Finais e começos

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Quando Ana e Mariana se conheceram naquela sala de hospital nem se quer imaginavam que iriam se ver outra vez, quanto mais ficarem entre a vida e a morte ao mesmo tempo. Elas em tão pouco tempo viveram tantas coisas juntas que muitos podiam dizer que se morreressem naquelas mesas de cirurgia seria incondicionalmente memorável. Uma história de amor que mal começou acabar de uma forma tão trágica e ao mesmo tempo tão clássica.

Ferran sentiu algo perfurar a pele da sua costas, depois sua panturrilha e depois suas costas outra vez. Uma sensação de fraqueza percorreu seus músculos e depois sentiu algo quente, não havia dor apenas um estranho sentimento de estar sendo sufocado, e sim estava pelo sangue que começou rapidamente regurgitar pela sua boca enquanto sentiu o asfalto duro e frio tocar seu corpo. Ele sabia que havia ido longe demais, e nem mesmo entendeu naquele momento o que levou até aquela situação. Desespero de perder? Amor? Ele talvez achasse que fosse amor, mas que amor seria esse que entrega a morte e não a vida. A Ferran, belo Ferran que deu a morte uma oportunidade de tê-lo simplesmente por não conseguir conter seu frágil ego masculino. O moreno bem criado pela mãe agora nada mais era que uma estatística entre outros que perderá a cabeça por não aceitar o fim de um relacionamento. Agora arrependido em seus últimos suspiros ele pediu perdão a Deus, implorou de forma genuína que se houvesse um Deus como todos falavam que ele fosse perdoado pelo mal que cometerá. Sua cabeça caiu de lado e seus olhos se fecharam olhando para o nada. Ali se fechada a vida de uma menino, homem, empresário e algo mundialmente conhecido lunático. Sua pobre mãe que vai tudo da televisão deixou as lágrimas caírem e pediu ao seu Santos que ele pudesse ser perdoado pelo pai celestial. Se isso iria acontecer ela jamais saberia, mas passaria seus últimos dias rezando para que ele encontrasse a luz. Seu algoz foi nada menos que Elena, que ao ver a arma caída da bolsa de Francesa. Isso depois de ser solta por Pablo. A morena não pensou duas vezes em sua amiga, que estava visivelmente passando mal e sendo arrastada com aquele homem sem escrúpulos. Quando abriu a porta e o viu se costas não pensou duas vezes e apertou o gatilho da semi automática.
Elena nunca em sua vida se quer havia atirado um copo em outra pessoa mas naquele momento sua mira foi certeira. O que ela não imaginava era de que a polícia em um protocolo fosse deferir nela pelo menos dois tiros apenas para desarma-la. Um pegou de raspão no braço esquerdo e o outro acertou sua perna esquerda. Quando notou ela estava na escadaria do prédio com suas mãos sujas de seu próprio sangue. Seu pai que fazia plantão no administrativo do hospital acompanhou tudo pela televisão e sentiu seu coração partir quando notou que a sua filha estava envolvida naquela cena que havia parado o país. A morena de cabelos longos e finos não teve muito tempo de pensar no que estava acontecendo ela apenas sentiu algumas pessoas se aproximando e falando rapidamente com ela, e logo sentiu uma vontade absurda de fechar os olhos e dormir. Não conseguiu mais então raciocinar nada. Os polícias e depois os enfermeiros, eles a colocaram em uma maca e logo depois dentro da ambulância. Todos os procedimentos necessários estavam sendo feitos, e logo partiram para o hospital. A guitarrista e cantora iria sobreviver, isso era certo.
Ninguém ali entendeu exatamente o papel dela na cena, mas a opinião pública estava ao seu lado. Ela havia sim tirado uma vida, mas essa vida já não valia mais nada depois do que havia feito. Se era certo pensar assim ou não, não sabíamos. Mas, mas até mesmo os policiais estavam do lado dela, ela fez a sangue frio o que a maioria dos policiais queriam ter feito desde o primeiro momento.
 
Bom Elena não teve tempo de processar que quando Ferran caiu ele soltou Mari que também desabou no chão, por sua sorte o corpo do moreno amorteceu sua queda. Mas Mariana realmente estava passando mal, seu nervoso foi tamanho que seu corpo entrou em choque, seu coração não aguentou a pressão, bombeou tão rápido que em determinado momento parou. Simplesmente parou, uma válvula de alguma forma se rompeu. Quando lembrava, naqueles segundos de Ana caída no chão em meio ao sangue ela se culpava. Viu Ana fechar os olhos, sentiu o mundo ser aniquilado. Mariana não sabia que existia uma problema em sua aorta, e seu estresse acelerou o problema.
Os paramédicos levaram Ana e Mariana com urgência para o mesmo hospital. Não que fosse premeditado mas era o mais próximo, e por sorte, talvez ajuda do destino que até então foi um pouco sacana. E o hospital mais bem equipado. Ambas as famílias avisadas, cirurgias de emergência, com alta complexidade. Todos estavam com lágrimas nos olhos, com medo e sem chão por tudo que havia acontecido. Juan Carlos jurou que se ambas saíssem dessa nunca mais brigaria com Ana. Será que Ana e Mariana seriam apenas histórias que contariam para as meninas dormirem?
Quando foram, quase que simultaneamente, colocadas na mesa fria da sala de cirurgia ela tinham poucas chances. Ana por ter passado tempo demais, perdido sangue demais e Mariana por ser grave demais. A loira já estava com a boca roxa e com o corpo frio. A morena ainda estava quente. A sorte de Mariana, ou talvez o destino foi a rapidez que foi atendida, se caso Ferran a prendesse por mais tempo sua vida seria completamente ceifada. Enfim, foram cerca de duas horas de cirurgia de Ana, que milagrosamente não estava com uma hemorragia interna e a lesão acometida pela bala foi restaurada com sucesso. Ela ficaria vinte e quatro horas na UTI, mas os médicos garantiram a todos na sala de cirurgia que Ana ficaria bem. Já Mari ficou exatos quatro horas com o peito aberto. O que fez Tere quase perder o bebê que esperava tendo um pequeno sangramento, mas que por sorte conseguiram conter. Quando se conta parece que tudo ocorreu em uma velocidade incrível mas para aquelas pessoas, até mesmo para Isabela que também teve que passar por uma pequena cirurgia para extraí a bala. Foram horas e horas intermináveis que foram acabando aos poucos com muita lágrimas de alívio, primeiro quando aos poucos Ana foi abrindo os olhos e viu Cecília ao seu lado. Ainda grogue.
- Filha?
Chamou ainda com a voz baixa e ainda meio sem entender onde estava.
- Mamãe, mamãe como você está? Sente dor? Vou chamar a enfermeira.
Cecília apertou o botão em que acionava a enfermeira que veio imediatamente.
- Senhora Servin, boa noite – Sim era noite – como está se sentindo?
- Com sede, estou com sede.
Ana tentou se mover mas foi contida.
- Calma, não precisa se levantar eu vou levantar a cama com calma e lhe darei um pouco de água.
- Ela esta bem, certo? Não corre risco?
A menina estava eufórica, e com toda razão.
- Cecília, ainda é cedo mas ela ficará bem. Precisamos ter calma e paciência – Disse a enfermeira dando o copo de água para Ana e logo depois mediu sua febre e sua reações – Aparentemente está tudo bem, vou avisar o médico que você acordou.
- Obrigada! - Falou Cecília – Mamãe que bom que está bem.
- Meu amor, a Mariana? Sabe dela? Minha última lembrança dela foi do Ferran a tirar a força da sala.
O coração de Cecília que quase parou naquele momento.
- Mamãe a Mari está se recuperando. Ela logo vai estar aqui com a gente – respondeu suando frio – agora você precisa descansar para ver ela.
- Cecília, o que aconteceu? – A menina torceu o nariz – Vamos me conte, por favor. Ele machucou ela?
- Não mamãe, bom vou te contar mas tem que ficar calma – Então a menina contou todos os acontecimentos enquanto sua mãe está desacordada –Foi isso, a Mari ainda não acordou, não reagiu – Ana estava estática sem conseguir pronunciar se quer uma palavra e com os olhos cheios de lágrimas – Mamãe você tem que ser forte.

- Eu quero ver ela, ela está aqui certo?

Nesse momento o médico entrou.

- Ana, boa noite.

- Que bom doutor, - Falou Cecília
– minha mãe quer ver a Mariana.

- No momento ela não vai ver ninguém além de nós dois...- Ana tentou falar algo mas foi impedida – Ana eu não estou brincando com a sua vida e espero que a senhora também não, a sua cirurgia foi e é de risco então vamos ter paciência. A senhorita Herrera está estável e sendo observada, ainda não acordou. Cecília você me deixa a sós com a sua mãe por favor? – A menina assentiu, deu um beijo em sua mãe e saiu. O médico puxou a cadeira e sentou em frente a Ana – Me chamo Hector Chaves, a bala passou muito perto de atingir regiões importantes, então eu preciso que tenha paciência. Você está bem, não queremos que ocorra uma hemorragia interna com abertura dos pontos.

- E a Mariana? Não quero que minta para mim.

- Bom – Ele respirou fundo – não sou médico dela, mas a situação dela é delicada ela já tinha um probleminha no coração que ninguém sabia e a tensão...Bom, ela está estável a cirurgia foi bem sucedida agora ela precisa reagir e isso é com ela, digo com o corpo dela. Vocês passaram por muitas coisas.

- Me deixa ver ela, por favor! – Implorou Ana – Só um pouquinho.

- Vou ver se o médico dela autoriza, mas você precisa ter paciência e ficar calma, ainda me preocupa muita  seu estado. Vou fazer alguns exames físicos em você combinado?

- Sim!!

O médico fez alguns exames físicos nela e saiu, pedindo para Cecília voltar. Ele pediu para aplicar um calmante no soro de Ana, pelo menos para ela dormir mais um pouco. E dar mais um tempo para entender a situação de Mariana, a sim notou que a pressão dela estava um pouco alta. No dia seguinte por volta das treze horas a enfermeira veio buscar Ana, para levar ela até a UTI. Eles colocaram nela os aparatos necessários e a levaram de cadeira de rodas para perto de Mari. Ana foi deixada ao lado da morena que estava com um respirador e cheia de aparelhos.

- Mariana – Pego na mão dela – não me faz brigar com você nesse momento então por favor você pode acordar? – As lágrimas caiam naturalmente dos olhos de Ana e deixavam o azul ainda mais intensos - Temos tanta coisa para viver Mari, nossas filhas precisam de nós, eu me recuso a criar elas sem você. Elas nem se quer fizeram um ano, meu Deus não teremos tempo de fazer uma bela festa se você não acordar. Mari, eu preciso de você. Vão dizer que posso viver sem você e eu posso, mas não quero Mariana.

Ana deitou sua cabeça nas mãos da outra e rezou, Ana não era uma mulher de rezar, mas ela rezou como nunca pensou precisa e desejar na vida. Mas olhar a mulher que amava, a sim ela amava. A eminência da morte nos dá coragem pra assumir e entender os mais sinceros sentimentos. Elas se conheciam a menos de um ano e viveram tantas coisas, como era surreal sentir e ter certeza mas ela tinha. E precisava agora que Mari acordasse para viverem aquilo.

- Senhora preciso levá-la.

Falou a enfermeira.

- A sim, obrigada.

  Mariana não acordou naquele momento, ela levaria ainda mais longos dias para abrir seus olhos. Mas de alguma forma ela ouviu as súplicas que Ana fez, e não somente naquele momento mas nós outros nove dias em que voltou diariamente para novamente pedir para Mari acordar. Então em uma sexta- feira chuvosa e fria Ana novamente em frente a morena sentada na cadeira de rodas pegou a mãos da outra, que agora já respirava sozinha e conversou com ela.

- Oi, hoje está chovendo, apesar disso o dia está bonito. Sinto falta de ouvir sua voz, me disseram que daqui dois dias vou ter alta. Mas queria que fosse comigo - Deitou sua cabeça novamente nas mãos de Mari - Por Deus Mariana já deveria ter acordado, o que eu tenho que fazer pra você voltar?

- Deveria - Ana ouviu sem acreditar - ter tentando me beijar, - A voz era baixa mas era a voz dela, era a voz de Mariana.

- Mari? - Ana levantou a cabeça e viu a morena sorrindo com os olhos ainda meio abertos e meio fechados - Não acredito - Ana levantou-se com cuidado - Realmente não pensei nisso.

- Estava com saudades.

Disse Mari a olhando

- Eu também, não imagina o quanto. 



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