•Curtas de Terror•

Impostor

Mary Sanley, uma garota bem popular na escola, notas maravilhosas, líder de torcida, uma ótima aluna e sempre pega os melhores papéis nas peças teatrais da escola, Mary tem a vida perfeita, uma boa filha que é super amada e protegida pelos pais, tem algo melhor do que isso?

Longos cabelos negros como a noite, pele branca e livre de qualquer imperfeição, macia como a de um bebê, olhos cor de mel que brilham contra a luz do sol, corpo ideal e altura ideal, parece até que saiu de um filme ou de um conto de fadas, qualquer garota seria louca para ter a aparência e corpo de Mary, afinal, que não iria querer?

Era uma bela tarde, o clima estava perfeito e a rua silenciosa, um tempo perfeito para sair com amigos e aprontar todas ou apenas se divertir, mas claro, Mary avisou seus pais sobre sua saída e para onde iria, teria que encontrar seus amigos no túnel perto do centro, de lá todos iriam para o cinema ver o novo filme recém lançado, Impostor.

A garota usava um belo vestido preto, colado em sua cintura e solto em baixo, um lindo coturno e um body branco de gola alta, estava bela, ainda mais com seus cabelos soltos e uma única trança ao lado que deixava tudo mais belo, uma verdadeira boneca, chamava a atenção de quem passava à sua volta, e isso era de se esperar, Mary era perfeita, a garota dos sonhos de qualquer um.

O céu ainda se mantinha claro, mas logo possível ver o pôr do sol e os tons escuros e quentes se misturando no lindo céu coberto por nuvens, parecia uma bela pintura, era como se tudo ao redor de Mary fosse perfeito, tudo somente para ela.

Enquanto andava, ela não deixou de perceber que a partir daquele momento tudo ficou mais silencioso e não viu mais nenhuma pessoa passando por ali, o que era estranho, mesmo que já estivesse anoitecendo, naquele horário estaria cheio de pessoas na rua voltando para suas casas depois de um dia cheio de trabalho, afinal, era uma quinta feira ainda, por que estava tudo tão vazio?

Tentando ignorar esse fato, ela continuou a andar até que finalmente chegou no túnel, pegou seu celular calmamente com sua capinha perfeita em tons pastéis, olhou as horas e viu que ainda estava cedo, chegou mais rápido do que o costume então teria que esperar mais um pouco pelos seus amigos que já deveriam estar a caminho.

Olhou ao redor e andou um pouco, observando aquela bela estrutura sem nenhuma pintura ou escritas agressivas feitas com tinta ou com pedras que poderiam arranhar aquelas paredes e deixar marcas, era raro ver algo em perfeito estado assim.

Enquanto esperava o tempo passar ela ouviu um som, som de passos, eram lentos e arrastados, pensou que poderia ser um de seus amigos se aproximando, a jovem moça se ajeitou e com um belo sorriso o chamou.

Mary —  Quem é? É você Tom? Pelos passos arrastados eu tenho que certeza que é, ou será que é o Jason?

Comentou de forma animada enquanto segurava sua bolsa, ainda com aquele maravilhoso sorriso nos lábios que foi se desmanchando aos poucos, não eram Tom, muito menos Jason, bem.. Não dava pra identificar quem era, ou melhor, o que era.

A poucos passos de distância se encontrava uma coisa, uma criatura alta, parecia um manequim mas podia se mexer perfeitamente bem, seu corpo não tinha muita forma humana, apenas leves traços, seus dedos eram longos e afiados como garras, não possuía rosto ou nenhuma mísera marcação, não tinha nada, era pálida e emitia alguns pequenos sons como chiados, aquilo estava começando a se aproximar lentamente de Mary que não conseguia mover um músculo, era como se seu corpo tivesse travado ali, preso por algo que não podia ver.

Ela tentou falar, gritar, implorar por ajuda mas sua voz nem sequer saía, apenas lágrimas que escorriam sem parar, ela temia que algo acontecesse, era certo que aquilo faria algo consigo e ela não podia nem ao menos se defender.

Em um pequeno piscar de olhos, aquilo estava parado à sua frente, mesmo não possuindo olhos, aquilo parecia encarar profundamente a alma de Mary, causando sensações estranhas na jovem, era como se tivesse tendo algo sugado de seu corpo que foi ficando cada vez mais pesado.

Tudo a sua volta começou a girar e escurecer, um vazio enorme tomou sua mente e logo apenas um grande vazio se fazia presente, aquela coisa se afastou assim que o corpo de Mary foi ficando cinza como uma estátua e logo desmoronou, virando pó sob o chão, agora, o corpo pálido e sem rosto criou forma, era Mary.

Sons de passos puderam ser ouvidos e assim que se virou para trás viu três jovens se aproximarem, um de cabelos ruivos, o outro de cabelos castanhos e uma bela garota de cabelos azuis, claramente tingidos, eles se aproximavam com um grande sorriso no rosto.

Tom — Oi Mary, desculpe a demora, Susie acabou se enrolando e tivemos que esperar ela..

Jason — Esperou muito? Parece que chegou aqui há um tempo.

Mary — Não se preocupem, eu cheguei a pouco tempo, bem.. Vamos indo? Vamos perder nossa sessão.

Com um grande sorriso meio torto, mas que logo se ajustou, tornando-se belo, a jovem se virou e saiu dali junto de seus amigos enquanto o pó cinza antes caído sob o chão foi levado com o vento, ninguém fazia ideia, mas aquilo não era Mary, e talvez ninguém percebesse.

Susie — Tudo bem querida? Parecia meio incomodada com algo..

Mary — Não, está tudo bem, não se preocupe.. Eu me sinto ótima.

A jovem se virou para a amiga de cabelos azuis, sorrindo enquanto voltava seu olhar para frente, ajeitando de forma disfarçada um de seus dedos que ainda não estava totalmente igual, mas que logo se ajustou bem, poderiam não ver ou perceber, mas aquilo, aquela coisa era um impostor, o impostor que tomou a bela vida invejável de Mary, e quem sabe, poderia tomar de outra pessoa, até mesmo tomar a sua.