II

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— Isso é tão chato, Hitoshi!

— Para de reclamar ou eu te expulso da minha casa.

— A tia Sakiko nunca ia deixar você fazer isso, e você sabe!

Hitoshi deu de ombros, continuando a ignorar Denki com suas próximas falas, com o livro imenso enfiado na cara enquanto chutava Kaminari quando ele tentava se aproximar demais. Os dois faziam muito barulho, e já naquele ponto, Shinsou nem lia mais o capítulo dezoito daquele livro que a mãe tinha trazido do trabalho, somente irritava o loiro ao deixá-lo à deriva, no tédio de sua casa.

O menor se irritou, mas sorriu cínico. Estavam ambos na cama do arroxeado, então não foi difícil se aproximar de novo, como vinha fazendo. Ele lhe deu outro chute, contudo, foi mais rápido em dar um tapa no livro dele e o ouvir cair no chão do quarto. O maior o olhou incrédulo no primeiro momento, porém, logo sorriu maldoso também e pulou em cima de si, os virando na cama. Ficou por cima de Denki e tentou o prender ali, todavia, foi empurrado para trás, e pego de surpresa logo em seguida quando Kaminari o segurou por trás, agarrando sua cintura com as pernas e o tronco com os braços. Se debateu contra ele, que continuou firme e até o apertou mais.

— Você sabe que eu sou mais forte que você, Hitoshi. — o louro riu em seu ouvido, a boca e queixo encostando em sua nuca — Não adianta nem tentar.

— Filho da mãe... — suspirou, derrotado, deixando o corpo tranquilizar e sentindo ele o soltar, no entanto, corou quando reparou que ele não saiu da posição, somente relaxou o corpo também e ofegando em seu pescoço

— Você que pediu, seu chato!

Depois de alguns segundos, o mais baixo saiu da posição para ficar em cima do outro, e se jogou nele, ficando com os corpos grudados, sua cabeça no peito alheio. Sorriu e corou quando sentiu as mãos dele em seu cabelo, mexendo nas mechas com preguiça.

— Você venceu. — Hitoshi suspirou mais uma vez — O que você quer tanto fazer?

Denki sorriu animado, se erguendo ainda por cima dele e sentando em seu colo para ele poder se sentar, o olhando com amargura.

— Bora jogar- — seus ombros se mexeram levemente quando escutaram um barulho alto de escape. Se entreolharam por um momento, no entanto, começaram a ir para debaixo da cama no momento em que se ouviu mais tiros, indo para o chão, e logo em seguida, para debaixo do colchão de Shinsou, onde cabia os dois com não muita tranquilidade assim

Estava meio apertado, entretanto, era isso que tinham. Estava rolando o maior tiroteio, não muito perto, mas não muito longe também. Além de que, Sakiko — a mãe dos Shinsou's — iria os matar se os visse depois em algum lugar que não fosse ali. Os dois se calaram, quase ao mesmo tempo, ficando parados enquanto escutavam a troca de tiros que parecia ser feita até por tiras. Isso ia passar no jornal amanhã.

Ambos viraram a cabeça, ficando praticamente virados um para o outro também. Sorriram, achando graça em algum momento, rindo em meio ao barulho dos tiros como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ficaram se olhando, por mais algum tempo, até a mão do arroxeado se erguer minimamente sobre o solo, chegando do lado da de Kaminari e a pondo por cima da do outro. A palma era maior, os dedos mais longos. Ficaram encarando o abraço das falanges, brincando com os dedos alheios. O loiro ergueu o olhar para o mais alto, observou os cílios e sobrancelhas negras, os olhos fundos e lábios nem finos nem carnudos, além, é claro, das olheiras já meio escuras abaixo dos olhos. Aquilo era perfeito. Sempre teve uma tara por gente pálida e que parecia um zumbi sombrio. E Hitoshi claramente era o seu tipo de cara.

Aquele jeito cínico dele, competitivo, lindo e ao mesmo tempo repulsivo era tão...

— Se continuar me encarando assim você vai acabar ficando por cima de mim de novo. — falou ele, e o menor revirou os olhos quando o outro ergueu os dele e sorriu, aquele que ele sempre fazia

— Meu pau no teu cu.

Sorriu de canto com a risada fraca dele, e virou para ficar de barriga para cima, cruzando os braços e consequentemente tirando sua mão debaixo da dele.

— Estragou o cima romântico, seu arrombado.

— Deixa de aperreio, loirinho. — disse ele em resposta, se aproximando de si, contudo, sem nem encostar — Assim não vai dar pra pedir sua mãe em casamento se o filho dela quer ter um caso comigo.

— Vai se fuder você e essa sua cabeçona inchada de cearense.

— Qual das duas?

Denki acabou corando finalmente, fazendo com que Shinsou comemorasse internamente e acabasse rindo um pouco. Se aproximou lentamente e com cuidado, laçando a cintura de Kaminari com um dos braços enquanto enterrava o nariz no pescoço dele, que tinha o cheiro misturado de suor, praia e colônia de bebê. Sentiu com a própria pele quando ele se arrepiou, atacando seu braço com os dedos e tentando afastar o corpo do seu, porém, foi em vão quando o arroxeado logo o puxou novamente, pondo a perna sobre a dele.

O louro esticou o pescoço, rendido e com a face totalmente vermelha, segurando na garganta os suspiros que queria dar enquanto sentia os lábios e nariz do maior passar por sua pele. Sabia que era só uma brincadeira dele, que só estava fazendo isso porque sabia que o mais baixo ficava com vergonha e raiva depois. Ele sempre fazia isso, afinal...

×××

— Ah, oi Denki, meu fio. — Sakiko sorriu quando os viram sair do pequeno corredor. Estava com um pano de prato velho nas mãos e um lenço sobre a cabeça que prendia os cabelos para trás. A Shinsou mais velha estava fofa e linda como sempre — Desculpa não vir te receber, tava tirando meu cochilinho da tarde e aí aconteceu aqueles tiro.

— Nada, tia. — respondeu com um sorrisinho — Tem que descansar mesmo, sei que cuidar dos mortos vivos dos seus filhos não deve ser fácil!

— Não é mesmo.

Hitoshi revirou os olhos, se sentando na mesa velha da cozinha enquanto observava a mãe continuar a conversar com seu melhor amigo. Denki era da mesma altura que ela, talvez um pouco maior, e sorria para a mesma como se não a visse a anos. A morena o abraçou, logo ficando oferecendo comida e perguntando sobre a família do mesmo, como fazia com toda visita.

— Fica preocupado não, meu fio. — a menor disse, empurrando um monte de comida na mesa assim que Kaminari se sentou ao lado de seu filho mais novo — Pode encher o bucho.

— Não tia, precisa não...

— Come logo, besta. — Shinsou mandou, não muito feliz com o tratamento especial que ele recebia, mesmo já acostumado com aquilo

— Tá né, já que insiste...

Picolé Gourmet (ShinKami)Onde histórias criam vida. Descubra agora