Próxima Parada: Aston

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       Um barulho de passos era ouvido no corredor. Alguém estava correndo. Um menino, que estava aparentemente ansioso, tinha uma grande notícia para seus pais. Uma notícia que não podia ficar em segredo por mais nem um segundo.
          - Papai! Mamãe! Emma! Vocês não tem ideia de quem foi que acabou de ligar! - exclamou o garoto, que não parecia estar nem um pouco ofegante, ainda que tivesse corrido do andar superior da casa até a sala de estar.
           - A pessoa que ligou ou você foi quem ligou pra pessoa? - perguntou o homem, aparentemente o pai, enquanto lia notícias em um tablet.
            - Ah Dimitri, parece que não conhece o filho que têm. Foi ele que ligou pra pessoa. - falou a mãe, fechando o livro que estava lendo e colocando sobre a mesa de centro. - E então, o que o seu tio disse?
              - Ele me xingou muito, muito e muito. Mas, ele também disse que está trazendo uma surpresa!
              - Até eu te xingaria! Você está ligando pra ele desde antes de ontem e em um horário que ele deveria supostamente estar dormindo. - disse Dimitri, deixando as notícias de lado para refazer o coque do cabelo. - E que história é essa de surpresa?
            - O Mura é bem imprevisível então, é possível que seja uma coisa muito mirabolante ou muito medíocre. Eu não ficaria tão ansiosa assim, Gunnar.
            - Mas, é uma surpresa mamãe! Uma surpresa! Quem não fica ansioso com uma surpresa? Não é, Emma.
             A garotinha assentiu como se tivesse realmente noção do que era uma surpresa com 1 ano de vida.
            - Eu acho que adultos não gostam. - murmurou Dimitri. - Yelena, meu bem, já mandamos arrumar o quarto dele?
            - O quarto fica intocável quando ele está em Edogan. Acho que só aspiraram o chão e no máximo trocaram a roupa de cama.
             - Entendo... É tem razão, não é preciso muito mais do que isso para o nosso querido irmãozinho.
             - Ei!! - exclamou Gunnar, tentando chamar a atenção dos pais. - Vocês realmente não estão ansiosos para a surpresa que o tio Mura está trazendo!?
            - Meu filho, o que quer que seja esta surpresa, deve ser uma bomba.
            - O tio Mura vai explodir a gente!?
            - Não, não foi isso que eu...
            - O que seu pai quis dizer, Gunnar, é que o que quer que seja a surpresa, pode ser muito boa ou muito ruim.
             - Mamãe! Não tem como uma surpresa ser ruim!
             - Que Deus te ouça... - murmurou Dimitri.

                      

            
                                *
            
              
              
            - Anda logo, Ellie! O avião não vai esperar você achar as suas pelúcias! - gritou Mura, terminando de fechar as malas na sala de estar.
            - Eu não tô achando o coelhinho! - exclamou Ellie, descendo as escadas com pressa.
           - Ele já está na mala!
           - Não! Assim o coelhinho morre!
           - Ai ai ai...
           Mura abriu impacientemente a mala e sacou o coelhinho do qual Ellie perdeu um precioso tempo procurando.
           - Coelhinho!
           - Aqui. E cuidado para não  perdê-lo no aeroporto.
            De repente, ouviram um barulho de buzina do lado de fora. Mura não desejava ir até o aeroporto com o próprio carro, então resolveu chamar Morgan, que também iria para o mesmo aeroporto. Só não para o mesmo destino, já que ele iria para Aston e Morgan para Berlioz. O homem pegou Ellie no colo, com coelho e tudo, puxou suas malas e saiu.
             - E aí! Preparados para a semana de feriado? - perguntou Morgan de dentro do carro, tirando o óculos de sol.
              - Sempre estamos preparados para uma semana de folga. A vagabundagem deveria ser uma virtude.
              - Que isso titio?
              - Uma coisa que você vai aprender quando crescer.
               - Andem logo que o trânsito tá fervendo. O amor pela cidade é tanto, que todos estão indo passar o feriado em outras regiões.
          - São pessoas demonstrando seu amor pelas demais regiões. É a única época do ano em que não se ouve ninguém dizendo que uma é melhor que a outra. - falou Mura, ajeitando o cinto de segurança. - Ellie, fique quietinha aí atrás. Se a polícia pegar os tios aqui, você vai passar uma semana dentro de uma cela fria, cheia de ratos e baratas.
            - Não quero! Quero ficar com você!
           - Tá bom vocês dois. Vamos para o aeroporto logo.
              Morgan tentou dar partida no carro. Sem sucesso. Tentou novamente e falhou novamente.
            - Não acredito...
            - Carro bom o seu né, Morgan?
           - É isso que dá acreditar em anúncio de Aplicativo... - murmurou Morgan, estressado. - Beleza, todo mundo pra fora. Mura, vai ter que ser no seu.
            - Não gosto muito de exibir meu possante desse jeito. Mas, já que não tem outro meio...
            - Aff...
              E com muito trabalho, desceram os dois adultos para transportar as malas de um carro para o outro enquanto Ellie contava toda a história de sua vida para o coelho de pelúcia com o qual estava abraçada. No entanto, foi interrompida por Mura que a pegou no colo para colocá-la no carro para finalmente partirem para o aeroporto. Deus quisesse que o avião não tivesse partido ainda quando chegassem. Sem mais conversa, os três partiram para o aeroporto e, desta vez, sem nenhum imprevisto. A não ser pelo enorme trânsito que tiveram que enfrentar.
            - Deus, que o piloto do avião tenha muita paciência conosco ou teremos que ficar em casa passando o feriado com a família por vídeo chamada.
            - Tem algum problema com as vídeo chamadas, Mura?
            - Travam muito e tem que mostrar o rosto. Minha cara nunca fica bonita em tela de computador.
           - Trabalha a sua autoestima e paga um plano melhor de internet que já vai resolver bastante. Você tem tanto dinheiro e fica pagando por aquela rede ruim e lenta.
             - Ter dinheiro não significa que pode ficar gastando com coisas supérfluas. O importante é ter internet em casa.
             - Raciocínio burro.
             - Raciocínio econômico.
             - Titio...
             - O que ?
             - Xixi.
             - Ah não, agora?!
             - Pula pro banco de trás e troca ela. Pelo visto, a gente não sai do engarrafamento tão cedo.
             - Não dá! As coisas dela estão no porta malas! Sagui, vai ter que esperar até a gente chegar no aeroporto.
              - Tá bom...
              - Tomara que a situação do aeroporto esteja melhor do que essa.
             - Felizmente, não será você que terá que trocar uma fralda quando chegar lá.
            - Não fui eu que quis ser pai perto dos 30.
              - Eu não sou pai dela, sou responsável por ela temporariamente.
              - Se você está dizendo...
             Para a sorte dos três, o trânsito acabou melhorando ao ponto de conseguirem chegar ao aeroporto sem nenhum outro infortúnio. O local borbulhava de tantas pessoas que iam voltavam de todas as quatro nações. Edogan possuía dois aeroportos considerados um dos mais movimentados entre os demais, perdendo apenas para Inostov e Templeton. No entanto, apenas um dos aeroportos em Edogan concentrava mais pessoas, além de ser bem mais moderno e organizado que o segundo. E era esta a época do ano em que o aeroporto ficava mais lotado. Mais um infortúnio para a equipe que já tinha enfrentado um carro superaquecido e um terrível engarrafamento.
             - Bem, acho que nos despedimos aqui certo? - disse Morgan tirando a última mala do porta malas e entregando a chave para o condutor que levaria seu carro para o estacionamento.
             - Mande lembranças minhas ao Simon. Aliás, a faculdade dele dá semana de folga pra ele.
            - Sim, é como se fosse uma semana de saco cheio. Porém, o departamento de história acaba oferecendo algumas atividades extracurriculares todo ano e dificilmente o Simon não comparece. Se por acaso eu não atender uma ligação, é porque ele provavelmente me arrastou para alguma palestra sobre como a guerra das quatro grandes nações começou e acabou.
             - Nossa, que divertido!
             - Me poupe das suas ironias.
             - Eu iria preferir isto do que passar um feriado inteiro trocando fraldas e aguentando os joguinhos entediantes dos meus irmãos.
              - Sai pra lá, seu reclamão! Olha, é melhor você já ir trocar sua filha por que seu avião sai em menos de 15 minutos.
             - Ela não é minha filha!
            No entanto, Morgan apenas o deixou falando sozinho e saiu andando rumo ao cachê de Berlioz. Mira, ao invés de fazer o mesmo, teve que caçar o fraldário mais próximo para trocar Ellie. Não se lembrava de ter se estressado tanto em uma viagem para Aston. Seria tudo diferente se ele não tivesse tido a brilhante ideia de fazer a missão Stevens sozinho. Talvez não tivesse que se irritar tanto em uma viagem que já fazia há alguns anos. Seria muita ruindade deixá-la em qualquer canto do aeroporto e simplesmente... Deixa pra lá. Depois de trocá-la, eles partiram para o cachê de Aston e, felizmente, conseguiram embarcar antes que o avião partisse, o que acalmou relativamente o ânimo de Mura. Aquela seria uma viagem longa, mas com certeza seria a mais agitada que o homem já fez.

 

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