Sombras persistentes

3 0 0
                                    

CASA DO CEBOLA - 42 horas para a festa

-Valeu mãe! To indo lá no Cascão! - exclamou Cebola, saindo de casa com sua mochila e colocando o lixo no cesto da calçada.

-Não volta tarde, sua irmã está na escola e precisa buscar ela! - gritou sua mãe, colocando a cabeça pra fora da janela. -Manda um beijo pros pais do Cascão por mim!

-Tá ok mãe! - disse com um aceno. Ao sair da frente de sua casa, teve uma breve sensassão de peso no peito. Como se algo estivesse errado.
Dobrou a esquina e qual não foi sua surpresa ao dar de cara com Cascão e Penha se beijando. ESPERA! PENHA???? Seu cérebro correu dois anos para trás, quando aquela maluca fizera a mesmíssima coisa com ele. Daquela vez, teve a infelicidade de estar totalmente nas garras dela. Depois de um ano em coma, a mesma reapareceu em uma ocasião um tanto grotesca... E agora isso!? Precisava imediatamente tirar seu amigo dessa sinuca de bico.

-Caham! - pigarreou alto, chamando a atenção do "casal".

-Ora, que surprresa esta! - começou Penha, ainda abraçando o ex sujo, que apenas pôs a mão na testa e olhou pros próprios tênis, claramente constrangido, ou mesmo envergonhado. - Que saudades, Cebola.

-Pois eu não posso dizer o mesmo. E por favor, é melhor para sua saúde que uma certa pessoa de cabelos negros e compridos não te veja assim... Tão "íntima" do meu amigo aqui. Portanto, vaza daqui, ok? E pela sombra.

-Ui! Parece que o garrotinho crresceu e aparreceu afinal! - disse a francesinha, se afastando do rapaz com um ar teatral. - Bem! Já estou bem resolvida aqui com meu amorreco. Podem confabular avontade! Beijos viu, Casconzinho! - girou nos calcanhares e saiu, dando um beijinho no ar e mandando na direção de Cascão, que permaneceu estático.

-Cara... - disse por fim Cascão. Sua face dava pena. Parecia que um caminhão carregado de dez mil litros de água tombara por cima dele, tamanha sua expressão de angústia.

-Nem precisa continuar. Vamos pra sua casa e lá conversamos. Você teve uma sorte gigantesca de que nem a Magali esteja no bairro hoje, e mais ainda! - Cebola engoliu em seco só de pensar na possibilidade contrária ao fato -A Denise está na casa da Mô até o dia da festa no colégio! Já pensou se ela estivesse com tempo livre para bisbi... Para atualizar seu feedback diário de informações pessoais alheias potencialmente úteis?

-É o quê? - Cascão olhou torto pro amigo. Aquilo era bizarro até pra se dizer.

-Coisa da Dê, esquece. Mas afinal, vamos sair daqui. - disse por fim, puxando o amigo pela blusa, em direção a sua casa. Aquela conversa iria demorar a terminar. Penha estava de volta e encontrara em Cascão uma nova vítima... Mas com qual intuito afinal? Pelo que Cebola se lembre, ela e a Magali não haviam terminado como inimigas declaradas da última vez. Aí tinha coisa. E coisa cabeluda.

Histórias que o Bairro do Limoeiro ContaOnde histórias criam vida. Descubra agora