CAPÍTULO 23 - O QUE VAI DENTRO

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O foco no trabalho se mostrou um bom refúgio, buscando a todo custo evitar o turbilhão de emoções. Babi se via novamente refém das memórias em Londres, deixando-a mais confusa.

Na manhã que se seguiu àquela noite, acordou no sofá de casa com a boca seca e o braço, esticado até Jin, dolorido. Sem dúvidas não era a melhor posição para dormir. Girou com cuidado tentando desvencilhar o dedo dormente da mão dele, acomodando-o de forma a não acordá-lo.

Foram necessários três copos d'água para aplacar sua sede. Não faltava muito para ter de sair e sentia a cabeça latejar. A análise dos estragos surpreendeu-a, até que ele havia deixado as coisas em ordem depois de levar bronca. A lembrança do rompante por causa dos doces na madrugada a divertiu. Que papelão, Dona Bárbara, pensou. Mas de alguma forma, em vez de vergonha, sentia alívio.

Apanhou o casaco e o boné do rapaz encostados na poltrona, limpou-os e levou-os à janela para apanhar ar. Ainda precisariam ser lavados, mas ao menos tirara o grosso. Ouviu-o grunhir mudando de posição no tapete.

Jin a havia surpreendido de várias maneiras. De início, o viu apenas como mais um artista entediado, a usando como escape para fugir das responsabilidades e depois desaparecer. Ela não via problema nisso, contanto que se divertissem e chegassem ao trabalho na hora certa. Mas também não costumava dar muita abertura quando esse tipo de coisa acontecia.

No entanto, ele parecia se importar com o que ela pensava e, assim, desta vez sentiu poder se permitir baixar a guarda e retribuir a confiança. Mesmo se nunca mais voltassem a se encontrar.

Ao sair do banho, o cheiro de ovos mexidos tomava conta do lugar. Se não bastasse isto para perceber que seu convidado estava de pé, os sons nada ritmados das panelas o denunciavam.

— Bom dia! Você dormiu bem? — ele cumprimentou-a com um sorriso caloroso.

— Bom dia, alegria! Eu confesso que dormiria mais um pouco, e você?

— Eu preferia ter dormido numa cama, mas faço isso daqui a pouco no hotel.

Babi levou as mãos à boca. Nunca imaginou se emocionar tanto com uma declaração tão banal.

— Você vai mesmo pro hotel? Olha só, até arrepiei! — lhe mostrou os pêlos do braço.

— Você não vê a hora de se livrar de mim, né? — respondeu meio rindo meio fazendo beiço.

— Não é isso. Hoje é mesmo um dia importante e, querendo ou não, você estar perfeito no palco faz parte disso.

— Eu tô sempre perfeito. — fez uma pose com a mão no queixo.

— Você devia se ver no espelho agora. — ela discordou.

Comeram entre piadas e alfinetadas, rindo em sintonia como se estivessem acostumados àquilo. No entanto, era hora de ir. Mas antes de sair, Jin tinha um pedido. Com o violão em mãos, a encarou com o olhar cobiçoso.

Demorou um pouco para perceber de qual música ele falava. Não era a cantada nos bastidores, nem a apresentada com Neli, mas sim a que foi interrompida no bar. Sentiu-se um pouco nauseada ao lembrar do ocorrido. Odiava aquela sensação.

— Você tem medo de cantar em público, né? — ele disse se aproximando.

Ela arfou, sentindo-se sem ar. Não só odiava aquela sensação, como falar dela era outro tormento. Mas o olhar curioso e preocupado dele a encorajou.

— Medo, não. Pânico. — disse envergonhada. — A música sempre foi muito importante pra mim. Eu amo cantar e tocar, mas só consigo fazer isso entre quatro paredes. Hoje em dia até consigo tocar pra amigos e lá no pub quando tem pouca gente. Mas, como você viu, às vezes entro em parafuso.

Babá de Marmanjo | Longfic BTSOnde histórias criam vida. Descubra agora