Capítulo 27

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Spency respira fundo, segura o cabo da espada com as duas mãos e a eleva, vendo o próprio reflexo na lâmina azulada. Os cabelos negros caíam balançavam frente ao rosto com o bater do vento, e os olhos castanhos estavam fixos na imagem espelhada. Por um momento, um breve momento, pensou ter visto em seu lugar, a imagem de Alzádia. Isso o confortou, sabia que ainda que dentro da Espada Zulter, lutaria ao lado dele.

Júdith passou ao seu lado, e isso lhe chamou a atenção.

— Vou ajudar meu pai com o exército — comunicou a Louize, andando determinada.

— Eles vão tentar matar você! — a menina negra segura a mão dela para impedir.

— Não vou ficar aqui.

A lâmina grossa se ergue como uma parede que colide levemente com seus seios, interrompendo a caminhada dela. Ambos se encaram firmemente dentro do olho um do outro.

— Klous pode ter te dado a armadura, mas foi para sobreviver — afasta a espada dela. — Eu é quem lutarei.

— Sozinho não vai conseguir — dá um passo, ficando de frente.

— Não vou deixar que você morra, tá bem? — aponta para o livro que ela carrega em mãos. — Sua função é ver se uma nova profecia irá surgir.

— Mas… — o indicador dele é colocado sobre seus lábios, a silenciando. Antes que aproveite do silêncio, ela dá um tapa em seu antebraço e afasta o dedo dele. — Vou lutar sim! Holter e seu exército são formidáveis! Eu não vou me perdoar se eu te perder, entendeu?!

As últimas palavras fazem com que agora os músculos de Júdith se transformem em pedra… não era bem isso que ela queria dizer. Ou ao menos expressar. Louize sabia o que aquele olhar fixo de Spency signifcava, porém não poderia permitir os dois retornarem novamente ao dilema amoroso.

— Enquanto vocês não decidem se vão se comer ou não — o braço dela atravessa entre o espaço do rosto dos dois, mirando a fortaleza.

Agora, o foco dos três era um segundo portal dimensional aberto atrás do castelo, a cinquenta ou cem metros do mesmo. Era diferente, não possuía nenhuma energia sendo usada para lhe abrir espaço; ao menos não da mesma que expandia a brecha crescente no topo do céu. Aquele era um portal conjurado por Proud. Rugidos e sons monstruosos vieram de lá; alertavam o fim de Hutbus Island.

Percebendo a sutileza de Spency, Júdith agarra imediatamente seu braço, e acaba teleportando com ele para o topo de uma torre. Recebeu uma encarada repreensiva do Zulter, e dessa vez justificável. Era de fato o telhado da torre de vigia, que se iniciava como um cone e ia afinando como uma agulha até o topo. Para não despencar, tiveram que derrapar lentamente os pés nas telhas enquanto seguravam uma parte da ponta, cada um em um lado.

Lá de cima, contemplavam terradorcus correndo ansiando por sangue, e gigantes de pedra lentamente atravessarem usando machados de mesmo material. Aracnídeos e artóprodes feitos de sombras acompanhavam as criaturas, tão desproporcionalmente grandes.

— Ainda quer enfrentar tudo isso sozinho? — a bruxa equilibra-se, pressionando o livro contra o corpo.

Inteligente e estratégico, Klous já havia posicionado soldados na traseira do castelo, e os mesmos corriam sobre imponentes mamutes blindados em armaduras pratas, e o mesmo servia para grandiosos rinocerontes de longos e pontiagudos chifres. Seria literalmente uma batalha de gigantes. Os portões de todos os lados foram abertos, e metade dos batalhões que defendiam a frente e laterais do castelo adentraram o mesmo, para não terem dificuldades em chegar a ponto principal de batalha e também dar massividade ao exército.

As muralhas e torres estavam bem vigiadas, flechas de fogo e bolas de canhões cortavam violentamente o ar até colidir com as feras das Trevas. Ainda assim, alguns soldados observavam apreensivos a presença de Spency e Júdith; um, era dito pelo Leão Branco como aquele que traria o caos e a destruição, e a outra, a própria bruxa que causou uma chacina recente. Quem é o inimigo, afinal?

Hutbus Island: O Último Herdeiro Onde histórias criam vida. Descubra agora