Jayden Hideki - 46

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Vejo pelo reflexo uma Catrina curiosa e sonolenta, vestida com uma das minhas camisas moletons. Ela cruza os braços e se encosta no batente da porta, me observando vestir-me.

__ Onde está indo tão cedo? _ a ouço __ Pensei que passaria o dia comigo... Já que temos trabalhado a semana toda.

__ Decidi visitar o túmulo da minha mãe. _ ela franze o cenho vindo a mim.

__ Você só vai uma vez no mês. No quinto dia, e esse dia já passou. _ dou de ombros sem saber o que falar.

A verdade é que eu acordei com vontade de ir lá, onde minha mãe foi enterrada, como se algo me empurrasse até lá. Já são mais de onze horas e se eu quiser almoçar na hora que estabeleci para minha refeição, devo ir mais rápido.

__ Só quero ir novamente, não posso? _ pergunto virando-me para ela, Catrina assente simplista.

__ Tenha um bom dia então.

Sorrio de canto e beijo seus lábios antes de pegar minha chave e sair pela porta. Eu sentia que deveria ir até o cemitério hoje, acredito que eu tenha uma grande conexão com a minha mãe, se não for isso, não sei o que é. Enquanto esperava o sinal abrir, entrei em minha galeria do celular e encontrei uma foto da tal Azra, que Martina enviou.

Desde que conheci essa mulher não consigo parar de pensar nela e o que a mesma representou na minha vida no passado. Eu adoraria saber. Na foto, ela está sentada em um sofá, e em sua frente há uma menininha loira dos olhos azuis, tão expressivos quanto os dela, me pergunto se são mãe e filha, já que a única coisa que as fazem ser parecidas, é o olhar.

Como sempre, Azra não está sorrindo, aqueles poucos minutos que passei com ela na casa onde meu primo Elyan mora, consegui perceber que essa mulher não é de muitos amigos e que é bastante séria. E isso me deixou intrigado. Bastante intrigado.

Estaciono o carro do outro lado da rua e ao sair, travo as portas e ligo o alarme. Adentro o cemitério e vou até o túmulo, mas levo um grande susto ao encontrar a pessoa que tem sido inquilina dos meus pensamentos. Realmente foi uma grande surpresa encontrar-la aqui, Azra e Mônica eram próximas?

Como minha mãe foi enterrada um pouco afastada dos outros túmulos, o espaço só é cercado por uma árvore e foi ao lado dessa que me encostei para observa-la. Azra está com as pernas dobradas e sentada sobe seus membros. Há um buquê de rosas brancas em seu colo que acredito ser para a finada. Me assusto novamente quando ela começa a falar, em tom calmo e tristonho.

Mas presto total atenção no que sai de sua boca, pois com toda certeza, tudo o que sai de seus lábios é do meu mais sincero interesse.

__ Eu queria que a senhora tivesse conhecido meus filhos, eles amariam tê-la como vó. _ franzo o cenho __ Deve está curiosa para saber como meus meninos são não é? _ assenti como um pateta, logo percebendo que a pergunta não foi para eu __ Bom, vamos lá... _ ela parece querer se conter __ Joe, é uma criança que gosta de aprender, mesmo com quatro anos, já sabe muito mais coisa que eu, e sua matéria preferida é geografia. Ele não gosta de brócolis mas ama espinafre, eu realmente não sei qual o sentido, apesar de não gostar de nenhum dos dois... _ Azra põe uma foto que suponho ser de Joe no memorial da família __ Victória...

Victória?

Por que esse nome me trás um vazio tão grande e uma emoção tão forte?

__ Victória... _ ela para e noto pela voz que está chorando __ Ela é idêntica ao pai. É grossa, mas carinhosa ao mesmo tempo. _ ouço sua risada __ Não gosta que gritem com ela e, vive trancada no quarto, igual o pai quando se trancava no escritório... Ah meu Deus, eu queria tanto que ele conhecesse nossas crianças. _ Azra cobre o rosto com a mão se decaindo em lágrimas.

Todos Os Caminhos Me Levam A Ti - 📚Onde histórias criam vida. Descubra agora