𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 4

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𝐁𝐫𝐲𝐚𝐧𝐧𝐚✩

Magnólia foi até a delegacia. Eu decidi ficar em casa, não estava me sentindo muito bem. A escola enviou condolências e me deu uma semana de licença. Aproveitei para fazer uma limpeza geral na casa. Tirei o lixo acumulado na cozinha e várias garrafas vazias de bebida e maços de cigarro. Na sala, fiz o possível para remover o cheiro impregnado de nicotina, mas parecia impossível. Os únicos lugares onde o odor não chegava eram o meu quarto, o da Mag e o dos nossos pais.

Depois de passar a tarde limpando, minha barriga roncou, e fui procurar algo para comer. Olhei na geladeira: quase nada. Se eu não fosse ao mercado, ninguém iria. Peguei um pouco do dinheiro que guardava atrás do pote de arroz, troquei de roupa e saí para o mercado mais próximo.

Entrei no mercado e peguei o elevador para subir até o andar da loja. Antes de as portas se fecharem, um homem estranho entrou. Ele parou ao me ver e ficou me encarando. Senti um desconforto imediato e desvie o olhar, tentando parecer indiferente.

Os segundos no elevador pareciam durar uma eternidade. Pelo reflexo do espelho, vi que ele continuava olhando para mim. Quando as portas finalmente se abriram, saí primeiro, apressada, sem olhar para trás, embora estivesse intrigada com a atitude dele.

Peguei um carrinho e comecei minha lista: pão, besteiras, frutas e verduras. Quando fui pegar bebidas, percebi algo estranho. O mercado estava praticamente vazio. Quando cheguei, havia umas onze pessoas, e agora restavam apenas eu, o homem do elevador e uma senhora.

Fiz questão de ignorar isso e continuei. Peguei uma garrafa de leite e outra de água e segui para o caixa. Olhei ao redor e, nesse momento, percebi que só restava eu e a senhora. Isso está ficando cada vez mais esquisito, pensei.

Já no estacionamento, comecei a colocar as sacolas no carrinho e peguei o celular para chamar um carro. Foi quando senti uma mão no meu ombro. Virei, assustada, e lá estava ele — o homem do elevador —, parado, sorrindo de forma estranha.

— Oi, você quer ajuda? — Ele apontou para as sacolas.

— Oi... Não, obrigada, eu consigo. — Forcei um sorriso, tentando parecer educada, mas firme.

O sorriso dele desapareceu.

— Eu insisto. Deve estar pesado para você levar sozinha.

Antes que eu pudesse responder, ele pegou algumas sacolas.

— Você mora muito longe daqui? — ele perguntou, olhando para a rua. — Estou de carro, mas acho que você não gostaria de entrar no carro de um estranho.

— Bom, eu estava chamando um Uber, então tecnicamente eu já entraria no carro de um estranho. — Sorri, tentando aliviar o clima.

Seguimos em silêncio por um tempo. Ele acabou quebrando o silêncio:

— Qual é o seu nome?

— Bryanna. E o seu?

— Theo.

O nome combinava com ele. Apesar de parecer um pouco estranho, ele era bonito e tinha um sorriso que chamava atenção.

Chegando perto de casa, decidi que não seria seguro levá-lo até a porta. Ele já havia me ajudado bastante.

— É aqui. Obrigada, Theo. — Sorri discretamente.

— Tem certeza? Posso levar as sacolas até dentro.

— Não precisa, sério. Você já me ajudou muito. Obrigada.

Ele hesitou por um instante antes de me entregar as sacolas. Manteve o olhar fixo em mim por alguns segundos antes de finalmente se afastar. Esperei ele virar a esquina para me mexer.

Fingi que ia entrar em uma casa qualquer, mexendo nas chaves, até ter certeza de que ele não estava mais por perto. Depois, segui por um beco que levava à entrada dos fundos da minha casa. Não queria correr o risco de ele voltar e me ver entrando no lugar errado.

Quando entrei, Magnólia estava sentada no sofá.

— Por que entrou pelos fundos? — perguntou, franzindo o cenho.

— Era mais perto. E aí, como foi lá na delegacia?

Deixei as sacolas na mesa enquanto ela suspirava antes de responder:

— Disseram que foi uma briga de bar que acabou assim... Ou que ele foi assaltado e reagiu. Mas falaram que vão investigar. Pediram para eu ficar disponível pelo telefone.

— Eles não vão ligar. — Cruzei os braços, sentando ao lado dela.

— Eu sei. — Ela parecia exausta.

— Agora somos só nós. — Minha voz tremeu, e senti as lágrimas começarem a surgir.

— Já éramos só nós muito antes dele morrer. — Magnólia me abraçou. — Papai deixou de fazer parte das nossas vidas há muito tempo, Bry.

Ela estava certa.

— Quando vai ser o velório? — perguntei, enxugando algumas lágrimas.

— Amanhã. Alguns parentes vão aparecer. Você já sabe o que esperar.

Magnólia se levantou e foi para a cozinha.

Magnólia tinha 24 anos, e eu 17 — faria 18 em três meses. Isso significava que, em breve, não precisaríamos mais de nenhum parente se metendo na nossa vida, embora minha avó insistisse em vir nos ajudar.

Sabíamos que seria um momento difícil, mesmo que meu pai, depois de tudo, não fosse alguém digno de pena.

Fui ajudá-la a guardar as compras, enquanto ela preparava o jantar. Depois, subi para o quarto para tomar um banho.

No banheiro, tirei as roupas e entrei no chuveiro, pensando no dia estranho que tive. O homem do mercado, Theo, passou pela minha mente. O sorriso dele era tão marcante...

Perdida nesses pensamentos, derrubei o shampoo no pé. Reclamei da dor, mas não pude evitar um sorriso. Eu costumava ser mais prática, especialmente quando o assunto era homens.

Saí do banho, vesti um pijama longo, sabendo que Magnólia provavelmente traria o namorado para casa, como sempre fazia.

Desci sentindo o cheiro de macarrão. Era o prato que ela fazia melhor. Enchi meu prato e comemos juntas na sala. Quando terminamos, limpamos a cozinha, e logo John chegou.

Eles ficaram abraçados na sala enquanto eu subia para o meu quarto. Deitei na cama, exausta. Amanhã seria um dia longo e pesado.

𝐌𝐚𝐠𝐧𝐨́𝐥𝐢𝐚 𝐆𝐫𝐚𝐜𝐞 𝐌𝐢𝐥𝐥𝐞𝐫

𝐌𝐚𝐠𝐧𝐨́𝐥𝐢𝐚 𝐆𝐫𝐚𝐜𝐞 𝐌𝐢𝐥𝐥𝐞𝐫

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(Sem revisão)

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𝐖𝐡𝐞𝐧 𝐰𝐞 𝐦𝐞𝐞𝐭 Onde histórias criam vida. Descubra agora