não o agarrou? – Frustrada, largo o meu pedaço de pizza no prato e me levanto, andando de um lado para o outro.
— Além de ele ser meu chefe?... Deixe-me pensar... – falo sarcástica. – Ah, sim, ele é meu chefe, isso já é motivo suficiente – respondo.
— Pode parar, Becker, não é só isso que te impede, até porque ele parece estar a fim de você, com essas olhadelas, essas perguntas e tudo mais...
— Sim, quer dizer, não... Ai, não sei... Esse cretino me confunde – falo irritada, jogando as mãos para o alto para, logo em seguida, pousá-las no quadril.
— Tá bom, vamos fingir que o que ele quer não importa agora, mas... O que você quer? – Uma ótima pergunta. Paro de andar e a encaro, deixando minhas mãos caírem.
— Não sei – admito, sento-me e pego novamente meu pedaço de pizza. – Tem horas que quero agarrá-lo e beijá-lo, mas tem horas que quero mandá-lo ir à merda.
— Deus! Agarre-o logo e termine com esse martírio, atração física nunca foi crime – recomenda entediada, mordendo o seu pedaço.
— Sophi, está esquecendo-se de um pequeno, mas não menos importante, detalhe... - Ela arqueia a sobrancelha. – Jonas. Eu não posso e... E... – não consigo terminar, ela levanta de um pulo.
— Mas Jonas não é nada sério, pelo que eu sei.
— Sim, mas...
— “Mas” nada, Beck – ela me corta. – Pare de ficar procurando cabelo em ovo. Você não pode ou não quer por causa do Jonas? – A pergunta que não queria se calar, eu não podia ou não queria, talvez não seja por causa de Jonas, mas sim de mim.
Minha cabeça falava uma coisa, enquanto meu corpo pedia outra, enquanto meu coração gritava outra. Estou mais que confusa.

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