Capítulo 4 - Outubro Algoz

15 8 1
                                    

         É chegado Outubro, o décimo mês do ano, a época das bruxas. Juntamente com os ímpetos ventos do norte, e a grande lua cheia do equinócio, agora todos os fantasmas estão rua à fora. É o momento de os ver dançar pelas calçadas e por toda a cidade. É chegado o período, onde as sombras que se escondem no chão saem para brincar e frio acorda todos os mortos. Não é mais questionável correr, ou fugir. Agora já não há descanso para os ímpios. A celebração e a dança do dia das bruxas e dos mortos chegou. É a festa do inferno, e logos os estudantes estariam sob o grande feitiço. E eles deveriam se perguntar:

Quais são os passos atrás de você? E que chega quando você dorme... Que criatura mora debaixo da sua cama? E que faz seu coração bater... O que é esse uivo da floresta? Que arrepia seu pescoço...

Bruxos e bruxos e bruxas. É a festa de Halloween da Academia Damodred.

       Tudo realmente começou quando no quinto dia do antepenúltimo mês do ano, Karycya juntamente dos outros, encontrou em uma biblioteca da Academia um diário de capa marrom feito de couro. Ele não possuía titulo na parte de fora, apenas folhas amassadas, amareladas e velhas. No seu interior estava escrito:
O DIÁRIO DE CECÍLIA DAMODRED.
Escrito com um nanquim levemente desbotado, o que transparecia a noção de que era velho.

Se não fosse por um trabalho de história, Karycya nunca teria pegado o diário. Mas quem é Cecília?

"Ela foi a filha do Solomon Damodred" -Falou Iuri

       Sim, ela realmente era, um diário escrito a mão pela filha do fundador. Ela era comumente conhecida como a filha que enlouqueceu. Boatos que perambulam pelos corredores dizem que ela sucumbiu as feitiçarias do pai, outros que não suportou a perda da mãe, outros que ela se matou por birra.

        Naquela mesma noite, sentada na janela de vitrais colorida do seu quarto, Karycya se acomodou no banquinho que ficava no pé da tal. Ela colocou o livro sobre a barriga, que estava já um pouco maior por conta da gravidez, e começou a folhear as páginas uma por uma, para achar conteúdo para sua pesquisa:

O DIÁRIO DE CECÍLIA DAMODRED - OUT. 1850
11 de out. Hoje eu estou mudada. Mesmo sem um espelho ou uma bacia com água limpa a minha disposição, a aberração é perceptível. Temo que não seja pela mão divina de meu criador. Temo especialmente por ter me tornado mais forte.

      Karycya, continua lendo...

12 de out. Meu pai solicitou novamente a localização. Disse-lhe que não sabia. Ele prometeu me libertar do cativeiro, mas as paredes sussurram para que eu não confie nele. Logo, não confio.

      Por ser um diário, não havia muito contexto sobre o que estava sendo falado, mas foi o suficiente para Karycya sonhar com aquilo...

No sonho ela se viu no meio de um corredor, havia homens e homens com mantas e túnicas azul marinho usando máscaras que cobriam metade do rosto, na parte de cima, sobre os olhos saiam finos cifres encaracolados e um par de asas negras, como as de um corvo. Os homens andavam em filas atrás um do outro, Karycya os segue até chegar em uma sala com grandes janelas. Ela então ouve uma badalada e de repente ela está na frente de um enorme prédio dentro da Academia, já é noite e escuro. Quando uma voz em sussurro vem por trás em sua nuca dizendo "os sinos da meia-noite". Fim do sonho.

* * *

         Outubro não era apenas celebrado o Halloween, em Damodred significava festa de aniversário da escola. Por isso a comemoração se iniciava no começo mês. Nesse período por onde se andava estavam espalhados panfletos laranjas, e decorações do dia das bruxas. Todos os corredores tinha teias de aranhas e morcegos pendurados no teto. Nas paredes tinha chapéus de bruxas e candelabros acessos. Já na parte de fora, em todas as portas e entradas havia duas abóboras dando boas vindas. Em cada pátio tinha sido colocado pequenos caldeirões da onde deles saiam fumaças sem parar. Adornos e enfeites estavam nos quartos, nas salas de aulas, jardins, postes e até um espantalho fóra colocado próximo do portão de entrada. E claro vários cartazes escrito "Academia Damodred celebra 175 anos".

Era comum os alunos com carro serem liberados para irem a cidade para comprar ou alugar fantasias. Os que não tinham transporte, normalmente já levavam uma fantasia na voltas as aulas ou improvisava com o que tinha.

       Jeff adorava comprar materiais, para confeccionar suas próprias fantasias. Por isso ele convenceu a todos de pegar um ônibus até Vale negro, para comprar acessórios e ver fantasias. Caminharam pelo centro da cidade por umas três horas, até acharem tudo o que precisavam: tecidos, máscaras, fantasias completas e colares antigos. Eles estavam prontos para a festa.

* * *

        O dia da apresentação do trabalho de Karycya já havia passado, todavia, mesmo assim ela não devolveu o diário à biblioteca. Ela se pegou cada vez mais e mais investida na história e no que Cécilia Damodred havia passado e no que ela estava querendo dizer.

Logo após as luzes da escola terem se apagado para a hora de dormir, Karycya para não icomodar Christina e Ágatha saiu do quarto com o diário na mão para o ler no corredor. A luz lá era fraca, porém vinha das pequenas velas artificiais que ficavam pregadas na parede. Estava silencioso e quieto, a garota andou e sentou no primeiro degrau da escada que dava pro andar inferior. Uma escada de carvalho liso. A esta altura ela ja tinha lido uma boa parte do diário, então o abre onde parou:

17 de out. -Tive um sonho novamente na noite passada. Meu pai acena para que eu pule da janela e caia em seus braços, com uma promessa de amparo e amor. Creio em suas palavras e salto de minha prisão. Porém, deveria ser mais inteligente...

        Karycya mal havia começado a ler quando escuta um barulho de algo vindo da janela no fim do corredor. Uma batida. Ela não consegue ver direito, por isso cerra os olhos, tudo fica em silêncio novamente, até que outro som atinge a janela. O som é baixo, mas estava tudo tão quieto que era impossível de não o percebe-lo. Até o bater de asas de uma pequena mosca seria audível. A garota se levanta rapidamente do pé da escada e vai até a janela. Chegando lá ela nota um alongado galho seco se batendo contra o vidro.

Ela então se esforça e senta no pé da janela lentamente por conta da barriga e continua lendo:

...Ao me aproximar do chão, vejo meu pai ser convertido em trevas eternas. Apesar de acreditar que se trata de uma passagem sombria para um fim infeliz, a revelação se torna evidente em um suspiro: A escuridão é meu único abrigo!

        Antes que Karycya possa virar a página, um barulho realmente alto vem do andar inferior, abaixo da escada. Ela se assusta e espera que outro aluno abra a porta para conferir o som. Todavia, aparentemente ninguém mais o ouvir, já que as portas fechadas, permaneceram fechadas.

-Quem tá ai? -Perguntou Karycya ao vazio.

Não ouve resposta de volta.

        Ela se preparava para abaixar sua cabeça para ler um pouco mais quando ouviu o mesmo som. É então que seu coração começa a ficar acelerado e suas mãos frias.

-Tem alguém ai?

É nessa hora que Karycya ouve o som de correntes sendo arrastadas pelo chão. Ela se apoia na janela e tenda se levantar o mais rápido que consegue. As pequenas luzes vindo das velhas na parede, começam a tremular e chacoalhar. Ela segura o livro com força na mão esquerda e com a direita segura a barriga.

-Oi? -Ela pergunta uma última vez, quando o galho da árvore bate novamente no vitral, à fazendo levar um susto. Karycya se vira para janela, dando um pequeno grito, ela olha para lado de fora, mas não ver ninguém, apenas um caminho de pedra e uma parte da Floresta Negra que se balançava no vento da noite. No céu não há estrelas. Então sorrateiramente o som de passos começa a ecoar na escada. Ela começa a sentir verdadeiramente medo.

      Karycya caminha até em direção a porta do seu quarto, quando os passos começam a ficar mais forte, como se alguém estivesse subindo as escadas. Como os degraus estavam no fim do corredor e possuíam um formato oval, Karycya não conseguia ver o fim da escada, ou se alguém estava realmente subindo. Muito menos com aquela escuridão.

Ela caminha ligeiramente e entra no quarto rapidamente, com o coração pulsante. Ela se deita na cama e coloca o diário na cabeceira, fechando os olhos para mais um sonho... ou assim ela pensou.

                                        * * *

Espero que tenham gostado!!
Não esqueçam de votar 🌟 e deixar um comentário 💬 nas partes que vocês mais gostaram no ao lado. ❤️

Desçam para mais
⬇️

ACADEMIA DAMODREDOnde histórias criam vida. Descubra agora