Quando um tremor veio, violento, chacoalhando todo o seu corpo, soube que não havia como se segurar. Quase imediatamente, as lágrimas nublaram sua visão e suas pernas tremeram feito gelatina.
E, de repente, mãos fortes tomaram seus ombros e gentilmente guiaram-no para longe dali. O ritmo foi rápido o suficiente para evitar que os presentes vissem seu rosto contorcido em raiva e humilhação, mas não para fazê-lo tropeçar ou machucá-lo de alguma forma.
Quando o leite escorreu até seus olhos, foi obrigado a piscar e as lágrimas não puderam mais ser seguradas.
As mãos gentis levantaram-no até o vestiário e colocaram-no sentado no banco que ficava no centro. Logo, braços fortes e quentinhos abraçaram-no por trás.
— Coloca p'ra fora, Mu Qing. — a voz de Feng Xin foi suave ao dizer — Por favor.
Era a primeira vez que ele o tocava com tanta intimidade e ternura, e foi justamente num de seus momentos mais delicados.
O número de lágrimas triplicou, e sua expiração saiu como um chiado dolorido. Apertou os braços do amigo, encolhendo-se todo ao tremer da cabeça aos pés.
Feng Xin segurou-o naquele abraço com força o tempo todo, murmurando um "isso, pode chorar" ou "'tá tudo bem agora" de vez em quando. Embalou o amigo até que ele passasse a apenas soluçar.
E, por mais envergonhado que Mu Qing pudesse estar, um calor gostoso e acolhedor invadiu seu peito ao ser cuidado pelo castanho.
Durante um minuto inteiro, o único som no vestiário vinha de algumas fungadas que o moreno dava.
— E-eu não-o demo-rei p'ra atend-der eles ...
Feng Xin apertou-o ainda mais em seus braços.
— Não, não demorou.
— Eu a-anotei-i o pe-dido c-certo ...
— Sim, anotou.
— T-tinha açúcar n-na mesa ...
O castanho passou a desenhar círculos invisíveis na pele avermelhada do braço do amigo. A tensão dele foi diminuindo com o gesto.
— Eu sei que tinha.
— Eles m-me fize-ram escorregar d-de propósito ...
— Sim, fizeram.
— O c-cabelo na xí-cara n-não é minha cul-pa ...
— Não. Nada do que aconteceu foi sua culpa, Mu Qing.
Outro chiado foi ouvido. Os movimentos circulares cessaram, e o aperto aumentou ainda mais – se é que isso é possível.
Não caíram mais que uma dúzia de lágrimas dessa vez, mas ele voltou a tremer todo. Feng Xin envolveu-o com seu calor.
— Me perdoa por não ter me metido. Me desculpa.
Alguma coisa dentro do moreno fez a vontade de segurar a mão dele surgir, latente e irresistível. Talvez fosse o medo do caroço no seio de sua mãe ser maligno e viver o inferno na terra de novo. Talvez fosse culpa da avalanche de emoções que o Quarteto do Cão o fez sentir. Talvez ... fosse o sentimento cálido em seu peito que suspeitava ser culpa de Feng Xin.
O fato é que ele realmente tomou a mão do castanho na sua. Quase imediatamente, o outro entrelaçou seus dedos.
— N-não ia a-adiant-tar ...
— Mas ia te fazer se sentir melhor?
Sentiu seu rosto esquentar.
— ... Ia. — confessou num sussurro.
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Até Transbordar
FanfictionOnde Mu Qing não queria a pena de ninguém e seus amigos não queriam que ele engolisse o que sentia até explodir.