Jayden Hideki - 56

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O sol escaldante fazia meu corpo suar além do normal. A agonia era crescente em meu juízo. E o fato de agora ser viúvo, de não ter mais Azra comigo, está acabando com meu psicológico de forma bruta. Levanto do banco e vou até o túmulo da minha esposa, me ajoelho ao lado e toco a fotografia cravada na lápide. Ela, nossos filhos e eu, felizes por terem um novo membro na família. __ Você me deixou... Quebrou sua promessa, e agora, agora eu estou só... Quebrado, desamparado, e amargo. O que eu vou fazer? Apollo precisa do seu leite, nosso filho está perdendo peso e não aceita nada. Não sei mais o que faço.

Apollo perdeu muitos quilos desde que parou de ser amamentado, ele não aceita mingau, nem leite ninho, não quer nada que não seja o peito de sua mãe. Não consegui conversar com os gêmeos e para piorar, Joe não quer trocar uma palavra sequer comigo como se entendesse o que está acontecendo ao seu redor. Victória tenta ter contato comigo mas eu não consigo olha-la, sinto que ela me ver como o culpado da morte de sua mãe, assim como Joe. Eu não tive coragem, não fui homem para encara-los pessoalmente.

Horas depois e um pouco bronzeado de má forma, retornei para casa após uma decisão bastante covarde. Mas eu simplesmente não sei como lhe dá com essa situação. Então, organizei uma mala com algumas coisas, outra com as coisas de Apollo e realizei uma ligação para Martina que assim que soube o que eu planejava, veio até meu apartamento depressa, quase morrendo do coração.

__ Você ficou maluco? _ diz assim que me encontra no quarto __ Olha, eu entendo que esteja sofrendo por conta do falecimento, eu também estou, mas não pode simplesmente ir embora como se não existisse mais duas crianças que dependem de você! _ ela estava alterada, confusa.

__ Joe e Victória irão me odiar quando estiverem grandes... Mas eu não tenho mais coragem de estar aqui... _ digo ajeitando Apollo nos meus braços __ Eu vou embora.

__ Jayden, pensa direito... _ ela segura meus ombros __ Por favor, o luto sempre vai existir... Mas, o rancor dos gêmeos, a tristeza de Victória e o desprezo de Joe é algo que você pode evitar, pense nisso!

__ Não há o que pensar. _ falo convicto __ Cuide deles por mim.

__ Não aja assim, Jayden! _ ela se ajoelha na minha frente __ Eu imploro, não os deixe!

__ Tira a mão. _ meu rosto fica sério, eu estou disposto a ir, afasto-me e antes que eu saía da porta, ela diz algo que acabou abrindo ainda mais a minha ferida.

__ Azra sentiria vergonha, desprezo se presenciasse isso.

__ Não fale dela. Não toque no nome dela! _ digo rígido.

__ Eu o matei. _ franzo o cenho __ O homem que causou o desastre a Azra, o pai de Alice... _ seus olhos se fixam de ódio __ Eu fiz tudo isso, manchei minhas mãos de sangue mais uma vez, para ter como criar os filhos sem o medo de ser atacado... Mas parece que você consegue ser imbecil ao ponto de preferir deixá-los sozinhos! _ ela diz se levantando e indo até fora do quarto, chega na porta de saída e se vira __ Então, vai mesmo deixá-los?

__ Já tomei a decisão. _ falo convicto.

__ Tudo bem. Vai, vai embora. Mas, não espere que eu proteja você dos julgamentos que eles farão. Eu mesma terei o prazer em fazê-los odiar você! Seu idiota. _ ela sai batendo a porta com tanta força, que a fechadura quebra e a madeira volta para trás.

Eu já tomei muitas decisões idiotas, mas tenho certeza que nenhuma chega perto dessa. Devo está ficando louco, sem noção, maluco... Mas, talvez eu não sinta o mesmo amor quanto para os gêmeos... Ok, isso é horrível, me julguem, mas, eu simplesmente não consigo encarar os dois sem me lembrar de Azra sofrendo em borrões, como se eles trouxessem tudo de ruim a tona novamente.

E tudo bem se eles me odiarem, eu estou sendo um idiota e corajoso o suficiente para ter coragem de deixá-los, então terei a mesma cara de pau para encara-los quando já estiverem grandes. É inevitável, uma hora ou outra terei que apresentar Apollo aos irmãos mais velhos, contar toda a história e ele me reconhecerá como o maior ordinário dos últimos tempos, todos irão.

Entretanto, nada me fará ficar em um lugar onde cada lugar me faz lembrar de Azra. Cada milímetro desse apartamento e cidade faz lembrar-me do que vivemos, das noites em claro, das lágrimas derramadas e das risadas sinceras que foram dadas. Seria um tormento ficar aqui. Então, não há nada que me segure nesse lugar.

Quando tudo já estava realmente arrumado, Apollo dormindo e o apartamento silencioso, me sentei na frente da mesa de estudos, e escrevi duas cartas para os gêmeos. Pedindo perdão por ter deixado os dois, por ter abandonado quando na verdade eu deveria me manter firme ao lado deles, por ter deixado de lado minha paternidade para com eles. E pedindo que algum dia em suas vidas, ambos possam me perdoar, e que também possam entender meu lado, mesmo sem a menor justificativa.

E finalmente, pude partir.

Fiz uma conta falsa em uma rede de comunicações, passei três anos conversando com Beatrice que me dava informações felizes sobre suas vidas. Joe e Victória foram postos numa escola militar, a mais rígida da cidade. Martina e Nicholas casaram e tiveram filhos. Giulia e Pietra engravidaram outra vez e seus maridos desmaiaram no momento do parto... Adryan entrou em um relacionamento com Anna, tia de suas filhas.

Catrina casou com Leonel e ambos foram viver na Grécia, logo tiveram filhos. As irmãs demais de Azra seguiram suas vidas normalmente, os seis outros irmãos surgiram meses depois de sua morte e se estabeleceram na cidade. Meu pai faleceu aos setenta e sete anos. Enfim, todos seguiram, nenhum deles pararam suas vidas pelas perdas e muito menos ficaram remoendo-se pelos funerais que foram realizados.

E eu, segui com a minha vida com meu filho Apollo. Ele cresceu, e logo estávamos tomando de conta juntos de um restaurante francês em Barcelona. Mas o oco em meu peito ainda se fazia presente a todo momento, faltavam partes dentro de mim, partes essas que eu não poderia juntar. Não importe o quanto em me dedique a Apollo, o quanto sinta falta dos gêmeos, e sim, eu sinto... Não importa, o vazio sempre vai está ali, me atormentando.

Meu mundo desmoronou, os livros continuavam apostando no final "Felizes Para Sempre". Os livros me salvaram nos dias em que minha alma enfrentava as piores tempestades.

[...]

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