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O barulho estava alto, o cheiro de churrasco estava elevado e muito bom, coisa que faria Denki salivar se já não estivesse com a boca cheia de carne com farofa. Sorriu quando a mãe de Hitoshi tirou mais carne e frango prontos da churrasqueira, cortando em algumas partes e colocando nos pratos. Com uma mão sorrateira, pegou um pedaço de linguiça com a mão e enfiou na boca, ganhando um leve sermão de sua mão.

— Para de ser porco, moleque. — ela reclamou, comendo também, ao seu lado — Pega com o garfo.

Somente revirou os olhos, novamente fazendo a mesma coisa e ouvindo um suspiro da outra, como se não quisesse mais reclamar, deixando que o filho fizesse o que queria. O Shinsou mais novo riu ao seu lado, comendo educado e passando uma boa impressão para a mulher — coisa que fazia sempre, a maioria das vezes para irritar o amigo.

O churrasco entre as famílias era meio que uma tradição de amizade. As mães se tornaram grandes amigas por conta do marido de Ana Carolina e Sakiko, que eram conhecidos de uma academia de muay thai que faziam alguns anos atrás quando a idade e o tempo ainda lhes era de sobra. A Shinsou vinha de uma comunidade japonesa no Ceará, agora no Rio, em busca de melhor emprego e melhor vida. Teve Mahina com dezesseis anos e pouco depois Hitoshi, os dois do mesmo pai, que aparecia somente em um período muito grande de tempo, como alguns anos. Ela conheceu Francisco no clube que dividiam com outras poucas pessoas que eram ensinadas por Denki Fukushima, que veio do Japão fazia anos. Em homenagem ao seu treinador, Francisco pôs o seu nome em seu primeiro e único filho, que também ganhou o nome Kaminari por uma indicação da própria Sakiko. Ela se aproximou bastante de sua esposa, que mesmo no início ciumenta do marido, logo virou melhor amiga da Shinsou, tendo até mesmo sua gestação acompanhada por ela, que a ensinou quase tudo pois já era uma mãe de dois. Isso fez as famílias se aproximaram bastante, e sempre viviam juntas em domingos ou então em feriados, fazendo churrasco, bebendo em algum bar local e coisas do tipo.

Hitoshi se aproximou, fazendo uma leve careta com os lábios enquanto colava os ombros com o de Denki, atraindo sua atenção e o fazendo lhe olhar confuso. Sorriu minimamente, pegando seu pulso e se levantando e o puxando junto. Kaminari reclamou baixo, dizendo que queria comer mais e que não tinha acabado enquanto era levado até dentro da própria casa, tendo as falas interrompidas quando Shinsou começou a lhe dar vários selinhos, rápidos e contínuos, apertando suas bochechas entre as palmas ao segurar seu rosto. Segurou suas mãos, quase tropeçando com os passos rápidos dele em direção a qualquer cômodo de sua casa, os empurrando para dentro.

O loiro resmungou entre os lábios, levando as mãos ao rosto dele também e o afastando depois de um pouco de força. Percebeu que estavam no quarto de seus pais, o que definitivamente era o pior lugar possível para se estar agora.

— Hitoshi...

— Não se preocupa, a gente não vai fazer nada demais. — ele disse, dando de ombros e já se aproximando mais uma vez — Eu só quero beijar você agora.

Iria falar alguma coisa, mas ele foi mais rápido, colando novamente os lábios de ambos e o impedindo de dizer qualquer palavra. Apertou os ombros dele, sentindo as dobras dos joelhos moles, assim como também conseguia saber que as mãos alheias estavam tremendo, apertadas contra seu rosto.

— Eu não... — começou ofegante quando separaram o beijo mais uma vez — Eu não quero que a gente seja pego de novo, Toshi.

— A gente não vai, loiro. — beijou sua bochecha, sorrindo sobre sua pele — E se formos, eu conserto tudo.

O menor suspirou, percebendo que ele realmente não dava atenção para essas coisas como Denki dava. Se sentia medroso quanto à reação de seus pais, mesmo que o arroxeado fosse seu melhor amigo desde sempre. Eles estavam acostumados com a ideia dos dois colecionando cartinhas e livros de figurinhas, não trocando beijos por aí a fora. Imaginava que para eles deveria ser um grande baque, afinal, nenhum pai está realmente pronto para saber o primeiro namoro de seu filho — no caso de Denki, o primeiro "namorado" que teve, filho da melhor amiga de sua mãe e colega de seu pai.

Picolé Gourmet (ShinKami)Onde histórias criam vida. Descubra agora