Não mais do que alguns...

Capítulo 2

Quando já passava da meia-noite, Ella e José já haviam perdido a conta de quanto haviam bebido, enquanto riam sozinhos e Susanne olhava pra eles com um olhar julgador.

- Próxima parada: Fluid! - disse Ella rindo a toa.

Fluid era uma balada nova que havia aberto não fazia muito tempo em Lyon, tocava vários tipos de música e tinha o mais diverso público de frequentadores. Ella se despediu de Louis e lhe deu um beijo demorado na bochecha, dizendo em seu ouvido logo em seguida.

- Eu volto, mas não hoje.

- Eu sei e mal posso esperar. - Louis respondeu.

Os três entraram em um táxi e deram ao motorista o endereço do local onde iam. Ao chegar no local viram que a fila já estava grande. Saíram do carro e se aproximaram da porta, Ella ia a frente do grupo e quando chegou no rapaz que controlava a entrada das pessoas disse.

- Aniversariante tem prioridade? - enquanto piscava para Leo.

- O dia que eu não liberar a sua entrada aqui você pode me dar um tiro! - disse Leo rindo para a morena.

- Eu sempre sei com quem fazer amizade. - Ella disse enquanto entrava.

Leo olhou para José que entrou por último e disse:

- Me espera lá dentro, quando você menos esperar eu chego. - disse enquanto beliscava a bunda de José.

José riu e adentrou a festa. Lá dentro era outro mundo, luzes multicoloridas iluminavam o lugar e pareciam dançar sobre as paredes. Tinha uma pista embaixo e logo acima, subindo uma escada, tinha um segundo ambiente com outra pista um pouco menor e alguns camarotes com visão dupla da pista superior e inferior. Ella entrou em um camarote e chamou o garçom dizendo:

- Traz três Gins Tônica, por favor?

- Claro madame, já volto.

Ella tirou o casaco e já começou a dançar ao som do que parecia ser Icona Pop, em uma musica que falava sobre tratar os dias úteis como final de semana, e ela sentiu que era a sua música mesmo. Via seus amigos se divertindo e se sentiu minimamente feliz por tudo que ocorreu em sua vida nos últimos anos. Ela trabalhou muito até ser contratada pela Genz, e agora estava aproveitando tudo que aquele cargo lhe dava. O tempo de sofrer finalmente ficou pra trás, a única coisa que ela não podia fazer era amar de novo. Todos que havia amado de alguma forma deixaram-na e só ela sabia como doía aquilo. Então ouviu a voz:

"Hoje não é dia meu amor..."

Ella olhou para os lados, mas sabia que não iria encontrar a fonte da voz, embora ela soubesse exatamente de quem era.

- Todo dia ainda é dia, até parece que você não sabe. - disse Ella em voz alta.

- Você ta falando com a gente? - perguntou Susanne.

- Não Susie, só disse que preciso ir ao banheiro. - disse Ella desconversando.

Nisso Ella riu pros amigos e saiu em direção ao banheiro. Sabia que não podia falar pra eles que ouvia a voz do seu marido que havia morrido há 10 anos. Em nenhuma situação ouvir vozes podia ser considerado normal, além do que ela mesma achava que aquela situação era um pouco triste, afinal ficar se prendendo a uma relação inexistente há mais de 10 anos não tinha nada de construtivo, mas hoje não era dia de ficar triste.

Estava na fila do banheiro e podia sentir a vibração do local dentro de si, aquele mundo de pessoas se divertindo e sendo feliz, ignorando os problemas por uma noite enquando ria e dançava. Ela própria fazia isso vários dias durante o mês e gostava da vida que tinha. Então entrou no banheiro, fez xixi, lavou as mãos e saiu. Quando saiu do banheiro resolveu ir para a pista de dança um pouco, rebolar, dançar e libertar seus demônios internos. Ela gostava de dançar e não se importava de entrar na pista sozinha para mexer seu corpo ao som das músicas do momento. Enquando fazia isso sua vida era leve e tranquila, dançando assim ela sentia que ninguém estava lhe controlando, afinal sempre gostou de dançar como se ninguém tivesse vendo. Depois de um tempo dançando sentiu um esbarrão em seu corpo, quando virou para olhar o que havia ocorrido, viu um homem lhe olhando com olhar de perdão já.