capítulo 7

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Cansada, sento-me na nova poltrona branca do meu escritório, este tendo quase a mesma decoração do antigo, as únicas coisas que mudaram foram a mesa de centro e o andar. Bom, a presença de Rhyss também, está mais constante e mais irresistível.
Dizer que o mês com Rhyss foi difícil, seria de muita generosidade, o mês com ele foi impiedoso. Ele está diferente, sendo mais gentil. Às vezes, pego uns relances de um sorriso dele, que não sei se disfarça ou se é apenas algo da minha cabeça, mas, óbvio, suas patadas continuam, assim como sua seriedade.
E sempre tem aquelas olhadas mortais e intimidadoras, aquelas aproximações repentinas, mas nada além disso, e não consigo decidir se isso é bom ou ruim.
Isso é bom, já que assim, com Jonas, o negócio fica mais fácil. Mas quem disse que consigo pensar assim? Merda, só consigo pensar naqueles olhos, e ele quase me beijando no elevador. O beijo no carro... Para piorar, os sonhos meio picantes que comecei a ter com ele... Se isso não é estar ferrada, então, não sei o que é. Porém, não vou reclamar, já que quando tudo está ruim, sempre tem como piorar, e eu não quero que isso aconteça.
E a minha cota já está bem cheia.
Cheia de trabalho também, a agenda de Rhyss é uma loucura e estou sempre de reunião em reunião, nos restaurantes ou na empresa, embora algumas vezes eu perceba que a minha presença não é necessária, estou sempre lá, menos em viagens para fora. Nessas, eu nunca vou, e agradeço por isso.
Começo a arrumar minhas coisas para mais uma reunião, e quando dá o horário, vou à sala de Rhyss, onde a porta está aberta e ele está mexendo, todo concentrado e lindo, no papel, as mangas da camisa social azul clara dobradas até os cotovelos, a gravata frouxa e dois botões da camisa abertos, nunca o vi tão descontraído, e isso só o deixa mais lindo.
Com a boca em uma linha reta, a testa franzida... "Alguém me ajude ou vou agarrá-lo".
Pisco algumas vezes e inspiro para me concentrar.
— Tudo bem, senhorita Norren? – ele pergunta, ainda olhando para os papéis antes que eu possa abrir a boca. Céus, como ele faz isso? Não fiz um único ruído.
— Como você faz isso? – indaguei, adentrando no local, ele me olha sem entender. – Eu não fiz um único barulho! – Agora, ele entendeu.
Rhyss se levanta e abotoa a camisa devagar, depois, arruma as mangas.
— É o morango - ele fala, enquanto faz todo o processo, fico sem entender. – Consigo perceber que você chegou pelo seu cheiro – explica, colocando o terno, e eu fico corada e sem graça.
Enquanto ele termina de arrumar a gravata, fico olhando-o, gravata essa que ficou torta, odeio coisas tortas e fora do lugar.
Se tem uma coisa que me causa problemas, é isso, talvez seja "toque", não sei, mas tenho paranoia, não posso ver a minha cama com a cocha atrapalhada, muitos objetos espalhados, espelhos sujos, quadros tortos, etiquetas para fora das camisas, gravatas tortas...
Eu lembro que, quando era menor, meu pai sempre dava o nó errado, mas não por não saber, e sim por me ver arrumar, ele gostava quando eu fazia isso, eu gostava de fazer isso. Tenho saudades dele e de tudo isso, mas está tudo complicado demais ultimamente.
Caminho até Rhyss, que está juntando uns papéis em cima de sua mesa.
Aproximo-me mais e ele fica com a postura normal, olha-me sério, enquanto, antes que ele pudesse se mover, meus dedos arrumam com facilidade a gravata torta. Com um sorriso vitorioso, termino e desço as mãos por seu peito, como fazia com meu pai.
Rhyss olha para as minhas mãos e, depois, para mim. Meu sorriso desaparece, vindo, logo em seguida, uma expressão sem graça, meu rosto deve estar como um tomate! Uma mão dele desliza pela minha cintura e a segura em um gesto de posse.
Afasto-me, e sua mão escorrega para o lado de seu corpo.
— Eu... Me... Só que ela estava torta – explico entre gaguejos, como sempre, e me afasto devagar. – Vamos, a reunião irá começar a qualquer momento – digo, pegando as minhas coisas em cima da mesa e andando até o elevador.
"Caramba" – é tudo o que consigo pensar antes de entrar no elevador, e ele, logo depois.
A reunião foi tranquila, assim como o resto do dia, e logo arrumo minhas coisas para ir embora.
— Pizza hoje? – pergunto a Sophi, enquanto lhe dou uma carona para casa.
— Hoje não vai dar, amiga – ela faz careta –, tenho um encontro – explica, sorrio.
— Quem é o galã? – pergunto, ela me dá um tapa de leve no ombro.
— Palhacinha! – Gargalho, Sophi também ri. – É Blaise.
— De novo? – indago interessada, até que esse está durando. – Já deve ter um mês e meio, amiga.
— Ele é bom de cama e não quer compromisso também, então, enquanto está indo assim, está bom – fala. – Agora, vamos mudar de assunto – pede e, então, começamos a falar de Jonas, não é bem o assunto que eu tinha em mente, mas...
Logo depois que deixo Sophi na casa dela, vou para a minha. Jonas me liga e o chamo para ver um filme, que não vimos.
***  Acordo e Jonas já foi, era para eu ligar, mas não ligo. Com certeza, algo importante aconteceu e ele teve que resolver.
Arrumo-me e vou para a empresa. Quando chego no meu andar, Rhyss não está, mas Amber sim.
Ótimo, depois de uma noite relaxante, nada melhor do que uma tweedle no começo do dia para me testar a paciência.
Caminho até a minha sala, tentando não chamar a atenção dela, mas ela ouve meu salto. Bufo e entro em minha sala quando ela faz o mesmo.
— Você viu Aaron? – pergunta, arrumo minhas coisas em cima da mesa devagar e me sento, para finalmente olhá-la.
— Bom dia para você também. – Ela bufa irritada, nada vai estragar o meu dia. – Acabei de chegar, se não percebeu, então, sei dele tanto quanto você – respondo, acho que ela não gostou. Já vi este filme antes.
— Quanta incompetência – ela fala irônica. Levanto-me devagar e vou até a cadeira em que ela está sentada. Escoro uma mão de cada lado, aproximo meu rosto do dela. – Mas o que...
— Escuta aqui – a corto com um olhar mortífero –, hoje, acordei em um ótimo humor, e ver que você foi a primeira pessoa do meu dia no qual tive uma conversa, só o atrapalha. Então, sugiro que vá procurar algo para fazer, pois eu tenho muito trabalho e não tenho tempo de ficar aturando a sua voz chata. Da próxima vez que quiser saber onde Rhyss está, ligue para o telefone particular dele, assim, não tenho que ficar vendo a sua cara plastificada logo de manhã – digo tudo de uma vez, rapidamente. Arrumo a minha postura e vou até a porta. – Saia da minha sala – ordeno, ela me olha em meio ao choque e a raiva. Levanta-se com raiva e vem até mim, não me deixo ser intimidada.
— Eu vou contar ao Aaron tudo o que você me disse – fala convencida, gargalho, o sorrisinho dela se desfaz.
— Ele chega daqui a cinco minutos, se quiser, pode esperar aí é eu te ajudo a contar – digo irônica – Amber, eu já engoli muitos sapos de você e por causa de você, porém, agora, isso não vai se repetir mais. Se não percebeu, eu posso te afundar, se quiser, então, te aconselharia a não me subestimar. Você e a sua amiguinha, deixem-me em paz, só um aviso – digo, e como ela continua no batente, empurro-a devagar e, logo em seguida, bato a porta em sua cara.
Não serei mais capacho de piriguete.
Sento-me em minha cadeira e começo a fazer meu trabalho, a paciência e o bom humor de antes foram embora, e tudo graças àquela vaca. Depois de um tempo concentrada, Rhyss entra em minha sala sem bater.
— Senhorita Norren – fala, levanto a cabeça devagar, solto a caneta e o encaro com as feições tranquilas, já sei do que se trata a sua chegada.
— Algum problema? – pergunto, então, ele se senta em minha frente, desabotoando o terno.
— Amber disse que você a destratou, é verdade? – pergunta.
— É – digo sem rodeios, não sei mentir mesmo. Ele ergue uma linda sobrancelha. – Ela veio aqui, perguntando por você, e foi grossa quando eu disse que não sabia, então, fiz o mesmo com ela – termino e ele fica me encarando.
— Ela disse que você mencionou algo sobre você acabar com ela na empresa – ele fala sugestivo, nego.
— Não disse nada sobre acabar, o que eu disse foi afundar. – Acho que estou demitida. – Sabe, senhor Rhyss, com todo e total respeito, estou trabalhando muito para ter que ficar aturando suas namoradinhas. Então, talvez eu já esteja demitida depois de tudo o que falei, mas, se não estiver, gostaria que as mantivesse longe de mim enquanto trabalho, ou eu mesmo me demito – termino.
Ele permanece normal, olhando-me por alguns minutos em silêncio. Depois, levanta-se, dá a volta em minha mesa e chega até mim, coloca uma mão em cada lado de minha cadeira e fica com a boca a centímetros da minha.
Minha respiração falha, e meu coração acelera.
— Senhorita Norren, você não sabe a vontade que estou de te pegar e te jogar em cima da mesa neste exato momento – Rhyss fala com a voz rouca, e sinto seu hálito em meu rosto. Minha barriga está em uma briga interna, não acredito que eu falei isso tudo e ele me vem com essa. Logo, ele se levanta, ficando na postura normal.
– Não se preocupe, elas não vão mais te atrapalhar – ele termina e sai, do nada.
"Como assim me jogar em cima da mesa?" – penso desorientada. Fico tentada a chamá-lo para fazer isso. Balanço a cabeça de um lado para o outro. – "Nada disso, foco, foco".
Tento voltar ao trabalho, totalmente em vão, não consigo me concentrar em nada, aquele cretino me tira totalmente do sério.
Depois de uma tentativa falha de focar nos papéis em minha frente, eu junto tudo e me arrumo para mais uma reunião, se antes eu estava irritada, agora, nem se fala.
Caminho para a sala de Rhyss e ele já está quase pronto. Enquanto isso, arrumo minha saia, passando a mão desocupada por ela, desamassando-a, e, então, olho para Rhyss, que está me observando fazer tudo, fico constrangida na hora. Odeio corar.
— Vamos – ele fala em um tom mandão e vem até mim. "Dá vontade de dizer não". Viro e vou até o elevador, que já está nos esperando...
Entro no restaurante sofisticado e um garçom nos atende, Rhyss fala algo com ele, que rapidamente nos leva até a mesa reservada.
Rhyss puxa uma cadeira e espera, eu odeio quando ele é legal e cavalheiro, ele só faz com que eu goste mais dele. Por causa disso, puxo uma cadeira e me sento, ele olha para mim, suspira e se senta na cadeira em que puxou. Pega o cardápio e começa a olhar. Faço o mesmo e começo a olhar algo que me agrade, acho que comerei algo diferente hoje.
— Você não facilita com ninguém ou é só comigo? – Rhyss pergunta, enquanto fecha o cardápio. Fico em silêncio e ele fica me observando, esperando uma resposta.
"No caso dele, pode apostar que é o segundo" – penso e fecho o cardápio.
— Seja sincera – ele pede e cruza os braços, acomodando-se melhor na cadeira.
— Sendo sincera – falo –, se eu fosse o senhor, apostaria na segunda opção – digo e fico em silêncio.
Fico esperando alguma resposta. Vejo o garçom se aproximando.
— Já sabem o que vão querer? – pergunta o garçom, que sorri para mim.
— Sim, eu vou querer salada com frango desfiado. – Ele anota.
— Só uma salada - Rhyss pede. Depois, pede um vinho, o garçom anota e sai.
Então, volto meu olhar para ele. – Sabe, senhorita Norren, você me intriga – ele começa. – Você não suspirou quando me viu, como as outras fazem – ele disse, com um sorriso de canto, quanto egocentrismo. – Me olha nos olhos e tem opinião própria, é bonita, muito bonita... – Eu coro, droga! – Tudo isso me despertou uma vontade de desvendar você, e esse desejo só aumenta cada vez que você faz algo que eu não espero.
— Tipo? – Consigo perguntar, mesmo com um enorme bolo em minha garganta.
— Tipo me beijar e ir embora. – Engulo em seco, lembrando-me do episódio no carro. – Cada gesto que você faz parece programado para me provocar, cada gesto que você faz parecer programado para me fazer querer você perto de mim, repetindo-os o tempo todo, mesmo que você não perceba. Arrumar a saia ou o vestido, passar as mãos pela lateral do corpo, cruzar e descruzar as pernas, resmungar sozinha, mastigar as canetas, gaguejar, morder os lábios, arrumar o cabelo... Tudo isso me faz te querer mais e mais perto de mim, e só para mim. – Cada palavra que sai da sua boca me causa um tipo de reação diferente, e dizer que eu não quero a mesma coisa que ele seria mentira, juro que, se ele me agarrasse agora, eu cederia, mas eu não posso ficar com ele.
— Ser sua como as várias outras namoradinhas que você tem na empresa?
Não, obrigada – agradeço, ele sorri de lado. "Para com isso, cretino", peço em pensamentos.
— Não sei se percebeu, mas não sou nem metade daquilo que fofocam de mim, e você sabe disso. Você não devia dar ouvidos para boatos.
— Tem mais, eu estou com seu amigo. – O seu sorriso se desfaz.
— Essa é justamente a parte que eu menos gosto – ele fala, mais para ele que para mim.
Abro a boca para falar, mas o garçom chega com os pedidos, ótima forma de me fazer ficar quieta, já que não sei o que dizer. Então, logo coloco uma garfada de salada em minha boca.
Como em silêncio, evitando o máximo não olhá-lo e, depois que acabo, peço a sobremesa, a de sempre. Torta de morango.
Depois de um tempo, os franceses chegam e a reunião começa...
***  — Como assim "essa é a parte que eu menos gosto"? Nossa, parece até frase de filme – Sophi fala, gargalho, balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Eu te conto tudo isso e você pega só essa parte? – pergunto desesperada, sentando no sofá da sala dela. – Cadê o cara do cachorro quente, que não chega? – Irritada, levanto e começo a andar de um lado para o outro.
— Uma coisa não mentiram sobre ele – espero ela falar –, ele é bem direto quando quer. – Dessa vez, tenho que concordar.
— Sim, mas por que eu? De uma hora para outra, ele vem com esse assunto de que me quer – digo irritada.
— De uma hora para a outra nada, você mesmo disse que tem um mês que ele está diferente e tudo mais – Sophi expõe.
— Sim, mas... – Me calo, não sei o que falar.
— E outra, tem que ter motivo quando um pedaço de pecado daquele te quer só para ele? – Sophi pergunta. – Amiga, o negócio é o seguinte, ou ele está fazendo isso porque só quer transar com você, ou ele está fazendo isso porque está sentindo algo por você.
— Sentindo algo? Ele? Sophi, acho que não estamos falando da mesma pessoa – falo irônica, ela revira os olhos.
— E daí que é ele? Você o julga tanto, mas nem o conhece direito. E tem mais, você sente algo por ele, por que ele não pode sentir algo por você? – pergunta, arregalo os olhos.
— Quem sente algo por ele? – pergunto, voltando-me para ela. A mesma bufa.
— Eu odeio quando a pessoa fica mentindo para si mesma – fala, olhando para teto – Beck, ficar pensando em um cara enquanto está com outro maravilhoso, ficar indecisa, falar nele tipo... Toda hora... A quem você está querendo enganar? – ela pergunta, com calma, e essa calma me mata, porque tudo o que ela está dizendo é verdade.
— Meu Deus, isso não pode estar acontecendo – falo exasperada.
— Não só pode, como está. Converse com Jonas logo – ela aconselha.
— Eu não vou ficar com Rhyss, não quero tirar a prova de que serei só mais um brinquedo na coleção dele, e outra, Jonas é legal e me faz me sentir bem.
— Mas não faz você esquecer o Rhyss. - "Infelizmente, não".
— Vontade de voltar correndo para a Carolina do Sul – digo exasperada.
— Lá tem homem bonito? Se tiver, me leva junto.
— Sophi! – a repreendo.
— Que foi? Não me diga que tem outro cara que você gosta lá? – pergunta, fazendo graça. Abro a boca e jogo uma almofada nela. Sem conseguir me conter, gargalho.
— Não, já estou cheia de homens por uma vida.
— E que homens, hein? – ela fala, cutucando-me. Gargalho. – Cadê o puto do entregador? – ela pergunta.
— Não sei, com isso tudo acontecendo, o entregador ainda demora – falo, fazendo drama, e depois rio. Sophi fica séria.
— Não sei por que você está assim, o Deus do Sexo disse que quer você "só para ele" – fala, dando ênfase nas últimas palavras –, e você fica desesperada... Bom, eu também estaria, porém, desesperada para ele me fazer dele.
— Sophi, cala a boca, amiga, você não está ajudando. – Ela gargalha. – Eu não quero ser só um brinquedo para ele, eu não quero que ele faça comigo o que fez com as outras.
— Que outras, Beck? Você está o tempo todo falando das outras, que as outras foram um brinquedo, mas esse é o ponto... Que "outras"? Você está tão preocupada com o passado do cara, mas nem sabe se é verdade. Você mesma disse que ele é diferente de tudo o que falaram dele. – Derrotada, deixo-me cair no sofá.
— As outras, Amber e Mercedes, que não escondem de ninguém que já dormiram com ele, fora as outras que falam que ele as comeu.
— Olha, Becker... Até hoje, a lista só aumenta, mas nenhuma provou isso ser verdade, as únicas que vejo que são mais "próximas" – ela faz aspas no ar ao falar próximas – dele são as tweedles, mas isso porque são amigas da mãe dele. Você não deveria julgá-lo por boatos e fofocas.
— Ele me disse quase a mesma coisa – falo derrotada e passo as mãos pelo cabelo. – Odeio quando você está certa – digo, ela me mostra a língua. – Mas, e Jonas? Eu não posso simplesmente largá-lo.
— Na verdade, você pode, mas você está indecisa. Olha, eu não sei o que aconteceu antes na sua vida, mas você está deixando isso afetar o seu presente. Você não deveria deixar o que aconteceu antes influenciar nas suas decisões, até porque está meio na cara que você quer Rhyss, e não Jonas, mesmo que Jonas seja o "ideal", como você diz, para você. Ou melhor, que você pensa ser o ideal para você – ela termina, a campainha toca. – Finalmente! – ela grita, indo atender.
— Tá, mas se eu terminar com Jonas, como vai ser? – pergunto alto para que ela possa me ouvir da porta. – Mesmo que eu termine com ele, como eu vou chegar ao Rhyss e falar... Ah, sei lá... Falar que quero ficar com ele...?
— Amiga, tempo. Outra coisa, de começo, mesmo que a intenção de Rhyss seja ter você, isso não quer dizer, ter um compromisso. Por isso. Precisa também ficar de olhos abertos.– Sophi fala da cozinha. – Contudo, pra que compromisso, se você tem Aaron Rhyss em sua cama? - rolo os olhos. Depois de uns minutos, vem até a mim, entregando-me um prato já com o cachorro quente. Pego e como em silêncio.
Talvez ela esteja certa, mas não sei se quero trocar o certo pelo duvidoso.
Mesmo que o duvidoso seja uma perdição.
Depois de muita conversa, despeço-me de Sophi e vou para casa.
Cansada, tomo um banho, coloco um pijama e me deito, ouço meu celular tocar, olho no visor, meu pai. Rapidamente, atendo.
— Oi, pai – digo calorosa.
— Oi, minha flor – meu pai diz com voz de riso, que saudades dessa voz, ele me chama assim desde criança. – Estou com saudades.
— Eu também... Muita, muita! – digo, sorrindo para o telefone. – E aí, como está a mamãe? – pergunto esperançosa.
— Está bem – ele diz, com a voz cansada.
— Houve melhoras? – quero saber.
— Não, mas tenho certeza de que vai haver, o médico disse que ela tomando os medicamentos certos, ela logo pode voltar para casa.– responde, meu sorriso murcha. É sempre assim, um médico fala de um novo remédio que fará maravilhas, mas nada acontece.
— Entendi, e o senhor acha disso? – pergunto.
— Não sei, queria saber a sua opinião – fala. Sei que ele tem esperanças, elas nunca morrem, afinal, minha mãe é o amor da sua vida.
— Minha opinião? Acho ótimo ela volta para casa, mas será que você daria conta? – pergunto, com voz de riso, mas escondendo minha decepção.
--- Acho que sim, mas verei melhor essa possibilidade. – Ele está feliz, isso o que importa, mesmo que ela não possa voltar para casa. – E aí, como vai o emprego?
— Bem – minto. Sempre conto tudo ao meu pai, mesmo que seja bobo, ele gosta de saber, mas ele não merecia saber as bobeiras que eu estou passando. Ele já estava passando por tanta coisa sem mim –, muita correria, o de sempre, você sabe – completo.
– Oh, sim, entendo... Espero que continue bem – ele diz fraternamente.
— E aí, como está a Tia Eleonor? Não consigo falar com ela há uns meses.
— Ela perdeu o celular – ele conta entre risada –, disse que, quando eu te ligasse, era para contar, mas vai arrumar outro logo – explica. – Disse que quer te ver, saber sobre os namorados – fala com um tom amargo na voz.
— A cara dela – digo, gargalhando. – Não se preocupe, papai, não tenho ninguém – falo, e ele suspira. Jonas não é nada sério, então, não conta, eu acho.
— Pensei que teria que ir a Nova York castrar alguém – comenta brincalhão, gargalho, vontade de voltar correndo para Carolina do Sul. – E você virá para o seu aniversário, não é? – pergunta esperançoso.
— Claro! Estou morrendo de saudades de todos – falo, limpando uma lágrima silenciosa. – Quando chegar aí, quero um abraço bem apertado.
— Você não terá só um, ficarei te abraçando toda hora – ele avisa.
— Acho bom – digo.
— Querida, tenho que os ver sua mãe, vou ver se consigo te ligar amanhã.
— Tudo bem. Pode ligar, vou ficar esperando. Dê um beijo na mamãe por mim, te amo. Amo os dois.
— Também te amamos, minha flor. Até... – termina.
— Até... – Desligo, acomodo-me na cama e durmo com a ideia de pegar o primeiro avião para Carolina do Sul.
Levanto e faço a minha higiene matinal, coloco um vestido preto que emoldura as minhas curvas, de manga comprida, bate um palmo antes do joelho, um corte em v que bate na metade das costas e um decote pequeno na frente. Meu scarpin também preto. Um coque e uma leve maquiagem, pego minhas coisas e um casaco. Jonas me liga e marcamos de almoçar hoje, já que não tem nenhuma reunião de Rhyss nesse horário.
Vou para a garagem do meu prédio e entro no meu carro velhinho, ligo e dou a partida, faço o caminho até a casa de Sophi para lhe dar uma carona, e logo estamos na empresa. Despeço-me dela quando o elevador para em seu andar, e vou para o meu.
"Aja normalmente" – penso, passando as mãos pela lateral do corpo, as portas do elevador se abrem e eu saio.
Caminho devagar até a minha sala e coloco a bolsa em cima da mesa. Tiro meu casaco e me viro para porta, onde um lindo, impotente e – "céus" – sorridente Rhyss está, um sorriso mínimo, mas está ali.
— Bom dia, senhorita Norren – deseja, cruzando os braços e se escorando no batente da porta.
— Bom dia, senhor Rhyss – digo e volto a arrumar minhas coisas. – Deseja algo? Daqui a pouco, levarei a sua agenda - comento sem olhá-lo, arrumando qualquer coisa para não ter que encará-lo.
— Olha, o que eu quero, no momento, me parece inalcançável, mas eu tenho paciência – ele fala, jogando de ponta, bufo.
— O senhor vai ficar com esse joguinho agora? – pergunto, escorando as mãos na mesa.
— Joguinho? – ele indaga, e o cretino dá um sorriso metido de lado.
— Esse joguinho de duplo sentido – digo irritada. Ele vem até a mesa e escora as mãos nesta também, ficando bem próximo. Não recuo.
— Não tem joguinho nenhum – ele provoca, ainda sorrindo.
— Tem esse seu sorrisinho – digo, apontando o dedo para a boca dele.
— O que tem ele? – Rhyss pergunta, sem desfazer o sorriso.
— Está me assustando... Você... Você – gaguejo e jogo as mãos para o alto. – Até uma semana atrás, você me dava um tanto de patadas. Claro, isso não mudou – digo, revirando os olhos. – Porém, está mais gentil, está até sorrindo, coisa que não fazia antes – comento com raiva.
— E qual é o problema de eu estar sorrindo? – ele quer saber, aproximando-se mais.
— O problema é... O problema... – Céus, não vou dizer a verdade nem morta!
– Você.
Ele se aproxima mais, até me manter encurralada na mesa.
— Então, estamos quites – ele diz, olhando para a minha boca.
E se aproxima mais, segura em minha cintura e me puxa devagar para ele, só que seguro em seu peito e abaixo a cabeça.
— Isso não é certo – digo, afastando-me. – Eu... Tem Jonas, e você é meu chefe e... E... – Coço a testa. – Eu... Com licença – peço e saio da minha sala, indo para o banheiro e me trancando por lá.
"Merda, merda, merda, merda! O que está acontecendo? Por que ele não pode simplesmente me esnobar e fingir que eu não existo? Por que ele tem que me fazer mais duvidar quanto a Jonas e me fazer gostar mais dele? Por que ele tem que ser tão lindo e gostoso, e não um velho baixinho e careca? Assim, eu nunca me atrairia por ele e essa confusão não estaria acontecendo".

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