𝑪𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 9

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•𝐁𝐑𝐘𝐀𝐍𝐍𝐀•

Entrei em casa e tirei os sapatos com um movimento automático, deixando-os no canto da porta. Meu corpo parecia pesado, como se a tensão do dia inteiro ainda estivesse impregnada em cada músculo. Sem perder tempo, subi direto para o meu quarto. Lá, tirei o vestido preto e a meia-calça, largando-os sobre a cadeira. Peguei minha toalha e deixei o pijama dobrado e pronto em cima da cama. Eu precisava de um banho, algo que pudesse, ao menos por um momento, aliviar o peso do dia.

A água quente caía sobre mim como uma tentativa de consolo. Fechei os olhos, deixando meus pensamentos vagarem. Hoje foi insuportável, o enterro ainda ecoava na minha mente. Toda aquela hipocrisia das pessoas ao nosso redor, aquele luto fingido, como se fossem santos intocáveis. Precisava descansar, mas o sono parecia algo inalcançável.

"Semana que vem começam as aulas..." A ideia me atingiu como um golpe. Era sábado, e só de pensar em voltar para a rotina, sentia um desânimo profundo se espalhar pelo meu peito. Suspirei e sacudi a cabeça, tentando afastar os pensamentos.

Saí do banho quando ouvi batidas na porta. Enrolei a toalha no corpo e voltei ao quarto, abrindo a porta. Mag estava ali, encostada no batente, os olhos cansados. Ela estava tão abatida quanto eu. Nenhuma de nós conseguiu realmente descansar desde a morte do papai.

— Oi, posso entrar? — perguntou ela, a voz baixa e rouca.

— Claro — respondi, dando passagem. Ela entrou e fechou a porta atrás de si.

Mag se sentou na beirada da cama, cruzando os braços como se estivesse buscando algum conforto.

— E aí, como você está? — perguntou, me observando enquanto eu secava o cabelo e colocava o pijama.

— Fisicamente cansada. Psicologicamente também. — Dei de ombros e devolvi a pergunta. — E você?

— Triste. Cansada. Acabada. — Ela suspirou, e o peso daquelas palavras parecia preencher o quarto.

Assenti em silêncio, compreendendo perfeitamente o que ela sentia. Mas logo, vozes distantes ecoaram do andar de baixo, me trazendo de volta à realidade.

— Eles ainda estão aqui? — perguntei, irritada. — Esse povo não tem mais casa, não?

Mag bufou e balançou a cabeça.

— É simples. Se a vovó tá aqui, os lacaios aparecem junto. Tia Raquel, por exemplo, tá insistindo que quer dormir no quarto do papai e da mamãe.

— O quê? Não! Diz pra ela que papai sumiu com a chave. Não deixa ninguém entrar lá — falei, me sentando ao lado dela, já sentindo a raiva subir.

— Eu falei. Mas ela mandou eu procurar a chave porque, segundo ela, não vai dormir no sofá "imundo" daqui. — Mag revirou os olhos, já perdendo a paciência. — Eu já tô começando a me estressar com isso.

— E desde quando você é empregada dela? — retruquei, levantando e começando a andar de um lado para o outro. — Manda ela procurar sozinha. Se não quiser dormir no sofá, que vá embora! Mas no quarto principal ela não entra, nem que seja a última coisa que eu faça!

— Relaxa, Bry. Amanhã eles vão embora.

— É bom mesmo. Porque, se não forem, eu mesma coloco todos pra fora.

Mag se levantou, abriu um sorriso cansado e me abraçou.

— Dorme um pouco, Bry. Vou preparar algo pra gente comer. Daqui a pouco te chamo pro jantar.

— Tem certeza? Posso te ajudar lá embaixo.

— Não precisa. Vou colocar aquele povo pra me ajudar. Se não quiserem, ninguém come. E se der ruim, compro algo só pra nós e deixo eles com fome. — Ela sorriu com um toque de ironia.

— Obrigada, Mag. Se precisar de qualquer coisa, me chama.

Ela sorriu novamente antes de sair do quarto. Tranquei a porta atrás dela e conectei meu celular ao carregador. Fazia uns dois dias que eu mal mexia nele, e com certeza deveria haver mensagens acumuladas. Mas eu não tinha ânimo para responder ninguém.

Deitei na cama e, sem perceber, o sono finalmente me venceu. Em segundos, fui consumida pela escuridão acolhedora do descanso que tanto precisava.

(Sem revisão)

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𝐖𝐡𝐞𝐧 𝐰𝐞 𝐦𝐞𝐞𝐭 Onde histórias criam vida. Descubra agora