capitulo 1 O gato

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Capítulo 1

        De todos os atos imprudentes possíveis, , aquele de fato era um.  Ainda pior era o motivo: Ana Benellyst queria roubar um gato. O gato? Bem, esse não queria sua companhia.

-Daria certo se você tivesse seguido a minha lista.

Ponderou Vicente encostando na parede de tijolos vermelhos da antiga casa da senhora Roberts. Uma senhora de idade  que vivia resmungando pelos cantos com o seu pobre gato de pelos brancos.
Ana levantou o olhar furiosa com as bochechas vermelhas e os cabelos sujos de terra

-Por que sempre tem que ter uma lista?. Rebateu ela carrancuda e fazendo beiço.

-A probabilidade de dar certo é muito maior.

Ele sorriu e deu de ombros presunçoso. Olhou para ela. Ana estava sentada nos degraus de madeira vermelha no hall de entrada. Os ventos da tarde oscilavam entre os seus cabelos castanhos e os jasmim do pequeno canteiro que rodeavam a casa.  Se Vicente soubesse pintar, aquela seria uma bela aquarela; analisou, o tom de seu vestido era da cor daquele céu azul celeste. Ela parecia tão pequena envolta das orquídeas, que surpreendentemente tinham a mesma semelhança aromática.....
Vicente desviou o olhar da moça.  Novamente aqueles pensamentos o pegaram de surpresa.
Não era bom ter esses pensamentos. Repreendeu-se mentalmente. Ana era uma amiga querida, alguém praticamente de sua família.
Endireitou a coluna e a olhou outra vez. Ela estava com uma expressão carrancuda mas, pelas bochechas vermelhas e seus dedos tamborilando na perna dobrada debaixo de si. Vicente sabia que era por pura frustação. Odiava quando algo saía fora de seus planos, o que era uma característica de toda a sua família materna.

   Eles não se preocuparam em ser vistos bom, quem cuidaria dessa parte era Vicente, sempre ele. “trabalho em equipe” era o que ela dizia. A sorte de ambos é que a sra Roberts estava na casa dos Vittielos. Sua mãe se dava bem com a velha rabugenta, o que era intrigante para Vicente.
“- Ela só precisa de alguém para conversar”  Dizia sua mãe com empatia. Vicente apenas arqueava a sobrancelha. Da última vez a “pobre” senhora derramou chá em seu terno só porque ele discordou em um assunto ameno. “Doce senhora” disse ele entredentes para a senhora com um enorme coque preso no alto de sua cabeça.

- Eu odeio você. Ana ergueu o dedo indicador em sua direção.  Vicente desdenhou dela balançando os ombros.

Ana abaixou o olhar e respirou fundo, estava descontando sua frustação em seu melhor amigo, esse que a advertiu sobre o caso. Mesmo assim ela cantarolou a tarde toda que iria salvar um gato de sua dona malvada...e acabou arranhada pelo mesmo.
Ela levou a mão na bochecha arranhada. Devia estar horrível.

-Não. Não odeia. Vicente segurou a mão dela antes que ela tocasse o ferimento e a colocou de pé.  -Você odeia o gato, lembra-se?.   O pobrezinho que estava em apuros.

Ela fulminou ele com o olhar e ele soltou uma gargalhada.

-Oras!, era isso que você gritava minutos antes.

-Eu achei que o gato necessitava de ajuda!. Disparou ela. 

-Isso tudo porque o ouviu miar feito louco. Interrompeu ele arqueando a sobrancelha com ironia.

-Achei que fosse o caso.  Ana revirou os olhos tão forte que achou que ficaria sem eles.

-E?. Ele indagou caminhando ao lado dela.

-Eu deveria é salvar a dona!.

Vicente soltou outra gargalhada e ela segurou para não rir também, claramente uma tentativa falha.

  Ela e Vicente eram vizinhos há dezoito anos. Conheciam todos os pontos fracos um do outro. Vivente era um fanático por listas e organização, sem contar da sua paixão pela vinheira do pai. Ana Elyssa era completamente impulsiva e teimosa, e como Vicente, seu pai era dono de uma próspera vinícola.  E, apesar de saber das loucuras de Ana, Vicente não hesitava em ajudá-la. Então, na maioria do tempo os dois estavam encrencados, sujos ou arranhados.

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