Manicômio

92 11 15
                                    

Sinopse:

“Cuidado por onde anda, eu não fui cuidadosa e agora estou aqui. Se faça esse favor e não cometa o mesmo erro que eu.”

//



Pov Sarah

Em dias normais eu reclamaria de acordar cedo, mas como hoje não é um dia normal, levantei mais animada do que nunca. Estou no sétimo período da faculdade de medicina, é cansativo, corrido, mas é meu sonho e hoje, nessa bela manhã ensolarada de quarta-feira, minha professora de psiquiatria resolveu que faríamos uma excursão, ou algo do tipo, para uma clínica psiquiátrica que há na cidade. Eu não poderia estar mais contente, além de ser algo sobre a área que eu pretendo me especializar, ainda poderei conhecer a tão comentada Santa Casa da Cura.

Eu sei, eu sei, o nome não é dos melhores e não sou a única que pensa assim, tanto que um dos antigos proprietários mudou o nome, hoje em dia a clínica é reconhecida em cartório como Hospital Geral Vieira de Nova York, mas geral ainda chama de Santa Casa da Cura por puro costume, e eu não sou diferente. 

Me arrumei animada, tomei meu café e fui encontrar com o resto da turma na faculdade. Fiquei conversando com alguns colegas até a professora chegar, é chato sair assim sem um amigo do lado, a única que poderia me fazer companhia agora era a Juliette, ela ta' mais pra' crush' do que amiga, mas ela não vai participar, disse que não queria ir em um lugar como aquele, mas eu quero.  

Fomos em um ônibus alugado e eu poderia jurar que estava de volta ao ensino médio, ou até ao fundamental. A galera foi cantando e gritando o caminho todo, e claro que eu estava no meio. Apesar de não ser uma amiga próxima, Thaís é bem animada e eu sempre converso com ela. 

Depois de alguns minutos chegamos ao hospital, era enorme. Devia ter uns quatro ou cinco prédios diferentes, cada um sendo uma ala específica de tratamento. Logo no início tem o pronto socorro, depois a oncologia, mais atrás a pediatria, maternidade e psiquiatria, o outro prédio era um refeitório. 

Como nossa aula era sobre psiquiatria, fomos andando de forma calma até o ultimo prédio do lugar. Era um casarão muito bem reformado, mas que ainda assim parecia ter uns 100 anos de idade, um verdadeiro prédio histórico. 

A professora nos explicou um pouco sobre todo o lugar. A Santa Casa da Cura foi criada por uma médica britânico depois da sua chegada aos Estados Unidos, que começou com um pequeno consultório em casa e era auxiliado pela esposa. Por isso o último prédio parece com uma casa, era uma casa.

Com o passar dos anos o consultório cresceu, a família se mudou e a casa virou um hospital e mais para frente foi transformado em um sanatório, tendo como primeiro dono o filho mais velho dessa médica. Algumas pessoas dizem que esse foi um dos poucos hospitais psiquiátricos que não fechou acusado de maus tratos e afirmam que ninguém nunca sofreu ali, mas eu duvido muito. Qual é, é um manicômio de 1945!

As teorias e a curiosidade do público sobre esse assunto era tanta que fizeram um tipo de museu aqui. Ao lado da casa existe uma espécie de galpão, lá tem uma exposição falando tudo sobre todo o hospital, mas principalmente sobre a ala psiquiátrica, desde instrumentos usados nos mais diversos procedimentos - entre eles maquinas para tratamento de choque, amarras, mordaças, picadores de gelo, seringas, agulhas e alguns medicamentos que usavam para dopar pacientes - até cartas escritas por pacientes e até o registro de visitação. Pode parecer estranho, mas na época os procedimentos como lobotomia e tratamento de choque eram normais, recomendados e pedidos, então faz sentido ter essas coisas aqui, infelizmente. 

Eu estava em um misto de medo e entusiasmo e então meus olhos bateram em uma caixa de vidro que protegia uma carta. Ela estava escrita em um papel desgastado, devia ser muito antigo, a tinta usada era de cor vermelha e letra tremida, como se tivesse sido escrita com pressa, e era uma letra bem familiar para mim. 

Efeitos da insônia - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora