Lição Findlay

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Alguns minutos depois...

          - O quê???? Espera, como... Como ela... Como assim???? - Exclamou Gunnar, olhando para Ellie, que ainda esfregava os olhos, e para Mura. - Ela é a sua surpresa???
           - Essa era exatamente a reação que eu esperava que você tivesse. Você e o seu pai na verdade. - disse Yelena, cruzando os braços para encarar Dimitri.
           - Na verdade, eu só não tive tempo de me expressar ainda. Mas, já que você falou... - Dimitri limpou a garganta e exclamou: ELA É A SUA SURPRESA??!!
             - Yeye, porque você não fica de boca fechada de vez em quando? - falou Mura, tapando os ouvidos na esperança de que Gunnar e Dimitri fossem se compadecer e parar de surtar no pé de seu ouvido.
              - Ele iria surtar em algum momento mesmo. É bom que eu não serei a única a suportar. Mas, eu acho que você tem outro problema pra resolver aí, não é? - disse Yelena, apontando para Ellie, que encarava Mura  emburrada.
             Mura voltou-se para Ellie e se agachou.
             Ficou pensando se seria uma boa ideia abraçá-la. Na maioria das vezes era sempre Ellie que o abraçava. Ele quase não fazia isso por livre e espontânea vontade. Não gostava de abraços. Mas, o que isso importava afinal? Ele não era capaz de retribuir todos os abraços sinceros que já recebeu de Ellie? Que tipo de ser ele seria se mal conseguisse fazer isso?
            Então, deixando de pensar tanto, ele a abraçou.
              E, por Deus, queria protegê-la naquele abraço para sempre se pudesse.
              - Eu sinto muito. Sinto muito por ter gritado com você, magoado você. Eu não quis dizer nada daquilo. Eu estava tão bravo que acabei dizendo tudo sem pensar e...
              - Titio... Tá me apertando.
              - Ah, desculpe! - disse Mura, soltando Ellie imediatamente. - Eu acho que me emocionei. - murmurou.
               - Ah, que graça! O pequeno Mura está aprendendo a lidar com criancinhas. - exclamou Dimitri, dando um tapinha no ombro do irmão.
               - Mais um tapinha no meu ombro e você vai parar do outro lado da sua adorável sala de estar.
                - Ora, que convencido! Acha mesmo que é capaz de me derrubar com esse seu físico de frango? Eu ainda te derrubo com um sopro, seu nanico estúpido.
                - Não se esqueça que você quase perdeu o braço da última vez que lutaram. Eu prefiro não ter um marido em pedaços, sabe.
               - Yelena, meu bem, não seja ridícula. Eu tenho treinado duro desde aquele dia. E veja só como ele está fora de forma! Eu com certeza-
               - Tudo bem, já chega. Gunnar, já para o banho e Mura, você e a minha preciosa sobrinha podem subir para se trocar e descansar.
              - Sobrinha? - perguntou Mura, confuso.
              - Bom, se você salvou ela, então significa que você é o pai dela agora, certo? - rebateu Yelena.
             Significava? Não. Decididamente, não.
             Ele? Ser pai? Sem chances.
            - Na verdade, eu-
            - Não, não! Guarde suas explicações para amanhã! Por hoje maninho, apenas descanse, sim? - exclamou Dimitri, passando o braço pelas costas do irmão para levá-lo até o pé da escada. - E, quanto a você pequenininha - disse, dirigindo-se a Ellie - tenha paciência com a papai Mura, ok?
               A menina assentiu com um sorriso travesso.
                Quanto a Mura, este já estava farto de tentar explicar que não era o pai de Ellie. Não tinha porquê gastar saliva tentando explicar o óbvio.
                Óbvio para ele pelo menos.
               - Vamos Ellie, vamos subir.

                                 
                                ~
        

      Duniére, Berlioz
 
           Já era tarde na grande capital de Berlioz. Em um apartamento do centro, um garoto terminava seu chocolate quente na sacada, enquanto contemplava a maravilhosa vista do comércio todo iluminado. No entanto, acaba sendo interrompido por um cutucão de alguém que parecia ter acabado de acordar.
              - Morgan, você sabe que eu detesto quando me cutucam! Por que você é assim, hein? - exclamou o garoto, esfregando o lugar onde tinha sido cutucado.
               - Vamos Simon. Você amava meus cutucões quando era criança. - falou Morgan, passando a mão nos cabelos do garoto.
               - Bem, eu não sou mais uma criança!
              - É uma de 19 anos.
              - Bem, pelo menos a criança de 19 anos tem amigos e uma namorada.
             - Ei! Não me lembro ter perguntado algo a respeito da sua vida social e amorosa. E tem mais, eu tenho amigos sim senhor.
              - E namorado?
              - Eu...
             Morgan hesitou. Não sabia exatamente o que responder. Ele estava saindo com uma pessoa. E uma pessoa que ele secretamente admirava muito. Porém, era só mais um amor platônico.
              Eles eram diferentes demais para ficarem juntos.
             - Não, isso aí eu fico te devendo. Você não vai ter um cunhado tão cedo. E, que história é essa de namorada?
             - Foi só pra te sacanear. Também não estou com muita sorte no amor.
             - Um menino tão bonito como você, com os olhinhos da cor da lua? Não é possível que nenhuma garota tenha se perdido neles ainda.
             Simon enrubesceu. Não se achava feio. Não era um dos meninos mais bonitos da faculdade. No entanto, dificilmente alguém não se encantava ao vê-lo passar. Sua aura brilhava como a lua, seus olhos brilhavam como a lua. Ainda que não fosse um dos mais bonitos, era...
               Formidável.
             - Eu te digo o mesmo, Morgan. Não é possível que nenhum homem tenha se encantado por essa cabeleira loira e esse cavanhaque mal feito. Ou melhor, é bem possível. Você é feio.
             - Vai pegar um pouco de chocolate pra mim e vai para o inferno, antes que eu me esqueça.
             - Você vai estar lá no inferno esperando o chocolate quente?
             - Quer levar outro cutucão?
           Simon se adiantou e foi depressa pegar o tal chocolate quente. Enquanto isso, Morgan apenas parou para admirar a vista. E para pensar também. Pensava na vida que estava levando, na família que não queria vê-lo nem pintado de ouro, no seu peixe, que havia ficado na sua casa em Edogan, e também...
          Pensava em Stefan.         
          Pensava no que ele estava fazendo naquele momento, o que faria no resto da semana de feriado e com quem passaria.
           Se estava sentindo sua falta.
           Bem, isso com certeza não. Stefan não era o tipo de cara que parecia sentir falta das pessoas. Ele sempre passara o ar de pessoa autosuficiente. Não sentia falta de pessoas.
            Principalmente de pessoas como Morgan.
            Mas, ainda preferia pensar que, no fundo, Stefan estava com saudades dele.
             Era mais divertido se iludir.
             - Pensando na morte da bezerra, mano? - perguntou Simon, encostando o chocolate quente na nuca de Morgan, que se contorceu e virou imediatamente.
              - Sabe, eu poderia jogar esse chocolate quente nesse seu sueterzinho chique por isso.
               - Mas não vai, pois você ama o seu irmãozinho mais novo e não vê a hora de passar o resto do feriado com ele.
               - Aff...
               Os dois se mantiveram em silêncio por um momento só para admirar a vista.
              - Simon, sobre a mamãe e o papai...
              - O que tem eles? - perguntou Simon, em um tom claramente incomodado com a pergunta de Morgan.
             - Eles não reclamaram de nada? Sabe, de você não ir para Edogan passar o feriado com eles e o resto da família só para passar o feriado comigo?
             Simon não respondeu. Agora, ele encarava o chão com uma expressão que era como um misto de raiva e melancolia.
             - Eles não tem mais nada a ver com as minhas decisões. Eles reclamaram, sim. Mas eu não me importo. Eles podem reclamar o quanto quiserem, porém nada vai me impedir de passar o feriado com a pessoa que eu mais amo nesse mundo. A pessoa que foi mais minha família do que todo aquele bando de...
              De repente, Simon se viu envolvido nos braços de Morgan.
             - Está tudo bem. Me desculpa por ter perguntado isso, ok? Vamos esquecer aquelas pessoas e aproveitar o nosso restinho de noite, certo?
              - Certo...
              - Quer assistir um filme? Pode ser até aquelas animações esquisitas que você gosta.
              - Ei! Não são animações esquisitas! Elas ensinam coisas, sabia?
               - Uhum. - debochou Morgan, soltando o irmão e voltando para dentro do apartamento, fazendo pouco caso dos resmungos do irmão mais novo.
              E então, no final das contas, os irmãos acabaram assistindo mais uma das animações esquisitas que tanto agradavam Simon.
              " As aventuras dos Cavaleiros do Amanhã"

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