ᴘʀᴏ́ʟᴏɢᴏ

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Que poder têm os sonhos?

Essa é uma pergunta que caminha comigo há muitos muito tempo, não sei nem quanto.

Todas as noites, quando deitamos nossas cabeças nos travesseiros macios, nos aquecemos com deliciosas mantas felpudas e fechamos nossos olhos suavemente, esperando nosso corpo relaxar enquanto navegamos pelos mais profundos pensamentos: para onde vamos? Por que sonhamos com determinadas coisas?

Seriam essas experiências quase extracorpóreas as responsáveis por nossas ações ou então apenas uniões de pensamentos coletados durante o dia que se moldavam durante a noite? Seriam eles esperanças perdidas ou oportunidades criadas para seguirmos em frente? 

Ora, essa com toda a certeza, era uma pergunta que me fazia questionar minha sanidade a todo momento. O que são os sonhos? O que é sonhar?

Para a ciência, eu sabia que apenas representavam reflexos da mente humana experienciando a criatividade inconsciente e, para os psicólogos, especificamente, representavam os desejos mais profundos de uma pessoa se manifestando. Para a religião, prelúdios do futuro do mundo. 

Castigo ou profecia.

Sorte ou azar. 

Para um ser humano tolo como eu, sonhos eram uma possibilidade de viver vidas que jamais poderia viver enquanto desperta. E para que humano não seria isso? Quantos escritores não se influenciam por seus sonhos? Quantos músicos, artistas, cinegrafistas e qualquer criativo não tem seus momentos de concentração tão absoluta que chegam a excelentes resultados por se deixar navegar entre as ondas do nada?

Ah, e eu adoraria ter vivido mais, mas sempre estive mergulhada nos meus sonhos. O que acho até irônico, de certa forma.

Minha cabeça nunca parava. Minha mente, incansável, se mergulhava em todas as situações e me contava centenas de histórias por dia. Reais, irreais, fantasiosas, mágicas, humanas... Todos os dias, eu me contava histórias e me pegava piscando, momentaneamente, no mundo dos sonhos.

Lá, eu podia ser o que, quando e onde quisesse. Eu tinha poder. Eu tinha controle. Eu poderia ser o que e quem quisesse.

Amava o ar puro e a chuva que escorria por mim quando inventava de dançar do lado de fora. Amava a música, a leitura e apreciava cada pequeno momento como se fosse o meu último. Buscava viver enquanto estivesse viva, já dizia a música de Bon Jovi.

Respirei fundo e olhei para o céu estrelado acima de mim. Senti o ar sendo aspirado, o perfume delicioso da grama molhada enquanto o vento passava pela minha pele suavemente, me arrepiando.

Sentada sob aquela noite sem lua, me perdia dentro das galáxias e constelações magníficas que se construíam enquanto se movimentavam. Um universo completamente extasiante se mostrava e refletia em meus olhos apaixonados enquanto eu estava ali, deitada de costas no chão, o orvalho gelando minha roupa, mas não o suficiente para me molhar, enquanto apoiava minha cabeça sobre meu braço como uma almofada.

Não havia mais nenhuma alma viva perto de mim. Não havia o barulho terrível das grandes cidades para me atrapalhar, mas também não havia fauna. Dei adeus às buzinas, gritos, batidas, construções e conversas... Era apenas o mais calmo e sereno silêncio, me permitindo ouvir o universo.

Como se ele conversasse comigo através dos pequenos brilhos de luz piscantes das estrelas. Criando formas, construindo espaços, me permitindo encontrar a sensação mais profunda da minha própria existência. E isso era simplesmente maravilhoso.

Confortável.

Mas aquele conforto me tinha um preço. E era caro.

Não pude deixar de sentir uma lágrima escorrer pelo meu rosto e um aperto se formar em meu peito. Eu amava sonhar. Amava os mundos que podia criar e as possibilidades que se formavam. Amava conhecer mais e mais. 

– Zoe, veja que lindo o jardim está agora! – disse uma voz feminina e maternal, provavelmente minha mãe, há algum tempo atrás, logo quando a primavera chegou. Lembro de correr pelo quarto empolgada até encontrar com a janela e, enquanto tocava o vidro gelado, observava o campo sem fim de lavandas brilhantes.

– Está mais lindo do que nunca – exclamei, emocionada com a paisagem tão bela. O sol começava a surgir no horizonte, nascendo preguiçoso, iluminando tudo com manchas azuis, rosadas e amareladas, em uma visão que só poderia descrever como uma paisagem.

No céu, vi o dragão voando ao longe, grandioso e repletos de escamas que brilhavam como cristal. Planando livremente como se não houvesse uma só preocupação na vida. Eu também gostaria de me sentir assim, livre.

– O dragão está planando baixo hoje – comentei, sorrindo.

Senti a mão da minha mãe apoiando no meu braço com leveza. Seu rosto era sereno e o cabelo castanho curto estava bagunçado, mas o que chamou minha atenção era o seu olhar. Cansado, de certa forma, mostrava um misto de emoções que eu não conseguia compreender.

– Acho melhor ficarmos um pouco longe dele então, querida – respondeu ela como em uma confidência divertida. – Eu gosto dos meus cabelos. Venha, sente-se aqui comigo.

Sorri para ela, encantada. Minha mãe sentou na cama. Lembro de um relance de uma pessoa entrando pelo batente da porta, nos olhando com grande alegria também com grandes olhos cor de mel. Não me recordo do seu rosto, nem de qualquer outro aspecto que não fosse o brilho intenso dos seus olhos, mas depois que o vi, tudo pareceu mudar.

Agora, deitada na relva fresca, me pergunto que diabos o destino espera de mim ou o que me espera. Me pego pensando sobre vida e morte, passado, presente e futuro. Mas tudo se voltava ao que eu estava sentindo naquele momento. Solidão. A mais profunda e escura. Eu não a aguentava mais.

Não queria mais ficar sozinha. Queria minha mãe de volta ao meu lado. Queria alguém que pudesse me acompanhar em uma simples caminhada ou conversasse comigo por horas sobre qualquer coisa que se interessasse. Poderia tagarelar sobre cafés e chás que eu mais adorava, constelações que me deixavam extasiada, duendes, bruxas e fadas... Qualquer coisa.

Senti meu peito afundar novamente no silêncio. Não. Ali eu não tinha mais ninguém.

Será que, algum dia, poderia sonhar com algo diferente? Fechei os olhos e desejei, intensamente, por um sonho que pudesse transformar minhas perspectivas. Uma lágrima escorreu pela minha bochecha enquanto meus olhos se apertavam.

Eu quero sonhar.

A Senhora dos Despertos | Fanfic Sandman +18Onde histórias criam vida. Descubra agora