"Got no reason
Got no shame
Got no family
I can blame
Just don't let me disappear
I'm tell you everything"
— E como está indo sua adaptação?
A olhei e pisquei dando de ombros indiferente.
— Aparentemente a coisa que eu já esperava que seria.
Ela suspirou.
— Charlie, a doutora O'connel me passou sua ficha, então pode se soltar, sou sua psicóloga agora, não seja vago comigo.
— É — dei de ombros tirando os óculos escuros — estou ciente disso. Afinal, sou obrigado a fazer isso aqui por mais alguns meses, só é chato repetir tudo que já disse a ela.
A doutora assentiu arrumando seus óculos.
— Realmente.
— Mas se você tem minha ficha, por que preciso repetir?
— Quero ouvir de você.
— Certo — bufei.
— Não é bom mudar de cidade? Expandir os horizontes?
— Não — fui curto e grosso — as pessoas são muito felizes, eu não sei onde as coisas ficam e aqui é quente, eu gosto do frio.
— Sei que sim — ela assentiu — então por que veio?
— Emprego, aqui paga melhor e eu estava cansado das pessoas de lá, de certo modo.
— Entendo — ela me olhava com atenção — então não tem nada a ver com os pequenos excessos de raiva dentro de seu antigo emprego?
— Talvez.
— Certo — ela anotou algo em sua prancheta — começa amanhã, correto?
Assenti.
— E por que arquitetura?
— Acho incrível — eu disse e ela assentiu.
— Algum motivo especial? Gosta desde pequeno?
— Sempre morei em casa, então gostava de olhar os prédios — ela assentiu — e a primeira vez que fui em um museu em um passeio da escola, na quarta ou quinta série, eu fiquei encantado com a arquitetura grega.
Ela assentiu parecendo feliz com a resposta.
— E seu apartamento, tudo certo com ele? É um lugar bom?
— Na teoria — eu disse — ele é frio, isso me deixa mais confortável.
— Imagino que sim — ela acabou sorrindo — gostava de Londres apenas por ser frio?
— Basicamente — assenti — e querendo ou não é onde nasci.
— Valor sentimental... claro.
— Perdão, mas não tenho valor sentimental algum de absolutamente nada — acabei sorrindo sarcástico — apenas sinto que devia estar lá, não aqui em solo americano, principalmente no cúmulo do calor.
Ela assentiu me olhando atentamente.
— Então não sente falta das pessoas? Não tem recordações boas de lá que o faça sentir falta?
Neguei.
— Que tipo de recordação boa poderia ter de lá?
— Sua família, por exemplo.
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Raio de Sol & Tempestade
RomanceUm londrino extremamente rabugento que ama o frio tem que recomeçar sua vida em L.A, aprender a socializar e lidar com o calor. Conseguiria ele esquecer os problemas que o levaram até ali, e de fato, "recomeçar"?