Ella acordou as 7h, fez um café, ligou a TV e subiu na esteira, hoje ia correr indoor, estava chovendo e não queria iniciar o dia pegando chuva. E então correu, correu até suas pernas ficarem dormentes e formigando, depois sentou-se e respirou calma e profundamente, sentindo o sangue correr com certa violência em suas veias. Aprendeu a amar a corrida, era um momento só seu onde podia organizar seus pensamentos, e embora saísse quase morta, precisando de uns minutos pra alma voltar para o corpo, sentíasse super disposta quando tudo encerrava. Enquanto tomava banho, pensava na reunião que teria mais tarde e sentiu-se um pouco nervosa.
Ella acreditava que a Genz já tinha chegado no patamar de poder negociar com grandes marcas, afinal já estavam em mais de 5 países e em franca expansão. Porém, dessa vez era a Ferrari, quase um sinônimo do automobilismo! Ella conhecia parte da fama da scuderia e entendia a quase religião que despertava em seus torcedores. Diziam né que a primeira letra que as crianças italianas aprendiam a escrever era F e a primeira palavra que falavam era Ferrari. Ella conhecia pouco das categorias de automobilismo, sabia que existia f1, f2 e f3, porém não era uma telespectadora assídua, tanto que nem sabia quais eram os pilotos atuais. Mas se existia uma equipe que ela podia dizer que torcia, mesmo que dá sua forma própria, era a Ferrari e talvez por esse motivo ela estava nervosa. Então resolveu aplicar a técnica que tinha aprendido na terapia, que ela denominava: pior cenário possível. E nessa situação o pior cenário possível era a scuderia não aceitar fechar contrato com eles, e nesse caso, nada mudaria, ninguém morreria e ninguém seria demitido, tudo continuaria exatamente como está. Nesse pensamento Ella se acalmou um pouco e conseguiu se vestir e sair para enfrentar o dia de trabalho, quando chegou na empresa, um copo de café lhe esperava na sua mesa.
- Ah, Susie, não sei o que eu faria sem você! - Ella exclamou
Sentou em sua mesa e resolveu despachar uns documentos que estavam pendentes, propostas de compra e venda de tecidos, e outros assuntos. Já passava das 9h, então pegou o telefone e chamou Susanne e José para uma reunião rápida e em alguns minutos ambos estavam em sua sala.
- Bom, vamos alinhar os detalhes para a reunião hoje á tarde... Que horas será Susie?
- Ás 15 horas.
- Ótimo, e você tem certeza que eles virão até aqui?
- Sim El, eu confirmei com eles ontem á tarde, os representantes estão na França e disseram que poderiam passar aqui para nos ouvir. - disse José.
- Susie, prepare suco, café e alguns tira-gostos pra reunião, esses italianos vivem comendo e não quero ninguém passando fome aqui. Ah, e também peça pra equipe de limpeza dar uma conferida na empresa, para passarnos uma boa impressão. Última coisa, as amostras dos tecidos já chegaram?
- Sim, já estão na sala de reuniões com identificação. - Susie assentiu.
- Bom, acho que está tudo pronto então. Tô com medo, não vou mentir pra vocês, não consegui comer nada ainda, acho que nem irei até a noite. Mas ter vocês aqui me traz um pouco de paz pelo menos. - Ella disse pegando na mão de ambos.
- Você sabe vender o nosso produto muito bem, tem carisma e sabe se portar em reuniões, se não falasse eu não perceberia que está nervosa. - disse José.
- Verdade El, tenho que concordar com o José. - disse Susanne apertando a mão da amiga.
- Obrigada seus lindos, amo vocês. - Ella disse.
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Ás 14 e 30 foi pra sala da reunião se preparar e esperar. Ficou sentada lá esperando os representantes da Ferrari que chegaram pouco depois dela, trazidos por Susanne.
- Ella, esses são os senhores Mário De Luca e Tommaso Arosi! - disse Susanne lhe apresentando os dos homens.
- Olá, sejam muito bem vindos, sou Ella Winth. - disse apertando a mão de ambos - Sentem-se e fiquem a vontade. Eu vou falar um pouco da Genz pra vocês e tirar quaisqur dúvidas que venham a surgir.
Ella falou sobre a Genz, desde o seu início, há quanto tempo trabalhava ali, capacidade de produção de peças, tipos de tecidos. A mulher amava falar sobre a empresa na qual trabalhava, porque confiava em cada empregado que fazia aquele negócio girar. Os italianos ouviram tudo atentamente, fizeram diversas perguntas e pareciam estar gostando de Ella.
- Você é presidente comercial da empresa aqui na França? - perguntou um deles.
- Na verdade, eu respondo por toda Europa, toda loja sediada aqui está sob minha responsabilidade comercialmente falando. - respondeu Ella.
- E você não é muito nova para ter uma responsabilidade tão grande?
- Eu tenho 38 anos, sou presidente há 9 anos, mas trabalho na empresa há 12 anos. Sou da Nova Zelândia e me mudei para cá atrás de novas oportunidades, desafios me atraem e me motivam a ser alguém melhor. Estou sempre buscando tornar a empresa mais competitiva e com mais qualidade. - disse Ella
- Achei que você fosse mais jovem, mas meus parabéns, você fala com um respeito e amor muito grande pelo seu trabalho. Nós entendemos seu amor por essa empresa, porque também temos muito amor por toda história da nossa. Afinal trabalhar na Ferrari é um prestígio. - disse Mário sorridente.
- Com certeza, a grandiosidade da Ferrari é algo que nenhuma outra empresa no ramo alcançou. Esse trabalho pra mim é a minha vida, ele me trouxe caminhos e pessoas completamente novas, além disso, amo o que eu faço. - disse Ella com orgulho.
- Bom, na verdade nós já tomamos uma decisão, mas temos um problema, preciso te dar más notícias.
- Não gostaram da empresa, tecidos ou preços? Me desculpem, se foi algo que eu falei... - disse Ella já sem esperança.
- Não, nada disso. O problema é que nos foi passado que vocês teriam uma proposta para fazer os uniformes dos mecânicos da Scuderia. - disse Tommaso
- Bom, sim, isso, mas não entendi a má notícia... - disse apreensiva.
- Nós queremos que você vistam os pilotos também. Gostamos muito da qualidade do tecido de vocês, especialmente os á prova de fogo, e queremos ver nossos pilotos usando os mesmos equipamentos dos mecânicos, pois não gostamos de vestí-los com produtos diferentes. Não sei se vocês poderiam arcar com isso também, exigiria maior trabalho, porque são macacões, camisetas, boné, sapatilhas. E além disso, precisamos toda estrutura pronta para daqui há dois meses que é quando começa a temporada. E uma última coisa, vamos lançar o carro novo no final da semana que vem, juntamente com os uniformes. Nós já temos o modelo que queremos, mas precisamos pelo menos de algumas peças para esse lançamento. Será que vocês conseguem preparar parte disso para semana que vem? - perguntou Mário.
- Claro! Fechando o contrato, nós conseguimos lhe entregar tudo em 5 dias, porque os tecidos estão na fábrica, então é só seguir o modelo e costurar. Eu vou me certificar de conferir de perto todo processo de fabricação. - disse Ella sorridente.
- Ótimo então Ella! Estamos de acordo, esperamos o pedido na nossa fábrica no prazo estipulado. E claro, você será nossa convidada para o lançamento do carro e uniformes novos, lhe esperamos em Maranello semana que vem. - disse Tomasso levantando e esticando a mão para cumprimentar Ella.
- Muito obrigada senhores Mário e Tommaso, os senhores não se arrependerão. E podem ter certeza que estarei na fábrica para prestigiar o lançamento! - disse Ella cumprimentando ambos.
Os homens saíram acompanhados por Susanne e Ella ficou na sala, extasiada. Sentou na sua cadeira e chorou sozinha algumas lágrimas de felicidade. Quando ouviu a voz dizer: "Eu sempre acreditei em você, meu amor. Você vai chegar muito mais longe ainda..." Ella chorou copiosamente, um choro misto de vários sentimento, um pouco de dor e de saudade, mas também alívio, felicidade e amor por perceber onde tinha chegado.
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Não mais do que alguns...
Fanfiction"Eu ainda te ouço! Como posso seguir assim?" Ella perguntou entre lágrimas. Então a voz respondeu: "Você sempre vai me ouvir, mas nosso tempo acabou e agora o seu tempo é com ele."