TRINTA E SETE

555 58 5
                                    

Gatilho.

LORE

Meus pés gelados encostaram nas pernas da Anne, fazendo a morena se assustar e se afastar. Minha amiga tinha os braços enrolados em minha cabeça, abraçando a mesma e deixando-a encostada em seu peito. Ela não sabia o motivo por eu estar tão deprimida, mas ainda assim, tentava me ajudar. A garota é incrível.

Meus pais respeitaram o meu espaço. Eles não se aproximaram desde o que aconteceu na semana passada, e isso era... bom. Não queria que eles tentassem se desculpar ou inventassem outra mentira. Os dois mataram pessoas, assassinaram famílias e outras coisas horríveis. Isso tudo martelava a minha mente todos os dias. Toda madrugada. Pesadelos assustadores sobre eles me matando ou Ruel cravando uma faca no meu peito me assombravam todas as noites.

Eu não queria vê-lo. Faltei um semana para não trombar com ele. Meu coração ainda apertava e doía. Saber que fui usada e manipulada só deixa tudo pior. Eu estava com raiva dele. Muita raiva, mas quando ouvi o Shawn gritar e chamá-lo, meu corpo traiçoeiro estremeceu e me odiei por isso.

O despertador da Anne tocou e a garota acordou. Coçou os olhos e sorriu para mim. Sorriso fraco e cansado. Cansado por minha causa. Eu estava cansando ela. Eu não podia mais ligar de madrugada. Preciso aprender a lidar com isso sozinha.

— Dormiu bem? — me olhou e assenti. — Que bom. — molhei os lábios. — Vou tomar banho, tá?

Assenti.

Molhei os lábios e engoli seco. Eu não durmo bem há dias, e quando fecho os olhos, adormeço por apenas duas ou três horas.

Rastejei até a ponta da cama, e fui para o closet, onde peguei meu uniforme e coloquei em cima do lençol branco. Quando a garota saiu, eu entrei logo em seguida. Meu reflexo estava horrível. Olhos cada vez mais fundo. Suspirei derrotada e entrei no chuveiro, molhando o corpo para talvez tirar o cansaço de dias ou a tristeza acumulada.

Já arrumada, saímos do quarto e descemos as escadas. A casa parecia vazia. Estava em total silêncio. Fui até a cozinha, dando um sorriso fraco para as mulheres que trabalhavam ali. Anne comeu pão com geleia e eu apenas peguei duas barrinhas de cereal. Ultimamente comer não fazia parte da minha rotina. Eu não sentia tanta fome assim.

Passamos pelo vestíbulo brilhoso e logo saímos da mansão. Encarando Thomas ao lado de outro homem alto e forte, estavam nos esperando. Benjamin colocou mais homens para me proteger e proteger a casa. Entrei no carro e o meu segurança começou a dirigir.

O silêncio apareceu mais uma vez. O calor e a agonia dentro do veículo me fazia soar e querer descer. Cada minuto que passava, parecia que mais distante o colégio ficava. Minha amiga sabia que eu não estava muito para conversas ultimamente, então sempre respeitava o meu silêncio e não fazia perguntas ou tentava iniciar um diálogo.

Quando finalmente chegamos, desci ao lado da Anne. Suas mãos médias me levavam pelo ombro. Suspirei deixando um riso fraco e pequeno sair. De longe vimos Sarah no meio de duas garotas. Elas estavam bloqueando a nossa passagem. Depois da garota pagar os meninos para começaram o boato sobre o meu sequestro, não tive oportunidade para enfrentá-la.

A garota molhou os lábios e mexeu no cabelo com um gesto enojado. As outras duas ficavam atrás do seu corpo. Meu Deus, isso é tão infantil.

— Saia da frente, Sarah! — Anne disse.

Ela apenas riu e cruzou os braços no peito.

— O que aconteceu com você? — Sarah me olhou. — Parece acabada e sem vida.

A MENTIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora