Lugar Para Chamar de Lar | Heehoon / Jaywon

Sete

O jantar ocorreu sem maiores imprevistos. Algumas trocas de olhares desconfortáveis aqui e ali, mas nada que não pudessem suportar até o final.

O clima tenso entre Sunghoon e Heeseung ainda permanecia e pouco conversavam entre si.

No famoso quebra gelo, Soobin fazia perguntas à pequena família. Jungwon, claro, odiou e quase nada respondia.

"Já conheceu o bairro Jungwon?" Questionou o garoto pelo o que seria a vigésima vez naquela noite enquanto apoiava o cotovelo na mesa. "Posso te levar um dia desses se qui–"

"Não quero." Jungwon foi rápido em cortar o moreno. Sunghoon imediatamente estreitou os olhos para o mais novo. "Mas agradeço imensamente pelo seu convite." Sorriu falso antes de desmanchar o rosto para um semblante irritado.

O simples pensamento de: "Foda-se." não pode deixar de passar por sua cabeça. Xingando mentalmente o platinado e todos ao seu redor que haviam o colocado naquela situação.

Sunghoon bufou, estava extremamente esgotado. Aquele dia havia sido mais do que ele poderia diariamente. Novas descobertas, preocupações e desavenças. Contudo, não era como se seus dias fossem sempre uma maré de sorte e felicidade, até porque eles só pioravam cada vez mais.

Quando se deram conta já passava das 22h07, estava ficando tarde. A luz lunar à fora já aparente entre a escuridão da noite.

Com isso, Soobin e Yeonjun decidiram então ir embora – com a promessa de voltarem outro dia –, eles ainda tinham que trabalhar no dia seguinte. E com certeza o clima pesado não era o mais agradável para uma ocasião que deveria ser no mínimo acolhedora e convidativa.

Com a saída do casal, Jungwon rapidamente se retirou do local e partiu para seu quarto sem ao menos olhar para trás. Não aguentava mais ficar ali um minuto sequer, brincando de casinha enquanto aumentava as expectativas daqueles bastardos que pensavam ser tudo real. Aquilo não passava de uma fantasia, e um belo conto de mentiras.

Aguentar dois viados já era difícil, e para sua infelicidade – novamente – teve que suportar quatro de uma vez por mais de duas horas.

Sim, esse seria definitivamente o seu fim ou o do mundo todo. Provavelmente um tsunami os envolveria com suas gigantescas ondas de água, ou um grande terremoto aconteceria de repente, levando-o à sua morte após ter sido atingido na cabeça por um enorme pedaço de pedra que desintegrava-se do maior prédio da cidade.

Se pudesse, Jungwon realmente já teria ido embora não apenas daquele jantar sem graça, mas também daquela casa, fugindo de tudo e de todos. Não era de sua vontade permanecer entre eles, nem um pouco reconfortante ou aceitável, mas sim completamente nojento e incômodo.

"Aquele maldito platinado... Se não fosse por ele e suas regras idiotas com certeza já teria dado um basta em tudo aquilo."

Mas nada que tentasse daria certo, absolutamente nada. Jungwon tinha plena consciência disso. Seus esforços seriam apenas gastos em vão, contra algo que saberia dos resultados.

Na maioria das vezes, suas escolhas, vontades e opiniões, sempre foram totalmente ignoradas. Assim como sua própria vida. Ele sempre soube que nunca significou coisa alguma para ninguém.

Olhando para trás, seu presente não pareceu mudar muita coisa desde seu passado. De fato, sua existência continuava sendo irreal, como se ninguém pudesse realmente enxergá-lo. Ele enfim havia se tornado uma sombra para todos. Sempre atrás das pessoas, distante e inaudível. Vezes ou outra se sentia solitário, com um vazio no peito.

Mas claro, não era como se Jungwon se importasse com isso, afinal, aprendeu a lidar, superando vagarosamente esse empecilho durante toda sua vida. Como uma obrigação, passou então a se acostumar com as pessoas que davam ou não a mínima para ele. Consciente de que nada mais poderia fazê-lo pensar do contrário seguiu em frente do melhor jeito que pode encontrar. Ignorando tudo e todos.