Muitas famílias têm tradições diferentes, comida é uma das principais categorias e a minha família é uma delas, e no que somos bons? Sabemos como fazer um ótimo vinho, forte, doce e delicioso. Possuímos uma plantação enorme de uvas na fazenda, parte delas é para o vinho, a outra para geleias que não fazemos em grande quantidade e o resto para consumo próprio, é maravilhoso ficar sentada com uma bacia cheia de uvas e comer até não aguentar mais.Eu moro na cidade com meus pais e sempre que podemos vamos para a fazenda ajudar na produção, hoje em especial é um desses dias, não é atoa que me pediram para higienizar bem meus pés antes de ir e antes de fazer o vinho, sim, temos aquela prática de pisotear as uvas em grandes bacias.
Após algumas longas horas de viagem, finalmente chegamos e durante o caminho pude ver aqueles cachinhos cheios de uvas roxinhas e belas, esse ano a produção tinha sido bem melhor do que qualquer outro ano, isso era um bom sinal pois indicava que teríamos garrafas a mais de vinho do que o de costume. Eu e meus pais ficamos por aqui até que o vinho esteja bom para encher algumas garrafas, e quando ele está melhor ainda, voltamos para pegar mais algumas.
Desci do carro e fui rapidamente para o quarto onde iria ficar durante essas semanas, sempre dividia ele com mais duas primas, minhas melhores amigas inclusive então sabia que esses dias seriam maravilhosos, como sempre eram.
Bem, pra ser sincera sempre notei que havia alguma coisa errada, mas ninguém comentava no assunto, sempre que chegava a época de produzir vinho algum parente nosso sumia, da última vez foi um dos meus tios, ninguém sabe até hoje o paradeiro dele ou coisa do tipo, eu penso que ele infelizmente foi dessa para pior, já os outros, pensam que ele apenas fugiu pois muitas coisas que eram dele sumiram também, além do seu dinheiro na conta pessoal.
Sempre falavam que era isso, então eu nunca liguei tanto, afinal, algumas pessoas da família não tem um histórico bom, só os mais próximos que eram de confiança que faziam os vinhos, como eu por exemplo.
Conforme as horas foram passando fui ficando mais ansiosa para começar os preparativos que não demoraram tanto, pois uma de minhas primas veio me avisar que a bacia e uvas estavam prontas, então logo me arrumei e troquei a calça por um short, correndo junto dela para o lado de fora enquanto sorria ao ver a enorme bacia. Lavamos nossos pés antes de entrar e em seguida começamos com a nossa diversão.
Era uma sensação muito gostosa, estranha, mas era boa, pisamos e pisamos, brincamos e corremos dentro da enorme bacia enquanto as uvas iam se amassando cada vez mais e espirrando um pouco do seu suco em nossos corpos, nos sujando como consequência.
Ficamos um bom tempo naquilo e quando acabamos nosso trabalho, saímos da enorme bacia e meus outros tios foram empurrando os carrinhos com as bacias em cima para dentro do galpão onde iriam começar os preparos. Nessa parte apenas meus avós, alguns tios e tias faziam pois era uma grande quantidade e um processo demorado então precisavam de mais pessoas.
Com o passar do tempo a noite foi caindo e todos foram para seus respectivos quartos dormir, pois amanhã seria um longo dia onde iriam começar a colocar em prática o preparamento da bebida.
No momento eu estava no quarto, já deitada assim como minhas primas que já estavam dormindo, somente o silêncio se fazia presente na casa toda e quando estava finalmente pegando no sono, senti um toque suave e calmo em meu braço, era uma mão bem gélida e grande, pensei ser meu pai mas quando me virei quase dei um grito, qual foi abafado pela mesma mão.
Estava em choque, sem entender ainda o que estava vendo, poderia ser um sonho? Um pesadelo? A pessoa a minha frente não era ninguém mais ninguém menos do que meu tio, aquele que estava sumido a alguns anos, sua pele era pálida e seu rosto sem vida alguma, mas o que não pude deixar de notar era o corte profundo em sua garganta e pulsos, além dos furos que possuía no corpo como se tivessem sido feitos por agulhas.
Ele olhou ao redor e fez um sinal de silêncio pra mim, sinalizando para segui-lo e foi o que fiz, me levantando da cama e andando em passos lentos e cuidadosos, ainda me perguntando o que diabos estava acontecendo e o que eu estava vendo. Chegando em um canto que ele considerou seguro, pude ouvir o som arrastado, baixo e falho de sua voz.
— Querida.. Preciso que me escute.. Fuja imediatamente para longe daqui.. Corra o mais rápido possível.. Antes que seja tarde..
Foi a única coisa que consegui ouvir dele, antes de vê-lo sumir como uma fumaça e pouco depois os sons de passos vieram em seguida. Por algum motivo a primeira coisa que fiz foi me esconder embaixo da escada que estava escura, em silêncio para observar a pessoa que estava passando, conseguindo reconhecer a ex esposa desse meu tio, minha avó e meu avô, ambos carregando alguns equipamentos e bolsas que eram bem parecidas com aquelas para coletas de sangue.
Não fazia mais ideia do que estava acontecendo, por que vi o espírito do meu tio? Por que estavam carregando aquelas coisas para o galpão? O lugar que era completamente proibido para a entrada dos netos. Estava perdida em pensamentos e a solução que vi foi esperar irem embora para finalmente sair dali, o que não demorou a acontecer.
Andei depressa para o quarto, onde peguei meus sapatos e calcei de forma ligeira, arrumando uma pequena bolsa e saindo em seguida, andando em silêncio para fora da casa, vendo as luzes do galpão acesas e alguns pequenos barulhos vindo de lá.
Pensei em ir ver o que estavam fazendo, mas antes que pudesse fazer ou reagir a qualquer coisa, senti uma pancada extremamente forte em minha cabeça, o que me fez cair desacordada no chão no mesmo instante.
Não sei o que aconteceu em seguida, mas sei que agora acordei aqui, dentro do galpão que tanto protegem, amarrada em uma cadeira de metal, cercada por equipamentos, cheia de agulhas com pequenos tubos ligados e diversas bolsas que estavam se enchendo aos poucos com o meu sangue, sentia meu corpo fraco e mal podia me mover.
Mais a frente avistei todos os meus tios e tias, meus avós e principalmente meus pais me olhando, com sorrisos largos nos olhos como se estivessem bem felizes naquele momento, me vendo naquele estado deplorável.
Eu não conseguia falar, não conseguia me mexer e nem mesmo me mover, então a única coisa que fiz foi observar tudo acontecer aos poucos, me lembro de ver meu avô se aproximar com uma faca, encaixando um pequeno balde perto de minha garganta e colocando outros dois em baixo de minhas mãos. Primeiro ele fez um corte fundo em meus pulsos, fazendo bastante sangue jorrar, me lembro de não ter forças nem para gritar, até que em seguida ele cortou meu pescoço, fazendo mais sangue jorrar ainda.
O lugar ficou uma completa bagunça que logo foi limpada após ter todo o sangue do meu corpo drenado, agora eu estou aqui, sentada ao lado de meu tio e outros parentes que me lembro vagamente, mas que sumiram sem deixar muitas pistas do que aconteceu, era triste saber que em 6 anos uma de minhas primas poderia ser a próxima ou fazerem parte daquele ato horrível. Olhava silenciosamente os baldes cheio de sangue que era despejado sobre o suco de uva, então era esse o segredo do vinho.
A cada 6 anos alguém sumia, um primo, um filho, um marido era sacrificado para o bem do vinho, para que a receita fosse perfeita e seu sabor doce, forte e delicioso tomasse vida, o vinho não era feito somente com o suco da uva e uma longa preparação de fermentação, mas sim com nosso sangue, sangue da própria família.
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•Curtas de Terror•
ParanormalTodos os capítulos irão conter histórias diferentes, nenhuma delas se liga, são somente curtas de terror, cuidado, pois algumas são mais pesadas que outras e contém descrição de morte e detalhes as vezes bem específicos. Se não gosta desse tipo de...