O império de Emir

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Muito antes destes eventos que transformaram as vidas de Nicolas, Noah e Nathan em um ataúde folheado a ouro, páginas puídas e a felicidade de uma aurora absoluta, sim, bem antes, alicerçava-se nas terras de Portugal e no arquipélago dos Açores uns acontecimentos intrigantes, entranhados do cheiro das resinas e verduras como sempre, porém destoantes um pouco da normalidade, ou melhor dizendo, da naturalidade da vida cotidiana.

Tudo começou em eras de contagem antiquíssima, quando as ilhas dos Açores ainda podiam gabar-se de não terem sido carimbadas pelas solas dos pés humanos. Numa declaração de palavras mais precisas: apenas dois mil anos decorridos ao impacto que dizimou os dinossauros, um indivíduo de nome Emir, juntamente com seu filho e uma turba inumerável de súditos, começou a elaboração de uma detalhada cidadela. Onde? A pergunta não seria necessária, se o local dos fundamentos fosse a céu aberto. Todavia, não foi. Visto que a atmosfera apresentava risco, foi preciso que eles aprendessem a viver debaixo do chão.

No início, eles adaptaram as cavernas, transformando-as em salões interligados por corredores. Vale agora dizer, que o corpo que atingiu a terra não era em hipótese alguma um meteoro, ou cometa, ou asteróide, mas um disparo mal-sucedido e, obviamente, mal-utilizado da Noz Dourada. Os detalhes estão na obra homônima.

Calíodo, o responsável pelo disparo( irresponsável foi a palavra que se fez existir na pessoa dele), era pai de Emir e Amir, além de ser marido de Ilméria. Amir era assim chamado por Calíodo, mas chamado de Dheanel por Ilméria. Os irmãos tinham personalidades conflitantemente distintas. Dheanel apoiava sua mãe e a causa da Noz, e, por essa razão, eram considerados rebeldes por Calíodo, que por sua vez condicionou Emir a pensar da mesma maneira.

Emir tinha nas linhas obtusas e retas de seu temperamento os mesmos aspectos ignorantes de Calíodo. Contudo, depois que se apaixonou por Padma e dela obteve Dahab, o interior de seu coração começou a sofrer uma combustão que ele ocultava de início até para si mesmo.

Depois do catastrófico acidente envolvendo a Noz Dourada, Emir e Dahab separam-se de Padma e de todos que um dia conheceram. Não estavam mais em Aleph, seu planeta natal. Andavam agora pelas entranhas do planeta Terra, à procura de traços da Noz Dourada que se dispersaram na explosão. O que eles queriam com isso? Comerem para não morrerem. Sim. O conteúdo da Noz, assim como toda a composição da árvore Dhea, continha propriedades miraculosas. Acontece que esse era de longe o modo correto de fazer uso de seus benefícios. Em virtude desse método radical e desesperado, digamos que ocorriam alguns 'desvios' no resultado da experiência.

Aterrissemos de volta à época que Emir pede ao filho que vá a outras terras em busca de fragmentos da Noz.
Emir despediu-se do filho às margens marítmas da grande ilha. Montado em um cavalo dentro das ondas encrespadas ele abraça Dahab e beija-o.
_ Estarei aqui, nesse mesmo lugar, esperando teu retorno. Que tua embarcação, feita de levitate, traga-o seguro novamente para mim. Glória e esplendor estão te esperando. Todo meu império será teu.
_ Se eu levasse teu coração, jamais pensaria em voltar.
_ Meu coração pulsa fora de mim, meu filho, e se fez existir no dia em que naceste.
Desse modo, partiu Dahab, deixando para derramar suas lágrimas quando o navio estava longe. Emir ficou de pé sobre o cavalo, que estava sendo açoitado pelas línguas do mar. Em vista disso, ele mandou que construíssem uma estátua enorme que retratasse aquele momento. Assim, em uma das ilhas, erguia-se a escultura de um cavaleiro olhando para as distâncias indefinidas do oceano.
Enquanto isso, ele e seu exército de seguidores, igualmente mal-fadados, continuam o soerguimento de seu império. Extenuantes e longos anos eles passaram nessa labuta. E nada do retorno de Dahab, lançando Emir em um abismo de desalento existencial. Tentando consolar-se pela perda do filho adorado, ele dissipa a sua semente com várias mulheres, na esperança de que um deles saísse com o mesmo rosto iluminado de seu Dahab. Todos eles recebiam o mesmo nome, seguido do número da sucessão. Desse modo, Emir povoou o seu reino de filhos, a quem não dedicava nem mesmo metade do afeto que devotara a Dahab. A necrópole tinha sete distritos principais; a do meio ficava debaixo das três montanhas imponentes que erguiam-se mesmo para olhos distantes.

Não fosse o versátil levitate, que eles chamavam de "vril", eles não teriam obtido os excelentes resultados. Por muito tempo eles viveram prosperamente nas sete cúpulas subterrâneas dos Açores. Todavia, a ingestão que faziam dos compostos da Noz Dourada, em mistura a outras químicas, reagiam em seus corpos de maneiras diversas e imprevisíveis, originando, não poucas vezes, anomalias e aberrações. Nas terras que eles colonizavam essa química era conhecida como oricalco, afamada por conceder longevidade.

É a partir deste ponto que retomaremos os relatos sobre os Clubes da Noz.



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⏰ Última atualização: Oct 09, 2022 ⏰

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