Ossos do Ofício

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          Avenida Wano.
          Edogan, Yūgen

          
         Um homem, de cabelo púrpura e preso, caminhava até a cafeteira do centro. Era alto e esguio, do nariz chato vestido de forma humildemente elegante. Sua presença provocava encaradas fixas e frequentes cochichos, mas jamais uma única palavra era dirigida a ele. Sua expressão era de alguém que era melhor evitar.
           A avenida estava muito movimentada para o horário. Era uma das mais chiques do centro e ficava perto de muitas empresas e companhias. Como uma área que a elite se concentrava em peso, as cafeteiras não pensavam duas vezes antes de abrir suas portas aos grandes homens de negócios, sempre dispostos a despejar seu capital em expressos e capuccinos. Mura Hathaway não era exatamente esse homem, senhor do capital e das bolsas da nação. Ele tinha seus próprios meios de controlar o dinheiro em suas mãos. Tinha mesmo uma aparência de quem conseguia dinheiro como um mafioso ou algo do tipo, até suas roupas levavam a esta impressão. Mas, também não era isso. Seu trabalho era um pouco mais ameno, mas nem por isso estava dentro da lei.
         Entrando pela grande porta vidro com detalhes dourados do Belle Grand café, Hathaway começou a olhar em volta. O ambiente cheirava a café com baunilha. O telejornal da manhã chovia no molhado com novos acidentes, déficits, superávits, notícias que as pessoas só fingiam estar muito interessadas. Quando a notícia era sobre um novo usuário de magia morto, mal olhavam para a tela. Exceto por Hathaway, que acompanhava, em pé mesmo, a cobertura da morte, que não durou mais de alguns minutos. Gastaria muito tempo de tela. Afinal, para que tanto alarde para um mágico medíocre? Na morte e na vida, um mágico sempre seria um mágico. Mas, Mura não tinha tempo para pensar em sua própria posição social e quanto tempo de tela teria quando morresse.
            Isso era indiferente.
           Ele estava a procura de uma pessoa no meio daquela imensidão de mesas ocupadas. Avistou alguém de uma das mesas fazendo sinal como se estivesse lhe chamando. Quando percebeu que quem estava fazendo o sinal era justamente a pessoa que ele estava à procura, Hathaway foi rapidamente até a mesa. Quando chegou, puxou a cadeira para se sentar.
            - Sempre no horário, como de praxe. Vai querer pedir alguma coisa antes de colocarmos o assunto em dia? - disse a pessoa que Mura procurava .
            - Eu não estou com muita pressa então, que tal pedirmos um café para dar aquele pontapé inicial? - disse Hathaway, ajeitando o arranjo de flores da mesa.
             - Mura Hathaway não está com pressa em uma terça-feira? Que atípico!
             - Morgan Walsch com pressa? Eu que o diga! - retrucou Mura, levantando sua mão para chamar o garçom.
               Morgan Walsch era um homem com uma feição elegante. Era encantador e passava um ar muito chique, que combinava perfeitamente com o local, com seu aroma de baunilha. Usava um sobretudo marrom claro e um jeans azul marinho comum.
              - Me perdoe, mas é que as tarefas dessa semana estão pegando fogo. Minha intenção é deixar você ocupado até os feriados, sem misericórdia ou piedade. - disse Waschl, puxando sua maleta para seu colo.
              O garçom se aproximou da mesa para anotar os pedidos.
               - Bom dia, senhores! Qual vai ser o pedido?
               - Eu quero um expresso, por favor. - pediu Morgan.
               - Eu vou querer um moca e um pudim, por favor. - pediu Mura.
                - Puxa, esse monte de açúcar de manhã vai te fazer mal! - advertiu Morgan.
                - Pelo contrário, vai me manter entusiasmado pelo resto da semana. - respondeu, se espreguiçando na cadeira.
            O garçom terminou de anotar os pedidos e se retirou em silêncio.
              - Pelo amor de Deus, estamos em um lugar luxuoso! Tenha modos!
             - Mas, não tem ninguém olhando.
             - Não importa! Tente ser um pouco elegante, para variar!
             - Credo, está parecendo até o Stefan falando...
             - Convivência, infelizmente...
             - Entendo. Vocês são aquele tipo de casal que vão absorvendo traços da personalidade um do outro. Que graça.
            - Nós não somos um casal!
            - Ah, qual é o problema? Vocês dois ficam bem juntos. O Stefan não é o melhor homem para se dividir uma vida, mas você se mostrou um candidato resistente para aguentar aquela muralha politicamente correta. Você deveria investir nisso.
             - Ah, claro, um candidato resistente... - murmurou Morgan, já um pouco enfadonho.
             - Bom, mudando da água para o vinho, por que você não vai me apresentando as tarefas da semana até o garçom trazer nossos pedidos ?
              Morgan abriu sua maleta, retirou 5 papéis de dentro e os colocou sobre a mesa .
               - São estes os alvos dessa semana. Sinta-se à vontade para dar uma olhada mais atenta em cada um deles.
               Hathaway analisou os casos, um por um, em tempo dos pedidos chegarem. Quando o garçom os serviu, Morgan recolheu os papéis e guardou de volta na maleta . Ambos tomaram um gole de café antes de trocarem qualquer palavra. Mura, como tomou um gole menor, comeu um pedacinho de pudim e enquanto mastigava, se pôs a pensar .
            - Que interessante... Tem até um estrangeiro desta vez. - disse Mura, terminando de mastigar seu pudim - Eu me pergunto, por qual devo começar?
            - Comece com os nativos. Teremos que pegar esse estrangeiro juntos. Eu, você e o Stefan .
             - Por que? Ele é tão forte assim para eu não dar conta dele sozinho?
              - Não foi isso que eu quis dizer.
              - Então me explique, e por favor de forma clara , o porquê de irmos nós três para dar conta de um homem só?
                - Bem, se for para culpar alguém, culpe o Stefan. Isso tudo foi ideia dele. Este estrangeiro, é o caso mais misterioso que já lidamos, não sabemos o quão forte é e se tem companhia. Não é inteligente mandar um companheiro sozinho .
               - Então, vamos ser três homens dando conta de um só, cuja a força é desconhecida. Bom, nesse caso, eu dou conta do recado e vocês apenas me darão cobertura.
            - Você se superestima demais, sabia?
             - É um reflexo do meu charme e da minha insatisfação com a ideia de ter que matar alguém com vocês dois colados em mim.
               - Ah, você não tem jeito mesmo... - suspirou Morgan, coçando o cabelo. - Escute, queremos concluir essa tarefa amanhã a noite. Sua insatisfação não será duradoura. E, por favor, não tome nenhuma decisão imprudente até lá.
                Mura ouvia Morgan falar com um olhar desinteressado. No final do discurso do mais novo, ele não pôde deixar de lançar um de seus sorrisos cínicos.
             - Imprudente? Eu? Jamais. Não sei que tipo de imagem minha é essa que você tem aí nessa sua cabecinha loira. Mas, francamente, eu não estou interessado. Na verdade, eu já estou de saída. Vou colocar meu corpinho para trabalhar.
             - O que? Já escolheu seu alvo de hoje? Quem?
              - Você vai descobrir. - disse Hathaway, levantando-se da cadeira para ir embora.
             - Mura, quem é o seu alvo? - perguntou Morgan, em um tom mais alto e severo.
               O mais velho, enquanto se afastava, apenas sorria vendo o desespero do colega.
               - Não é elegante usar esse tom de voz em uma cafeteria tão chique! - cantarolou Mura, deixando Morgan mais irritado.
             Waschl olhou ao redor e percebeu todos os olhares sobre ele. Sua vergonha era explícita. A ação mais rápida que teve foi encarar sua xícara de café, sem saber de iria bebe-la ou deixá-la e ir embora dali.
            Na verdade, a ideia de levantar também lhe causava certo pavor naquele momento.
             Para todos os efeitos, a melhor decisão era permanecer ali e esperar que aquele "pico de vergonha" passasse.
            - Garçom! Uma água por favor!

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