- Mia, ande logo com esse café! - Harold grita, enquanto tirava o pão da chapa
- Vai se foder - Sussurrei e limpei as mãos no meu avental branco e vermelho - Sinto muito se a cafeteria coa o café de pingo em pingo!
Harold, além de ser gordo e chapeiro era o filho mais velho de Harisson, o dono da lanchonete. Deus nos ajude, ele era como o chefe de todos, o chefe mais idiota de todos
- Está reclamando? Tente montar a sua própria lanchonete e compre uma cafeteira melhor - Ele respondeu
Idiota seboso - pensei enquanto apoiava as três xícaras de café na minha bandeja. Passo pela chapa e pego os três pratos de pão na chapa ao lado de Harold, que, de novo, estava fedendo a vodka barata.
- Harold, você poderia me passar o pote de melado? - peço, com toda a gentileza que me restava
- Pegue - ele joga o enorme pote em cima da bancada, respingando melado por toda a bancada e o chão
O senhor Alexei, um velhinho que sempre tomava café na lanchonete, balança a cabeça negativamente e eu retribuo a ele um sorriso. Ele sabia muito bem que aquele cara era insuportável e visivelmente tinha pena dessa pobre garota - dou risada sozinha
- Tome aqui, senhor Alexei, seu café - passo para fora da bancada e deposito a xícara ao lado do pequeno senhor alemão - Adoçante, né?
- Sim, minha querida, por favor - Ele sorri e estende a mão para me ajudar - Por que diabos você aguenta esse homem ensebado?
- Tenho contas pra pagar, senhor Alexei - Dou risada enquanto coloco seu adoçante - E infelizmente esse foi o melhor emprego que consegui arrumar de meio período
- Você merece mais, menina - o velho sorri - É muito bonita e muito gentil, essa combinação é realmente muito rara
Por um momento me peguei pensando naquela oportunidade que o Senhor Parker havia me dito, de defender um caso com ele. Eu sei que é uma oportunidade maravilhosa e rara de acontecer, mas eu tinha medo de simplesmente jogar meu emprego no lixo, por mais ruim que ele fosse eu precisava muito dele e de cada centavo do salário
- Obrigada, senhor Alexei - sorrio gentilmente
Ele sorri de volta e eu volto a atender o restante das mesas. Harold me fitava com seu olhar mortal por onde quer que eu fosse, parecia me vigiar para pegar qualquer erro meu e jogá-lo contra mim. Voltei para trás da bancada e lavei toda a louça, enquanto conversava com os clientes que estavam sentados diante da bancada
Aos poucos o movimento da lanchonete foi diminuindo, a noite já estava caindo e eu fui terminar de limpar as mesas, a bancada, a chapa e os banheiros enquanto Harold permanecia sentado em uma das mesas com seu videogame nas mãos. Eu nem ligava mais, sabia que o mundo pertencia a quem podia pertencê-lo e eu que era a empregada, não ele
Estava terminando de limpar o banheiro masculino quando ouvi um barulho estranho vindo da cozinha, fingi não estar ouvindo nada enquanto cantarolava agachada, limpando a privada.
- Espero que você limpe bem esse banheiro - Harold estava de braços cruzados e estava recostado no batente da porta - Derrubei o pote de melado no chão, você precisa limpar antes que grude
- Meu Deus, Harold! Que susto você me deu! - Quase grito, levando a mão no peito quase desmaiando de susto
- Nós não te pagamos pra ficar cantando, garota - Ele diz, não deixo de notar uma gota de suor que caía da sua careca com a touca até seu pescoço gordo
- Eu sei - respondo, tentando não surtar
- Então porque é que esta cantando?
- Harold, por favor me deixe trabalhar! - falo, me levantando
De repente ele vem pra cima de mim, me aperta contra a parede e, por um milésimo de segundo, força um beijo. Eu tento gritar para ele parar, me forço contra ele, e tenho o instinto de morder a boca dele e dar uma joelhada bem no meio das suas pernas.
- Qual é a porra do seu problema? - eu grito, limpando a minha boca com toda a força que eu tinha - Que nojo!
- Eu sei que você queria isso, sua piranha! Você me machucou! - ele dizia se contorcendo em pé
- Qual é a merda do seu problema, seu nojento! - eu não parava de repetir
Sai dali o mais rapido que eu podia. Se me faltava alguma coragem para sair daquele lugar pra sempre, eu acabei de consegui-la. Que nojo. Aquilo foi repugnante demais. Eu realmente precisava trabalhar, precisava conseguir me sustentar por pelo menos até o restante da faculdade, até poder conseguir um emprego em período integral
Eu chorava de raiva enquanto caminhava até a minha pequena vespa debaixo dos pingos grossos de chuva. Coloquei meu capacete e liguei a moto, sentia meu corpo inteiro tremer e meu estômago se embrulhar mais e mais. Que homem repugnante, sem um pingo de escrúpulos! Homens sempre acham que têm o direito de fazer o que bem entender com as mulheres, isso me enojava
Em pouco tempo passei pelos portões do campus, rezei para que a luz do escritório do senhor Parker ainda tivesse acessa. Eu precisava realmente resolver essa questão hoje. Me sentia tão horrível, usada, violada, jamais pensei que alguém pudesse fazer isso com outra pessoa, o "poder" corrompe. Só porque aquele desgraçado é filho do dono da lanchonete ele se acha no direito de destratar os funcionários, e agora de abusá-los também. Deus sabe o que teria acontecido se eu não tivesse reagido
Estaciono a moto em frente ao prédio de direito, a desligo e pulo dela como um foguete. Passo pela porta principal e voo pela escada, estava correndo contra o tempo. Abro a porta da sala do senhor Parker como um foguete e me deparo com ele sentado em sua mesa, usando seus óculos de armação preta. Ele se assusta e ficamos nos encarando por alguns poucos segundos
- Senhorita Davis! O que está acontecendo? - Ele se levanta rapidamente e caminha até a porta
- Eu preciso do estágio - é a única coisa que sai pela minha boca
Notei que minha voz estava embargada, eu estava chorando sem nem se quer perceber. Estava pingando pelo chão da sala dele enquanto ele me sentava em uma cadeira
- Aconteceu alguma coisa? Porque está chorando? - ele parecia estranhamente preocupado
- Eu...- por um segundo me ocorreu o fato de que ele não era meu amigo, não era nem se quer um conhecido e não havia motivo para eu contar a ele o que havia acontecido de fato - Eu realmente preciso desse estágio, senão vou ser despejada
- Está certo - ele se conformou com o fato de que eu não falaria nada - Apenas pare de chorar - ele esfrega suas mãos em meus braços - Se acalme, pegarei um café quente e uma toalha
Balanço a cabeça confirmando e ele sai da sala rapidamente. O que diabos estava acontecendo? Essa noite simplesmente virou a minha vida de ponta cabeça
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Black Beauty || Johnny Depp
Fiksi PenggemarAinda estarrecido com a sua conturbada separação e julgamento da mídia, Johnny conhece Mia, uma linda jovem que tem um enorme prazer em viver, a garota tinha tudo o que lhe estava faltando. Johnny estaria preparado para finalmente seguir em frente d...