Aeroporto Internacional
Edogan, Yūgen
O cheiro de café, que se alastrava por quase todo o aeroporto, mostrava para Morgan que já era manhã em sua cidade natal. Enquanto caminhava entre as pessoas que iam e voltavam, aquele cheiro se impregnava cada vez mais. Era um cheiro bom, mas o gosto era detestável. Nunca mais se atreveu a comprar um café no aeroporto desde que um desses lhe causou uma belíssima intoxicação alimentar. Tratou de sair daquela área de alimentação com aroma de café ruim e seguir em direção à saída. Quando chegou, lembrou-se de que Simon havia lhe pedido para ligar assim que chegasse. Mas isso ele faria depois.
Até porque, Morgan tinha outras prioridades naquele momento.
- Vamos lá, por que demora tanto para atender?
O telefone continuou chamando. E então finalmente alguém atendeu.
- Alô, Stefan?
- Mansão dos Alberich, em que posso ajudar?
- Oi, eu... Quem está falando? Esse celular é do Stefan, certo?
- Sou Inês, a empregada. O senhor Alberich está ocupado em seu escritório neste momento. O senhor gostaria de deixar algum recado?
- Não, não. Se ele está ocupado eu posso ligar outra hora. Muito obrigado, Inês.
- Não há de que. Tenha um bom dia.
"Então está passando o feriado na mansão", pensou Morgan, fazendo sinal para o táxi parar. "Bom, melhor do que aquele apartamento pequeno e apertado" , conclui, entrando no carro que havia parado ao seu sinal.
- Bom dia! Para onde nós vamos? - perguntou o motorista, careca e muito bem humorado.
- Para a mansão Alberich. A que fica na rua 23.
- Ok então! Vamos lá!
Sem mais conversa, o motorista tratou de dar partida no carro e levar Morgan para seu destino, enquanto este tratava de ligar para seu irmão, que com certeza o mataria se demorasse mais um segundo para telefonar.
- Morgan?
- E aí?
- E aí, nada! Que palhaçada é essa de me ligar só agora? Onde você estava? Você chegou bem? Já encontrou o meu cunhado?
- Calma, calma. Em primeiro lugar, eu é que deveria estar te xingando por comprar uma passagem para um vôo de três dias. Eu estou morrendo de cansaço, mas estou bem e, não, eu não encontrei o Stefan.
- Rá! Acabou de afirmar que ele é meu cunhado!
- Simon, francamente...
- Tá bom, já parei. Mas, me mantenha informado, certo?
- Por que?
- Porque eu sou o seu irmãozinho querido!
- Eu vou desligar-
- Espera, eu não terminei de falar! Não se esqueça que, se não fosse por mim, você ainda estaria aqui largado às traças sem saber se o amor que você sente é recíproco.
- Tá bom, depois nós podemos discutir o seu cargo de cupido freelancer.
- Só não se esqueça, ok? Pode desligar agora.
- Tchau, obra de cupido.
- Tchau.
Morgan desligou a ligação e pôs o celular no bolso.
- Seu irmão? - perguntou o motorista.
- Desculpa?
- Perguntei se era seu irmão.
- Ah, sim! Eu estava passando o feriado com ele. Mas aí houve um imprevisto e eu precisei vir para Edogan.
- Você é daqui mesmo?
- Sim, nós nascemos aqui. É que agora ele está fazendo faculdade em Duniére, então mudou-se para lá.
- Puxa! É uma distância e tanto, não? Deve ser uma viagem cansativa.
- Se você tiver a sorte de pagar por um voo que vá direto pra lá, não é tudo isso. No entanto, se você tiver a minha sorte e pegar um avião que passa por todas as regiões para depois aterrissar em Edogan, aí sim é bem cansativo.
- Meu Deus. Vou me lembrar de pesquisar bem na próxima viagem de avião que tiver que fazer.
Morgan soltou uma risada simpática. Como não tinha mais assunto, encostou a cabeça no vidro e começou a olhar para casas passando, pessoas vivendo suas vidas, exercendo suas profissões. Pensava se tinha tomado a decisão certa ao voltar para Edogan só para ficar com Stefan. Lembrou-se que nem avisou para o rapaz que havia decidido ir. Será que ele gostaria da surpresa?
"Se não gostar, paciência. Não tenho mais nenhum tostão para ficar indo e voltando de região para região", pensou.
- Prontinho! Chegamos! - anunciou o motorista, encostando o carro em frente a grandiosa mansão Alberich. - Quer ajuda com as malas?
- Não, eu dou conta! Quanto eu te devo?
- 30 Ryōs.
- Certo. Vou transferir para sua conta. Qual a chave?
- Meu celular. Toma, no meu cartão tem o número.
Morgan pegou o cartão das mãos do motorista. Digitou o número do cartão e transferiu o valor.
- Precisa de comprovante?
- Não esquenta, você é bom sujeito! Confio que não me passa a perna!
- Agradeço pela sua confiança. Tenha um bom dia!
- Eu é que agradeço, até a vista!
Morgan saiu do carro, pegou suas malas e se despediu mais uma vez do motorista. Era um cara simpático, que não se encontrava todos os dias.
Sem mais tardar, se dirigiu para a porta principal da mansão e tocou a campainha.
Ninguém atendeu.
Tocou mais uma vez.
Sem sucesso.
Tocou duas, três, quatro vezes e o mesmo.
- Será que saiu?
Antes que tocasse mais uma vez, conseguiu ouvir a voz de uma pessoa, completamente colérica, que resmungava e exclamava aos quatro ventos o quão inúteis eram os serviçais. Destrancou a porta com violência.
- Desculpa, em que posso-
A pessoa travou totalmente ao ver Morgan.
- Cheguei em uma hora ruim? - perguntou Morgan, oferecendo um sorriso divertido para o homem, que o encarava boquiaberto.
- Você... Veio?
- Bom, eu ainda não tenho a habilidade de me clonar então, sim. Eu vim!
- Mas, mas por que não avisou nada?
- Ah, queria te fazer uma surpresa. Mas, levando em consideração essa sua cara peixe, parece que você não gostou nem um pouco. Mas não dá nada, eu posso ir embora se você -
Foi calado por um beijo inesperado de Stefan, que tinha se aproximado dele sem que percebesse.
- Desculpe, eu...eu não pude evitar. - disse, encostando sua testa na de Morgan.
- Não se desculpe. Está tudo bem. - respondeu o loiro, pegando nas mãos do mais alto e apertando. - Da próxima vez, vou avisar que estou vindo pra você ficar ansioso e dar outro beijo igual a este. Isto é, se você atender o telefone ao invés da Inês.
- Como conhece a Inês?
- Digamos que eu liguei pra você para saber em qual casa você estava e ela acabou atendendo a ligação. Ela me tratou muito bem, fique tranquilo. Disse que você estava ocupado.
- Ah, sim. Bom, eu ainda estou resolvendo umas coisas. O chefe me enviou alguns e-mails e eu ainda preciso abrir para ver do que se tratam.
- Missões extraoficiais?
- Parece que sim.
- Nesse caso, foi bom eu ter vindo. Posso acabar ajudando.
- É. Alguém tem que trabalhar também, certo?
- Então é assim que você trata o seu convidado? Dando trabalho para ele?
- Você não é meu convidado.
- Então?
- É o meu colega de trabalho.
- Puxa, nós saímos do beijo e fomos para colegas de trabalho?
- Amantes.
- Tá, tá, chega de definições. Eu estou morrendo de cansaço e preciso de comida. Vamos entrar?
- O-ok...
Stefan deu espaço para que Morgan pudesse entrar e fechou a porta atrás deles.
O loiro começou a olhar em volta. A casa brilhava de tão limpa e exalava um perfume divino. Era tudo arrumado e tinha um estilo padrão, mas acima de tudo chique.
- Você arrumou tudo só para me receber?
- Não está tão arrumado. A casa ainda não foi limpa hoje. A empregada teve um imprevisto e não pôde vir.
- Ei! É até um crime você falar isso. A casa está um brinco! Sério, os discos estão organizando em ordem alfabética e as pinturas estão dispostas por ordem do ano que foram produzidas!
- Mas, isso é normal, certo?
- Se você acha... Quem sou eu pra contrariar. Enfim, onde eu posso colocar as minhas-
- Com licença, senhor!
Morgan sentiu a alma sair pela boca depois do grito de susto que soltou. Um empregado havia surgido do nada ao seu lado, encostando suas mãos geladas na dele para pegar suas malas.
- Obrigado, Tathcher, pode se retirar. - agradeceu Stefan, dispensando o empregado. - Não precisa se preocupar. Todos os meus empregados são de carne e osso, não costumo contratar fantasmas.
- Seu senso de humor às vezes me dá nos nervos, sabia? - disse Morgan, tentando se recompor.
- Vou mandar a cozinheira fazer algo para nós comermos. Espere aqui um momento.
Stefan se retirou da sala. Morgan, como todo bom curioso, resolveu dar uma olhada nos itens que Stefan tinha em sua grandiosa sala de estar. Dava para perceber sua fixação com vasos e pinturas do século retrasado. Não possuía nenhum retrato seu, nem de sua família em nenhum canto da sala. Talvez tivesse algum no escritório, mas não tinha certeza. Até onde sabia, Stefan nunca tivera um bom relacionamento com os familiares. A não ser talvez por seu irmãozinho, que vivia falando de vez em quando.
"Acho que o nome é Levi, se bem me lembro" pensou . "Bom, ele deve ter uma foto dele na carteira ou na mesa de cabeceira."
Continuou explorando a sala e resolveu avaliar os discos organizados em ordem alfabética. Se surpreendeu ao ver bandas de rock antigas no meio daquele monte de músicas clássicas e blues. Não imaginava Stefan ouvindo algo tão alternativo, mas não iria questioná-lo. Ele teria, além de um parceiro de cama, um musical.
- Espero que você não tenha desorganizado os meus discos. - disse Stefan, atrás de Morgan e de braços cruzados. - A cozinheira já está providenciando o café da manhã. Vai levá-lo para nós no escritório, no segundo andar. Vamos subir.
- Tudo bem. E não, eu nem encostei neles. - respondeu, seguindo Stefan para o andar de cima.
Foram em silêncio e entraram no escritório de Stefan. Nada muito diferente do resto da casa. Mesma organização e mesmo nível impecável de limpeza. Dava até medo. Como uma pessoa podia ser tão organizada?
Stefan se dirigiu até sua mesa, sentou e começou a acessar os e-mails. Morgan parou ao seu lado e ficou assistindo o mais velho deslizar a tela sobre os vários e-mails sobre finanças e anúncios de lojas. Até que finalmente parou em um bem diferente dos outros. Não tinha título. Pelo visto, devia ser do chefe. Os dois simultaneamente começaram a ler a mensagem do e-mail. Morgan terminou e ficou em silêncio. Stefan também. A empregada entrou e deixou o café da manhã, mas os dois não deram a mínima. De repente, a fome de Morgan tinha o abandonado. Sua cabeça estava a mil naquele momento.
- Me diga uma coisa. De zero a cem, o quanto que o Mura está ferrado?
- Um valor acima dessa escala, com certeza. Mas, não é isso que me incomoda. Eu quero entender o que é essa tal de Ordem do Renascer que o chefe mencionou.
- Ordem do Renascer? Eu não li isso. - disse Morgan, se aproximando do computador. - Ah, que meleca! A vigília tá metida nisso também!?
- Você conhece isso?
- É lógico que conheço! Em que mundo você vive? Nunca ouviu dos seus pais que era para voltar para casa antes das 17:00 senão a vigília levava você embora?
- Eu não brincava muito fora de casa na infância. Acho que meu pais nunca se preocuparam em me alertar, já que eu não tinha permissão para sair. Mas, a relação entre essa organização, a Ordem e os irmãos Stevens ainda não me entra na cabeça.
- E precisa? Seja o que for, é ruim e com certeza nós vamos acabar tendo que nos envolver de alguma maneira. Afinal, é o nosso colega o alvo do problema.
Stefan ficou em silêncio. Encarava o e-mail e os arquivos dispostos sobre a mesa. Soltou uma respiração pesada e bebericou um pouco do café que a empregada deixou ao seu lado.
- Não iremos nos envolver. Uma vez que o Mura assumiu o risco de levar aquela menina com ele, ele assumiu também o risco de ser perseguido ou até morto por essa gente. Não estamos aqui para limpar a sujeira de ninguém.
- Ei, Stefan!
- Não vamos nos envolver em problemas que não nos dizem respeito!
- Ele é nosso colega!
- E?
Morgan engoliu suas palavras. Não adiantaria nada tentar ganhar uma discussão com Stefan. Ele nunca gostou de Mura, não seria ele que o faria mudar sua opinião.
Mas, não parecia certo deixar Mura resolver o aperto todo sozinho. Eram colegas de trabalho. Podiam não ter um laço tão forte, mas ainda assim, não ajudá-lo parecia um absurdo. Bom, talvez fosse porque seu coração era bondoso demais para deixar isso passar, pensou consigo.
- Stefan!
O mais velho virou-se para encarar Morgan, surpreso pelo tom que o loiro utilizou.
- Sim?
- Prometa para mim uma coisa.
- Morgan, pelo amor de Deus-
- Me deixe terminar!
Stefan se calou.
- Se tudo virar uma imensa bola de neve e o Mura realmente precisar de ajuda, prometa que vai fazer isso, não por ele, mas por aquela menina.
O mais velho encarava-o perplexo. Morgan nunca tinha falado naquele tom com ele antes. Tinha acabado de conhecer um lado totalmente diferente de Morgan.
Aquela vontade de ajudar as pessoas, aquela empatia. Tudo aquilo era totalmente estrangeiro para Stefan. Ainda mais se tratando de Mura. Nunca moveria nem céus e nem Terra para ajudá-lo. Mas, do jeito que Morgan pediu, com aquele tom e aquela expressão, não parecia certo recusar. No final, faria por Ellie e não por Mura. Parecia melhor pensar dessa maneira.
- Tudo bem. Eu prometo...
- Ótimo! Agora, se me dá licença, eu vou pegar esses bolinhos aí do seu lado! - disse Morgan, estendendo a mão para pegar um dos bolinhos da bandeja de café da manhã. Seu humor tinha mudado completamente em segundos.
- Pode comer tudo. Eu não como muito de manhã.
- Você é doido.
- Eu só estou cuidando da minha saúde. Coisa que você deveria fazer e não faz.
- Tá bom, senhor perfeitinho. O que mais vai querer esfregar na minha cara?
- Por onde eu devo começar?
- Vai se ferrar. - disse, virando as costas para sair do escritório.
De repente, sentiu a mão de Stefan segurar o seu braço.
- Eu te dei permissão para se retirar?
- Eu não sou um dos seus empregados para ter a sua permissão de ir e vir.
- Mas você está na minha casa e no meu escritório. Então, aqui você me obedece como empregado. - respondeu, envolvendo Morgan mais para perto do seu corpo.
- E o que você deseja então, senhor Alberich? - perguntou, se entregando totalmente às carícias do mais velho.
Stefan respondeu a pergunta com beijo, longo e apaixonado. E Morgan retribuía igualmente, passando os braços em torno do pescoço do mais velho, que lhe segurava pela cintura, como que para trazer o mais novo ainda mais para si.
Desejava-o.
Queria possuí-lo por inteiro, exercer total poder sobre ele.
Sem rodeios, tirou sua camisa e a camisa do loiro, que não se opôs à ação. Quando se deu conta, já estava sobre o corpo de Morgan. Queria que este sentisse o mesmo prazer que ele.
Queria fazê-lo se sentir desejado.
E como queria.
Voltaram à rodada dos beijos. Dessa vez um pouco mais afobados e selvagens. Morgan sentia o gosto fantástico do café no beijo de Stefan, fazendo com que desejasse aquilo mais e mais.
- Você quer parar? - perguntou o moreno.
- Acho que você consegue fazer melhor do que isso. - respondeu o mais novo, ofegante.
Lançou-lhe um olhar intimativo, fazendo o mais velho terminar de se despir sem que precisasse pedir com palavras. Deixou que este fizesse o mesmo consigo.
- Vamos fazer isso aqui mesmo?
- Acho que agora não tem mais jeito, não é?
- Vou tentar ser gentil dessa vez, para variar.
- Faça como quiser.
Stefan, deixou de beijar apenas a boca e se expandiu para o restante do corpo do rapaz. Beijava-lhe e chupava toda a extensão do pescoço, fazendo o mais novo sentir um pouco mais de prazer. Mordiscou sua orelha, fazendo este soltar um leve gemido rouco. Desceu novamente, agora explorando de uma forma bem mais ampla. Seus beijos se estendiam por todo o peito de Morgan, que hora ou outra gemia de prazer. Stefan foi descendo mais e mais, à medida que os gemidos de Morgan aumentavam.
Com uma das mãos, quis adentrar a cueca do mais novo. Apenas o toque dos dedos de Stefan, levaram Morgan ao total delírio.
Nunca se sentira daquela maneira. Já haviam feito sexo outras vezes, mas nada chegava aos pés daquilo.
Daquela sensação.
Era incrível.
Não queria sair dali jamais. Ele queria ser totalmente possuído. Queria se sentir ainda mais desejado.
Queria pertencer totalmente a Stefan.
No entanto, seu desejo foi interrompido por uma batida na porta.
- Senhor Alberich! Tem visita para o senhor! O contador está esperando na sala de estar! - anunciou Tathcher, do outro lado da porta. - Tenho permissão para en-
- Não! - gritaram os dois, simultaneamente, dentro dos escritório.
- Oh, eu sinto muito! Vou pedir para que -
- Eu já estou indo, Tathcher! Espere um segundo! - disse Stefan, tentando se vestir o mais rápido possível.
Morgan se levantou rapidamente para fazer o mesmo. Quando terminou totalmente de fazê-lo, Stefan abriu a porta.
Tathcher encarava os dois sem reação.
- Algum problema? - perguntou Stefan, com uma expressão intimidadora.
- Não senhor.
- Então, pode se retirar.
O empregado saiu sem dizer nada.
- Será que ele percebeu? - perguntou Morgan, assistindo o empregado descer as escadas.
- Eu deixei uma marca bem auto explicativa no seu pescoço. - respondeu, indo embora dali em direção à sala de estar.
- Você o quê?!
- Fique aqui em cima, eu já volto!
- Stefan!
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What's new, Mr Hathaway?
FantasiaNa grande capital de Yūgen, Edogan, o agiota Mura Hathaway leva a vida que sempre quis para si. Solteiro e sem planos para casamento e filhos, ele passa a maior parte do tempo no sobrado que herdou do avô e no escritório de agiotagem, executando pes...