__Ela está em casa? - pergunto esperançosa. Meu pai faz que sim. A casa de repouso em que ela fica permite que ela passe um dia conosco.
- Ela perguntou por você há algumas semanas - fala, sorrindo. - Disse que tínhamos que fazer uma festa para o seu aniversário, mas vou avisando, filha, não devemos pressioná-la - avisa, faço que sim e entro em casa.
Está bem mudada, os sofás, antes de couro, agora são brancos. A sala está maior e tem uma parede que bate na altura da minha cintura dividindo a sala da cozinha. A mesa de centro é de madeira e tem uma televisão não muito grande dependurada na parede; em outra, um quadro falsificado de Picasso. A cozinha planejada com uma bancada no centro. Olho para papai, que me observa.
- Mudei um pouco a casa com o seguro que recebi, não foi grande coisa.
- Ficou linda - digo, sorrindo, estou muito feliz. A reforma sempre foi uma coisa que minha mãe quis.
- Vamos? - pergunta meu pai, subindo as escadas, olho para Derek, Frank e Scarlet...
- Não vamos embora - adianta-se Scarlet e sorri. Balanço a cabeça em concordância e subo atrás de papai. O pequeno corredor tem três portas, a do quarto dos meus pais, que é no final do corredor, a do meu quarto, no lado direito, e a do banheiro, de frente para a minha porta, ao lado esquerdo.
Vamos direto para o quarto da minha mãe. Meu pai abre a porta. O quarto deles não está muito diferente. A cama mudou, e o guarda roupa também. As cortinas estão mais claras, e minha mãe, que está sentada na poltrona que tem ao lado da janela, tem o cabelo preso em um rabo de cavalo. O seu vestido florido, longo, revela o quanto emagreceu, mas vendo o seu semblante, dá para notar que, pelo menos, está feliz.
Logo que a avisto, meus olhos se enchem de lágrimas. Ela sorri para o meu pai, que se aproxima da mesma e a beija no topo da cabeça. Aproximo-me cautelosa pelo seu olhar, e sento-me na cama, de frente para ela, não consigo parar de chorar.
- Quem é ela, Richard? - pergunta, meu coração se aperta, ela não se lembra.
- Essa é nossa filha, meu amor - meu pai explica carinhoso.
- Temos uma filha? - pergunta curiosa. Ela não está como antes, está mais calma e mais apta a saber das coisas.
- Sim, Becker, a nossa linda filha - fala meu pai. Ela fica em silêncio por um tempo, depois, olha para mim.
- Não temos filha - responde. Meu coração se parte, mas já estou acostumada com isso. Ela me vê como uma visita qualquer. Trata-me com educação, não como uma mãe para com uma filha. O médico da casa de repouso pediu para que não a pressionássemos. Por isso, aceito. Então, muita das vezes, tive que dizer a ela que era filha de uma amiga distante e, assim, ela aceitava. Abraço-a.
Ela pergunta se a história de filha não passa de uma piada. Meu pai me olha.
Faço que sim e, então, contamos a história de filha da amiga para ela novamente. E ela me faz as mesmas perguntas de sempre. Se a amiga está bem, e até fala que eu cresci.
Engraçado ela achar que se lembra de mim como filha de outro alguém, que não dela.
É embaraçosa a situação...
- Filha - chama papai -, vamos, sua mãe deve descansar. - Me solto dela, concordando com um aceno de cabeça e me levanto. Ela sorri, um sorriso que há muito tempo não via e esperava ver mais vezes. Ajudo meu pai a colocá-la na cama, as pernas já estavam fracas pela falta necessária de comida, que ela não aceitava. Beijo sua testa e espero papai conversar com ela.
- Até mais... - fica em dúvida.
- Becker - completo, ela faz que sim e sorri.
- Isso... Becker. Mande lembranças para a sua mãe - ela pede. Concordo, sorrindo. Meu pai lhe entrega um remédio e água, então, ela fecha os olhos, saímos do quarto em silêncio.
Meu pai e eu caminhamos em silêncio, abraço-o de lado e desço assim com ele, não tinha muito que ser dito nesse momento. Acho que o silêncio, talvez, fosse de perda e, em certo ponto, de aceitação.
Chegamos ao topo da escada e, de lá, posso ver que meus amigos ainda estão ali, e toda a família Couton também, assim como tia Eleonor. Sorrio e desço as escadas, correndo para seus braços abertos.
- Minha menina, que saudades! - diz, e depois de um abraço apertado de vários minutos, vou cumprimentar todos os outros.
Depois de abraçar a todos e de matar a saudade, eles fizeram várias perguntas.
A casa está cheia, e Merry com minha tia prepararam um jantar para todos. Todos queriam minha atenção. Scarlet era a que queria mais, e não esperou convite, já saiu dizendo que dormiria aqui para colocarmos o assunto em dia. Eu estou totalmente cansada pela viagem, mas não conseguiria dormir de tanta felicidade e animação, todos aqui querendo me colocar a par da situação, e eu tentando, ao menos, digerir tudo.
Derek e Scarlet noivos, Deive não está presente, mas a senhora Couton disse que ele chegaria no outro dia com a família. Sim, ele tem filhos, o que me surpreendeu, e também Dillan. Merry fica toda orgulhosa ao falar deles. Frank ainda não tem família, está solteiro. Lembro-me quando tive uma queda pelo mesmo em um tempo atrás, até namoramos, mas não deu certo e resolvemos ser só amigos.
Tia Eleonor está de namorado novo, senhor Couton perdeu vários cabelos, é o que está menos mudado. A conversa está muito boa, mas logo Merry começa a dispensar todos, dizendo que eu preciso descansar. Despeço-me de cada um, e quando só restou Scarlet, desejo ao meu pai boa noite e vou para o meu quarto com ela.
Fico um pouco impressionada com meu quarto novo. Esse, que tem a mesma plaquinha de quando eu era criança na porta, escrito: "Uma princesa dorme aqui". Uma cama de casal nova, um guarda roupa branco com portas de correr, cortinas novas, a minha antiga estante de livro em um canto, um espelho de corpo e criados mudos com abajur.
Simples, mas aconchegante, agradeceria meu pai depois, mesmo eu não morando ali, ele pensou em mim. Tomo um banho relaxante, a casa está silenciosa.
Scarlet está no quarto, colocando as minhas roupas no guarda roupa. Coloco uma camisola e empresto uma a ela, como nos velhos tempos. Procuro por meu celular em minha bolsa e o encontro perdido ali, o ligo, tem uma única mensagem, e é de Sophi.
*** 23/12 22h43min Já estou com saudades!
Sophi.
Sorrio com a mensagem, mas fico um pouco frustrada, esperava que fosse outra pessoa.
*** 23/12 23h03min Eu também...
Becker.
*** Envio e, depois, jogo o celular em cima da cama. Eu não sabia como ficaria sem Aaron, ou como seria na empresa, mas eu tentarei agir o mais normal possível, pois, apesar de tudo eu preciso desse emprego. Porém, estou mais interessada em como farei quando o ver com qualquer mulher ou em qualquer lugar; como farei com as batidas descompassadas do meu coração.
- Então, como vai esse coraçãozinho? - pergunta Scarlet, foco nela. - Conheceu algum homem em Nova York? - pergunta. Ela está com o típico sorriso travesso no rosto. Sorrio de canto, lembrando-me de Aaron. - Esse sorriso indica que sim, pode contar tudo - pede empolgada e pula na cama, ao meu lado, esperando.
- Não tenho muito que contar - minto.
- Está mentindo! - Me aponta o dedo. - Pode contar a verdade, estão juntos? Está apaixonada? Como se conheceram? - dispara a perguntar.
- Tudo bem, tudo bem. Uma pergunta de cada vez. Não, não estamos mais juntos - digo com pesar, infelizmente, aquela briga no meu apartamento pareceu um término para mim. Não, término não, pois nunca tivemos nada concreto. - Sim, eu estou enlouquecida e fodidamente apaixonada por ele - confesso. - E ele é meu chefe, ou melhor, ele é o dono da empresa onde eu trabalho - explico, ela está me olhando perplexa.
- Como assim dono? - pergunta, saindo do transe. - Ele é dono de uma empresa petrolífera? - Balanço a cabeça em concordância. - E seu chefe? - Faço que sim novamente. - E você é apaixonada por ele? - Outro balanço. - E como assim não estão mais juntos? - quer saber.
- Tudo bem - digo e suspiro -, vou te contar tudo - completo e conto tudo a ela. - Scarlet ele é lindo, lindo não, ele é perfeito - digo, depois de toda a história. - Loiro, forte, olhos azuis e grande, enorme.
- Como assim enorme? - pergunta, com um sorriso malicioso, gargalho e balanço a cabeça.
- Digo, ele é enorme mesmo, sabe? De altura. - Ela continua sorrindo. - Ele é sério, frio, mandão, e isso, de uma forma, me atrai. O cheiro dele é inebriante e sabe cozinhar, faz massagem, me dá banho - falo, sorrindo. - Cuida de mim - completo.
- Meu Deus, com tantas qualidades assim, eu vou roubá-lo de você - diz, gargalhando.
- Pode roubar, depois do que disse a ele hoje, tenho certeza de que não temos mais nada - digo derrotada. - Na verdade, nunca tivemos, ele é tão cabeça dura e se acha dono da verdade, ele parece... Parece inalcançável - falo, com um sorriso amargo, quero chorar.
- Oh, não fique assim, B, tenho certeza de que tudo vai voltar ao seu devido lugar - Scarlet me consola e, depois, me abraça.
Deitamos e ela me conta tudo sobre Derek e o noivado deles. Estou muito feliz por ela, com todos os planos de casamento e o resto, ela merece ser feliz. Eles, depois de tudo o que passaram, Derek perdeu os pais quando pequeno, acidente de avião, e Scarlet perdeu o irmão... Acho que eles encontraram as igualdades em suas fraquezas. Eles já se conhecem há tanto tempo, desde a escola, e Scarlet sempre gostou dele.
Derek era o típico garoto riquinho que todas as meninas queriam, meio inalcançável para nós, que não éramos populares. Capitão do time de futebol americano e descolado. Depois que cresceu, tornou-se maduro e amigo, começou a sair conosco e conheceu melhor Scarlet. No começo, não era nada sério, até porque Frank era extremamente ciumento com a irmã, e ainda é, mas depois eles ficaram juntos e resolveram assumir, isso fiquei sabendo pela mesma, quando já estava em Nova York, no meu antigo emprego.
Acabei dormindo bem de madrugada, ouvi tudo o que Scarlet tinha a contar, estava com saudades da tagarelice dela, ela me lembra muito Sophi.
Acordei com os fracos e preguiçosos raios de sol batendo na janela. Mesmo aquela neve toda não combatia o sol, que queria dar o seu bom dia a minha cidade.
Quando levantei, Scarlet não estava em meu quarto. Olho no celular, quase dez, ali também tem uma mensagem de Sophi.
*** 24/12 09h18min Parabéns, Amiga!!! Muitos anos de vida, paz, amor, dinheiro, pênis e muito mais. Te amo.
Sophi.
*** Gargalho com a mensagem.
*** 24/12 09h53min Obrigada, sua doida. Já estou com saudades, queria que estivesse aqui. Desejo a você tudo em dobro, inclusive pênis...
*** Sorrio e envio. Levanto-me e vou ao banheiro, escovo os dentes, lavo o rosto, prendo os cabelos e, depois, volto para trocar de roupa, desço. Papai está na cozinha, servindo minha mãe, que está sentada na cadeira à mesa.
- Bom dia - desejo, sorrindo, ele se vira e sorri. Meu pai tem quarenta e nove, mas ainda está com tudo em cima, é engraçado pensar dessa forma.
- Bom dia, minha flor - deseja de volta e beija a minha testa.
- Bom dia, mãe - digo e chego cautelosa perto dela.
- Quem é essa, Richard? - pergunta, olhando-me.
- Filha da sua amiga, se lembra? - explica calmo.
- Amiga? Qual? - pergunta.
- Uma amiga antiga da faculdade - meu pai diz e vai até a sala, minha mãe fica perdida em pensamentos e, depois, me olha, parecendo se lembrar de algo.
- Hoje é seu aniversário? - pergunta e faço que sim. - Ah, minha filha fez aniversário outro dia, sabe? Só que ela não mora aqui. - Ela se lembra de que tem uma filha, mas não lembra que sou eu. Estou bem aqui bem, na frente dela, ela não vê?
- Este é meu - entrega um embrulho rosa -, e este, da sua mãe, embrulho prata, - foi ela mesma quem escolheu, insistiu em ir comprar no dia que se lembrou do seu aniversário.
- Não precisava - digo chorosa. Em partes, pela minha mãe, e em partes por estar aqui. Estou feliz por minha mãe ter escolhido meu presente. Primeiro, abro o do meu pai, um livro, o primeiro volume de Drácula, original. - Meu Deus, pai, não precisava! Deve ter custado uma fortuna, pensei que não vendesse mais - digo e o abraço feliz.
- Não foi nada. - Me abraça de volta, minha mãe olha tudo sorrindo. - O achei na internet, Scarlet me ajudou com tudo, pois não sei como se usa essas coisas.
Achei que não chegaria a tempo, mas foi tudo muito rápido e mais fácil do que eu pensava - fala, sorrio da sua feição confusa, parecendo se lembrar do dia. De repente, ele se desperta. - E este é de sua mãe... - Me entrega, sorrio e olho para ela, começando a abrir o presente. Dentro, uma caixinha toda branca com espirais azuis feitos à mão. Abro-a e uma bailarina sai, girando ao som de uma música de ninar. - Ela disse que você sempre quis ser bailarina - meu pai conta, sorrio para o mesmo, chorando, e logo em seguida, abraço a minha mãe, ela não retribui. Me solto dela e limpo as lágrimas, fico olhando a caixinha, vendo a bailarina girar e girar, penso que é um dos melhores presentes que já ganhei.
O resto do café passa bem, parece que o tratamento para trabalhar a calma da minha mãe está adiantando de alguma forma. Logo, Scarlet chega e diz para acompanhá-la em uma loja para escolher uma roupa adequada para o Natal. Aceito, já que ainda não comprei os presentes e muito menos tenho algo para vestir. Visto uma calça jeans, sobretudo e touca e vou com ela.
A tarde passou boa, os presentes foram comprados, e a roupa, também.
Comprei um vestido longo, com flores azuis marinhos e tons mais escuros, decotado.
O sapato foi presente de aniversário de Scarlet, que prometeu não me dar nada de Natal, ele é lindo, preto, de salto groso e fivela.
Scarlet comprou um vestido vermelho emoldurando as suas curvas e um grande decote nas costas, onde tem babado em volta, super a cara dela. O sapato foi eu quem deu de presente de Natal, um salto preto meia pata que ela escolheu.
Voltamos para casa e já era bem tarde, Scarlet insistiu que eu me arrumasse em sua casa, assim o fiz.
Durante nossa tarde, eu toda hora olhava o visor do celular, na esperança de ter alguma mensagem ou qualquer coisa de Aaron, mas nada, nem um sinal de vida, ou mensagem, ou ligação... Nada. Eu tinha que entender, mesmo que ele estivesse errado, não admitiria e nem pediria desculpas, Aaron não é de admitir isso e não precisa ser um gênio para saber.
Arrumo-me um pouco desanimada, Scarlet não notou, ela está feliz e não quero tirar isso dela. Eu queria apenas uma mensagem de que tudo tinha acabado, não é legal deixar uma pessoa no escuro.
Depois que acabei de me arrumar, desci com Scarlet para a sala. Todos já tinham ido para a minha casa, onde seria a comemoração natalina - bom, assim eu pensei. - Tamanha foi a minha felicidade quando cheguei em casa e todos gritaram SURPRESA e começaram a cantar parabéns. Merry veio até mim com um bolo grande na mão, com duas velas em cima, uma de número dois, e a outra, seis.
Dependurado, tinha um cartaz com os dizeres: "Parabéns, pequena" - coisa de Derek e Frank, sorrio para eles. - Balões cor de rosas enfeitando o local e, em cima da bancada da cozinha, quitutes.
- Eu não acredito - digo surpresa e assopro as velas. Todos batem palmas, papai vem até mim e me abraça.
- Resolvemos que hoje será comemorado o seu aniversário, e amanhã, o Natal - explica.
- Vocês são uns amores, não precisava.
- Precisava sim. Agora, senta aí e vamos abrir os presentes - manda Scarlet, empurrando-me para ficar entre Derek e Frank. Tem crianças correndo pela casa, netos de Merry, os filhos também estão aqui, assim como as noras, que eu conhecia, estudaram comigo, uma conhecia de vista, e com as outras duas, conversava.
- Toma, abra o meu primeiro - disse Scarlet, entregando-me uma caixa.
Olho-a irritada.
- Scarlet! - xingo. - Você disse que o sapato era um presente de aniversário e de Natal.
- Nada disso, eu disse que era um presente e pronto. Toma - me entrega -, aceite logo. - A olho furiosa e começo a abrir. Quando vejo, o box completo de Gossip Girl, o seriado que víamos juntas. Começo a gritar histericamente junto com ela. Todos tampam os ouvidos. Pode parecer besteira, mas sempre quisemos essa coleção quando éramos mais novas, e era super caro. Então, prometemos que daríamos uma à outra quando tivéssemos nossos empregos, mas eu fui embora e a promessa se perdeu, até hoje.
Quando a histeria acaba, abraço-a e agradeço várias vezes. Preciso de uns minutos para me acalmar e, então, pego o próximo presente, que era de Derek, todos assistiam eu abrir o presente na expectativa, todos puderam comparecer, menos minha mãe, que tomava remédios fortes, fazendo-a dormir.
O presente de Derek era uma blusa linda que fora escolhida por Scarlet. Frank me deu um conjunto de brincos e colar, também escolhido por Scarlet. Tia Eleonor me deu livros, acho que quase todos os meus presentes foram livros. Dê-me livros e não tem como errar na escolha do meu presente.
A festa rolou solta, mas papai tomou precaução para que não tivesse azeitona nos quitutes, ele sempre fazia isso, e isso me faz lembrar de Rhyss... Aliás, tudo me lembra ele. Droga! Eu não consigo esquecê-lo.
O resto da noite corre bem, todos conversando e comemorando, as crianças correndo pela casa, os nomes ainda frescos em minha cabeça. Lembro-me do pequeno Erik e de Roxanne, filhos de Deive; Louis, filho de Dillan e sua mulher grávida de cinco meses. Todos rindo e conversando. Meu pai se divertindo, tia Eleonor com seu namorado, Cristofer conversando com Derek, Frank brincando com Erik e eu papeando com Scarlet e as mulheres, todas bem legais. A noite passou rápido e logo todos foram embora. Então, só sobrou meu papai e eu. Ajudei-o a arrumar a bagunça e, depois, subimos cansados para nossos quartos.
- Obrigada, papai, por tudo - agradeço, abraçando-o.
- De nada, minha princesa. - Me beija na testa. - Boa noite - deseja.
- Boa noite - retribuo e, então, ele entra no quarto. Pego uma toalha e tomo um banho rápido. Depois, vou tentar dormir. Pego o celular e, vencida pelo cansaço, disco o número de Aaron, não me importo com orgulho, eu apenas o quero, mas cai direto na caixa postal. Acho melhor não deixar recados. Fico olhando o visor do celular à espera de alguma mensagem ou retorno de ligação. Estou um dia e meio sem conversar com ele, mas parece uma eternidade, e acabo dormindo.
Acordo com presentes em cima da cama. Eu não acredito, ficarei muito mimada dessa forma. Abro todos, empolgada. O de Frank e o de Derek tinham sido escolhidos por eles mesmos desta vez, sendo assim, um me deu pantufas, e o outro, chaveiro do Darth Vader, o vilão de Guerra nas Estrelas, e eu amei. Scarlet me deu mais um presente, uma foto de nós duas em um porta-retratos, ela mostrava língua e eu fazia careta, foi tirada na época da escola, amei também, e logo coloquei em cima do criado-mudo.
Ganhei um colar, acho que foi da minha mãe... Um relicário onde tinha uma foto minha quando pequena e outra dela dentro de um coração. Papai me deu um buquê de lírios, tia Eleonor me deu uma bolsa.
Sophi me deu um vibrador, disse que era presente de aniversário, e uma bolsa linda da Vogue, de Natal. Fico vermelha e logo escondo o vibrador dentro da gaveta do guarda roupa, ela não tem jeito mesmo. Só espero que ela goste do presente que lhe dei, uma bota da Victoria Secrets, dei uma igual a Scarlet, mesmo lhe dando o sapato. Merry, o seu costumeiro pulôver... E assim foi, fiquei muito feliz com todos os presentes, não tinha ganhado tantos assim em dois dias apenas. Levanto-me para tomar café e levo o buquê para colocá-lo em um vaso, papai está sentado sozinho na cozinha, usando a camisa nova que lhe dei.
- Bom dia - desejo.
- Bom dia.
- Onde está mamãe?
- Ela está um pouco indisposta, achei melhor levá-la de volta à casa de repouso.
- Está tudo bem?
- Sim, ela só está um pouco fraca. - Concordo e encho um vaso com água colocando as flores. - Então, vai me contar quem deu os lírios?
- Você - falo sorridente. - Aliás, obrigada.
- Não há de quê, minha flor, mas não fui eu que lhe deu - responde papai, divertido.
- Não? - pergunto sobressaltada.
- Não. Dei-lhe o relicário em conjunto com sua mãe, as flores chegaram hoje e mandaram lhe entregar, coloquei junto com seus presentes nos pés de sua cama, achei que você soubesse de quem era - explica, meu coração está disparado.
- Mas, pai, só você sabe que eu gosto de lírios, fora Scarlet, Derek e Frank, mas eles me deram presentes diferentes e tinha o nome de todos nos embrulhos. - Fico em silêncio, não gosto nem de dizer o que estou pensando, não quero me iludir.
De repente, minhas pernas bambeiam, sento-me.
- Filha está tudo bem? - pergunta meu pai, preocupado.
- Si... Sim, está tudo ótimo - o acalmo. - Pai, quem entregou não disse de quem foi nem nada? - pergunto. - Tem certeza?
- Não disse nada, apenas que era para entregar a você. Tem certeza de que está tudo bem?
- Claro... Bom, vou subir para me trocar, vou ajudar Scarlet e a senhora Couton na ceia - digo rápido, beijando-o, ele concorda.
- Mas e o café?
- Não estou com fome - respondo, mas, na verdade, eu a perdi. - Então, eu vou... - digo, apontando para a escada, e a subo de dois em dois degraus.
No tempo em que me arrumo, fico pensando, será que tinha sido... Não, poderia ser qualquer um, não devo me iludir. Termino de me arrumar e vou para a casa de Scarlet ajudá-la. A tarde passa rápido. Contei a Scarlet o ocorrido e minha suspeita, ela disse que era uma possibilidade, já que tínhamos feito um levantamento na casa dela e ninguém tinha me dado lírios de presente, ou talvez os meninos estivessem tirando sarro com a minha cara, eles adoravam fazer isso comigo e com Scarlet quando éramos menores, mas deixei o assunto morrer. Logo à tarde, tudo estava pronto e fui para casa me arrumar para ir à casa de repouso com meu pai.
Ficamos por lá um bom tempo conversando e rindo. Minha mãe só observava a tudo, vez ou outra, ria de algo que meu pai falava. Quase noite e temos que voltar.
Quando chegamos em casa, percebo que meu pai queria ter ficado, assim como eu, mas todos estão nos esperando na festa. Beijo meu pai no rosto e subo para me arrumar em silêncio. Coloco um vestido básico, ele é rosa bebê embaixo e, por cima, uma renda preta, bate um palmo antes do joelho, tem um corte simples, com decote, apertado até a cintura e solto no resto, sendo um pouco rodado devido à anágua.
Coloco um scarpin básico, nude, e prendo o cabelo com um penteado meio bagunçadinho. Faço uma leve maquiagem e pronto, coloco o sobretudo, luvas e cachecol só para ir até a casa dos Couton. Vou com papai.
Chegamos e todos nos receberam com abraços e boas vindas. Sinto o ar quente da casa devido a lareira e o aquecedor. Tiro o sobretudo, o cachecol e as luvas para depois conversar com meus amigos, enquanto papai foi conversar com outras pessoas.
- Está linda, Becker - elogia Frank.
- Obrigada - agradeço sem graça, ele me entrega uma garrafinha de cerveja que há um tempo não bebo. Logo vem Scarlet e Derek para começamos a conversar. O jantar foi servido na cozinha, com todos juntos, foi meio apertado, mas não teve como ser no jardim devido à neve, o frio está intenso do lado de fora. O jantar foi divertido e barulhento. Meu pai logo diz que vai embora.
- Vou com você - digo, levantando-me.
- Nem pensar, querida, você vai ficar e aproveitar, isso é uma ordem - manda.
- Tem certeza? Podemos tomar um chocolate quente juntos. - Não quero que ele fique sozinho.
- Sim, aproveite a festa. Amanhã podemos tomar o chocolate - aconselha, beija a minha cabeça e depois se despede de todos.
A festa foi passando normalmente, o jantar tinha acabado, mas a festa continuou. Distancio-me de todos e vou para o jardim respirar um pouco, mas o frio está insuportável. Abraço meu corpo com as mãos e sinto um tecido sendo jogado em meus ombros, olho para o lado e sorrio para Frank, segurando seu terno preto.
- Obrigada - agradeço sorrindo.
- De nada. - Retribui o sorriso. - Então, faz o quê, aqui, sozinha?
- Respirar um pouco. - Ele concorda, então, ficamos em silêncio.
- Você está diferente - Frank nos tira do silêncio.
- Um diferente bom ou um diferente ruim?
- Bom.
- Então, estamos de acordo. - Ele dá risada. - Você também está diferente, cresceu.
- Você que diminuiu - brinca, lhe dou um tapa de leve no braço.
- Idiota - falo, gargalhando. - Estou falando no sentido figurado.
- Eu entendi, só estava tirando sarro de você.
- Algumas coisas nunca mudam - digo, ele concorda.
- Estou diferente bom ou ruim?
- Bom, está mais maduro, o que houve?
- Falando sério? - pergunta, fitando-me.
- Sério.
- Me apaixonei - confessa. - O amor faz isso com a gente. - Suspiro.
- Sei bem como é - termino um pouco irritada por pensar em Rhyss, e ficamos em silêncio, até Scarlet chegar com feição assustada no jardim.
- Becker, acho melhor você vir comigo - fala de olhos arregalados.
- Aconteceu alguma coisa? - pergunto, preocupada com a sua expressão.
- Na verdade, aconteceu, sim. Tem um homem lá fora, com uma Mercedes, chamando por você, e eu tenho sérias desconfianças de que ele seja um mafioso muito lindo ou um modelo da Calvin Klein, porém, se for quem eu penso que é... - não termina de falar, apenas entra na casa. Vou atrás dela aos tropeços, sem entender o que ela está falando. Passamos pela sala, onde todos conversam, e sigo Scarlet até a varanda de entrada fria e vazia.
- Scarlet quer me contar o que...? - o resto da frase fica morta em minha garganta quando vejo Aaron de terno e calça social cinza, gravata prata, aquela linda barba por fazer e os cabelos como se tivesse acabado de sair de uma foda. Está de pé, parado na varanda, olhando-me com seus olhos cor de tempestade, profundos. Ele não sorri, apenas me olha milimetricamente por todo meu corpo, até voltar os olhos para os meus. Não sei se me aproximo ou se fico onde estou. Sobressalto-me com uma batida na porta. Scarlet entrou, deixando-me sozinha ali. Isso me desperta dos meus pensamentos, e quando estou prestes a me locomover, ele o faz, chega rápido até mim e me abraça antes que eu possa fazer qualquer coisa. Sinto seu perfume e me sinto segura e completa.
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O cretino do meu chefe
RomanceEm busca do trabalho ideal, Becker Norren vai a uma entrevista de emprego na grande empresa Hyperion. Na lotada Times Square, o inusitado clichê acontece, ela esbarra em um homem bonito, loiro e com profundos olhos azuis acinzentados. Porém, não fo...