Capítulo 5

162 21 552
                                    

No mesmo ritmo que as batidas na porta, o coração acelerou quando seus olhos castanhos-escuros se abriram bruscamente. Uma dor no peito o puniu sem motivos aparentes, e lhe faltou o ar. Ficou sentado na cama, assustado e desnorteado, presenciando o interior de seu estômago congelar como se exposto à neve. Tinha um péssimo sentimento naquele instante.

— Spency, acorde! — sua mãe era a responsável pelas batidas.

Sem hesitar, levantou e caminhou em passos rápidos, abrindo a porta. Fitou a mulher rechonchuda a sua frente, que possuía um semblante apavorado e amedrotado. Esperou por uma resposta, contudo dona Virgin parecia ter perdido a capacidade de falar. No entanto, a falta de brilho em seus olhos eram capazes de transmitirem a mensagem.

Sons externos caóticos passaram a serem percebidos por ele, e então notou que a entrada principal da casa estava aberta. Mesmo todo descabelado e com cara inchada, passou pela mesma e saiu de sua morada, sentindo a brisa matinal do inverno lhe desejar um “bom dia” friento.

Ainda que sonolento, se guiou pelo tumulto gigantesco, passando pelas casas até chegar ao centro da aldeia, onde pessoas estavam ao redor de algo em movimento, e cochichavam, murmuravam e comentavam; cavalos relinchavam e soldados patente bronze e prata tentavam separar os curiosos daquilo que era o centro das atenções.

Percebe que no peitoral de um dos homens da lei está presente a face de um leão de ouro com com uma coroa de louros. É a CIC.

Para sua mãe tê-lo acordado àquela maneira, imaginou que se tratava de alguém conhecido. Teriam eles encontrado os corpos de seu pai e os outros caçadores? Não podia se dá o luxo da dúvida, por isso automaticamente foi até a multidão e passou dentre eles, finalmente tendo a visão completa de uma carroceria em formato de cabana sendo levada por equinos e escoltada nas laterais. A cortina do seu fundo estava aberta, por isso pôde notar soldados ali dentro, ajeitando o que se parecia com um corpo ccoberto totalmente por um longo pano branco. Tais homens também consolavam uma mulher que à bordo, e então a situação passou a fazer menos sentido ainda.

Como nunca antes, sentiu uma amargura penetrar e se expandir por cada veia do seu corpo, já que havia reconhecido a mulher. Era a mãe de Bernan.

Um instinto protetor o induz a furar o bloqueio dos soldados para chegar até a carroça, sendo afastado com empurrões e xingos aborrecidos. Sua força de vontade foi maior e conseguiu derrubar dois da escolta, finalmente chegando até o objetivo e descobrindo parte do defunto. Se assombrou com o tamanho do rombo que havia no topo de sua cabeça, tal com sua pele pálida e olhos totalmente brancos, sem qualquer cor, e isso só piora a confusão, visto que a mulher dentro da carroça perde o controle ao rever o filho naquele estado.

O mundo inteiro entra em colapso. Não há chão abaixo dos pés de Spency, se sente em queda livre. A carruagem avança, ele fica. Pasmo, quieto. Olhos arregalados, boca entreaberta.

— Aí filho da puta, você vai pra trás das grades! — os pés de Spency saem do chão após tomar um chute rasteiro de um soldado. Caído, é segurado pelo mesmo.

— Me solta, eu sou o melhor amigo dele! — se reergue e segue até a carroça, mas outro golpe o coloca de joelhos.

— Eu posso te matar por desacato! — a lâmina fria de uma espada ameaça sua nuca.

Despercebidamente, lágrimas escorrem pelos olhos de Spency, percorrendo todo o seu rosto apavorado. Não desafixou da carroça que partiu com os cavalos que finalmente tiveram espaço para partirem do vilarejo, deixando todos os curiosos para trás, apenas observando e fofocando. Com isso, o garoto de coração vazio passou ainda mais a ser o centro dos olhares.

Sentia sua respiração pesada e cada lágrima escorrida lhe causava uma pontada amarga no coração. Se virou lentamente e encarou sua mãe o observar com os olhos marejados, o chamando de volta para ela. Mirou o olhar para frente e andou rapidamente, trombando em todos no caminho sem se importar com os resmungos, o que abria passagem ao mesmo tempo que era mal-encarado e julgado por um misto de sentimentos alheios.

Hutbus Island: O Último Herdeiro Onde histórias criam vida. Descubra agora